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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O Adérito....


A D. Adosinda

O Adérito era um rapaz de vistas largas, pouco dado a essas coisas dos "ismos", que era da sua opinião, essas coisas, apenas complicavam desnecessáriamente a vida que de si, era já suficientemente complicada.... Era um "livre pensador e um tanto desbragado no que respeita ao linguajar. Achava ele que um bom calão, era sempre mais expressivo que frases de fino recorte. De que aliás seria capaz de produzir, não fosse o preferir as palavras vernáculas e mais expressivas.... Para que melhor se entenda, a questão era mesmo essa os palavrões brotavam naturalmente da sua boca como se de rosas se tratassem. Não havia acinte nem malévolas intenções nem cargas pejorativas, nem nada, era mesmo por uma questão de colorido. 
Ora estava ele com um grupo de amigos mais ou menos da sua igualha, num restaurant, a virarem uns copos e lamber uns peixinhos fritos com açorda d'ovas, de permeio com uma animada conversa, desbocada como sempre, que ecoava por toda a sala..... Eis senão quando uma senhora de negro e com penteado à "lady Di" com rugas verugas e pele de galinha, tipo "rata de sacristia" e viúva precoce, levantou-se e impertigada disse alto e bom som: não têm vergonha. Já uma senhora não pode estar sentada a comer sossegada sem ter que ouvir tamanhos palavrões.... O que ela foi dizer..... O Adérito, parece que levou um soco no estômago..... Pôs-se de pé, virou-se para a pindérica e assim disse:
- A senhora não tem ar de quem desconhece, que há um Mundo cá fora da sua casa asséptica que partilha por certo com um gato e um cão, ambos capados p'ra não fazerem banzé. Pois é minha senhora, cá fora é um pouco assim, logo pessoas como a senhora deviam ficar em casa a comer uma sandocha de "pipino" com um cházinho de urtigas branca, por causa da tosse, mas não se esqueça de arrotar comedidamente, para não ganhar ar na canalização, é pouco saudável e, não se esqueça também de mijar porque já está um bocado amarela.... "Alimpe-se" por baixo, não demais, porque é pernicioso e pode parecer outra coisa.... E vá para a sala ver a novela da TVI, não se esqueça também de verter uma lágrima de tanta emoção junta. E para abreviar.... Vá-se catar, minha senhora..... 
A mulher levantou-se e dirigiu-se a porta, enxofrada, mirou-o como se o fuzilasse e de nariz no ar e rabo alçado saiu para a tarde fria de Novembro. O Adérito chamou o dono do retaurant e estendendo-lhe uma nota de vinte €uros, dizendo: Óh amigo tome lá para recercir as suas perdas, a mulher por certo não ia pagar mais que isto....  E voltaram à galhofa habitual.... As "caralhadas" esvoaçavam como borboletas....
Assim se passaram estas coisas de que, testemunha serena fui, e, à qual nada acrescentei ou deturpei.... Fiel cronista que sou, destes e doutros costumes, da nossa bizarra sociedade.... 

                                                   António Capucha

                            Vila Franca de Xira,11 de Novembro de 2013

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