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Da primeira vez, quase não deu conta. Teve apenas a sensação de ter acordado de um sono profundo, com a vaga percepção de que tinha alguma coisa por entre as suas pernas ao nível do pi-pi…. Qualquer coisa que mexia de uma forma que ela não sabe explicar, mas que sentia dentro de si…. E criava uma incomodidade e confusão ao seu estado letárgico…. Acordou com a cabeça em desalinho, e percebeu um movimento ao seu lado de uma sombra que se esgueirava por entre as camas adjacentes…. Sentia-se suja e um desconforto que não sabia explicar fê-la chorar baixinho…. Esteve um bom par de horas acordada sem se atrever a mexer, os braços ao longo do corpo e os olhos no tecto de madeira pintada de branco e a reprimir a vontade de fazer có-có….
A bênção da manhã irrompeu pela camarata através da grande janela que ficava no topo da grande sala. Deixou-se ficar um pouco mais para que as suas amigas não vissem as roupas íntimas que haviam de estar sujas mais a camisa de dormir que tinha o seu nome bordado: Graça!!!!. Quando a primeira vaga de raparigas já se estava a vestir e a casa de banho começou a ficar desocupada, levantou-se de um salto e de soslaio mirou os lençóis, não estavam sujos, teria sonhado???? Foi para a casa de banho. Então fechou-se num “cabinete” com sanita e bidé e tirou as cuecas que estavam coladas aos parcos cabelitos pélvicos dos seus doze anos. Que raio de coisa seria aquela???? O rabito ardia-lhe um pouco mas não conseguia fazer có-có…. Lavou-se furiosamente, se tivesse uma escova usava-a…. A tal ponto se sentia, que queria lavar-se até à Alma esfregava-se quase até sangrar e aquela sensação de sujidade não passava… As lágrimas assomaram-lhe aos olhos… Chorava sem saber porquê e do que chorava ela, uma parte do seu cérebro projectava um manto negro e recusava-se a saber o que era aquilo…. Enxugou as lágrimas, vestiu cuecas lavadas, saiu para a área dos lavatórios, lavou os dentes e chapinhou água abundante sobre a cara até salpicar a camisola interior branca que cobria os seus incipientes seios….
Foi dali com as outras para a forma de onde iam ordeiramente para o refeitório para o pequeno-almoço…. Esforçou-se por tagarelar como sempre fazia, não fossem as outras perceber que havia seja o que for. A verdade é que uma sensação de vergonha vinda não sabe de onde e porquê, confundia-lhe o espírito juntamente com a sensação de estar suja…. Que não passava….
O dia de aulas correu aparentemente como sempre corria…. No seu ritual de campainhas e bons dias Sr. Professor…. Menina Graça! Leia o sumário de ontem….
O padre Celso, um ser pequeno e “rebolão” na sua enxúndia que tremelicava a cada passo que dava por entre as carteiras… Sempre de preto, parecia um pinguim gordo, até no andar…. E quando se debruçava sobre ela, empestava o ar com o seu hálito fétido de papa-hóstias… E devia mastigar alhos crus para aprimorar o cheirete….
À medida que a noite se aproximava um estranho pavor ia tomando conta dela. Disfarçou quanto pôde, para manter a coloquialidade das sua conversas com as suas amigas… Coisas de raparigas…..
Até que a hora de dormir chegou fazendo-se anunciar com a invariável campainha, e as ordens gritadas pela preceptora, uma aluna finalista…. Apagou-se a luz rolou na cana até à sua posição preferida, de lado em posição fectal. E, era como se estivesse no cadafalso à espera da machadada derradeira…. A sua cabeça fervia-lhe, galopavam pensamentos dos mais atrozes, estaria a passar-se? A realidade confundia-se com o sono que não vinha e o sonho que o não era. E então noite alta, sentiu, ou achou que sentiu qualquer coisa a deslizar-lhe por entre os lençóis. Um par de mãos sapudas tocaram-na puxaram-lhe a roupa para baixo e a camisa para cima…. Queria gritar e não saía som nenhum. Um cheiro a alho e azeite empestou o ar que respirava , sentiu na nuca um bafo quente e pesado. Uma dor no rabo, completava o negro quadro. Primeiro aguda, depois pesada e insistente e uma coisa meio dura meio mole ia e vinha…. Ela chorava baixinho sem sons, apenas as lágrimas e uma expressão de profundo sofrimento e os olhos arregalados…. Depois uma torrente de enxúndia emporcalhou tudo. E quando ele tirou aquela coisa, escorreu para as cuecas empapando-as. Sentiu-o sair da cama deslizar por entre as camas e deixou-a em lágrimas nos seus doze anitos…..
Não esperou pela manhã…. Foi para a casa de banho e chorou não tanto da dor, mas da vergonha e de novo aquela sensação de sujidade, de impureza. Ela não conseguia erradicar de si a culpa que sentia…. Pois se era ela e não outra que ali estava suja e culpada!!!! Lavou-se e enxugou as lágrimas. Saiu com o corpo limpo. Apenas a Alma estava negra e sorumbática, e isso começou a ser notado pelas amigas mais próximas…..
Quanto aos ataques nocturnos, continuaram…. “Aprimoraram-se” em criatividades doentias e devaneios sabujos do abusador….Ela, pobre pequena, por seu lado, fingia sempre dormir chorava em silêncio e esperava o fim…. Era a sua forma de não aceitar os acontecimentos.
E fez-se quase adulta assim sem conhecer nem rapazes, muito menos o amor…. A indiferença acabou por substituir o nojo….. E quando deixou a Casa Pia, estava pronta para ser mais uma Alma penada a vaguear pela vida.
E já é esperar muito…. Que referências é que ela tem? Não conheceu pai nem mãe. O abuso sexual ocupa o espaço que devia ser o do êxtase dos sentidos.
FILHOS DE PUTA. Roubaram-lhe a vida…..
António Capucha
Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2011
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