IPL Peniche |
Quantas vezes, sentado numa rocha junto à falésia do Cabo Carvoeiro em Peniche, algures entre a “Cruz dos Remédios” e a “Varanda de Pilatos”, nos Meses da Primavera entrando pelo verão até Agosto, que é quando o Sol se põe entre a “Berlenga” e o Oceano imenso à sua esquerda, ido da “Nau dos Corvos”. Sendo que Em Junho, e visto o espectáculo do meu pouso de vigilante da ordem das coisas: O promontório Norte do maciço do Cabo, o astro rei, pousa devagarinho no horizonte mesmo por detrás do farol da Berlenga Grande….
Com o rigor da métrica de um poema todos estes pormenores estão gravados em mim de forma indelével, a fogo. E sempre que o recordo, a sensação de paz de espírito de deixa andar, tão agradável, toma-me de assalto. E eu deixo, claro….
Que saudades de quando estava ali em cima, a casa virada ao mar…. Nem era preciso olhar pela janela …. O próprio ritmo das rotinas diárias me dizia que faltava pouco para o pôr do Sol…. E lá ia eu como que hipnotizado….O mergulho do Deus Rá no Mar, dia a dia um pouco, um tudo nada, mais à direita. Sempre igual e sempre diferente… Dias houve em que jurava ter ouvido o “Tssshhh”, do ferro em brasa a mergulhar na água, a que nem faltava a libertação de vapor sob a forma de nuvens entre o rosa e o laranja…. E quando era caso disso, alguns rolos de negrume por cima de tudo isto. Que coisa magnifica….. Que espectáculo sublime…. Gratuito…
Hoje…. Onde estava a casa está a Instituto Politécnico de Leiria, onde um grupo de jovens à rasca, não têm tempo nem paciência para reparar nestas coisas…. Uns a estudar Gestão, outros Biologia Marítima ou Técnologias de Pesca e também Turismo. Sei lá que mais…. Mas sempre à rasca…. Ainda se fosse para que gerações e gerações de jovens encontrasse o seu Norte, eu dava de barato o ter perdido a casinha cosida paredes meias com o palácio real de Poseidon que depois foi de Neptuno…. E era, até há bem pouco tempo, a República dos meus sentidos…
Para não passarem de “à rasca” qualquer lado enfiado num qualquer beco, lhes servia. E escusavam de me tirar o Sol poente como não há outro…. Há milhares de outros sítios muito mais centrais em Peniche. Muito mais ecessiveis para a estudantada que assim, tem que palmilhar uns bons dois kilómetros e meio até lá acima ao Santuário do Senhor dos Remédios fronteiro e que por muito que o IPL se estique e ponha em bicos dos pés, aquele há-de ser sempre o ex Libris local e o outro a coisa periférica, lateral, acessória…
Por acaso até tenho ideia de como foi feita essa tramóia toda…. Ora, tenho direito a um pouco de má língua, dada a natureza das perdas e danos irreparáveis que sofri…. A delegação do Instituto Politécnico de Leiria ali instalada. Surgiu acoplada aos resquícios de um colégio ligado à Igreja: “O Colégio Atlântico” falido por gestão danosa. A diocese de Leiria, lá fez o negócio em família, com o Instituto Politécnico de Leiria…. Este fez obras criou mais uns quantos edifícios e como o terreno é da diocese, ou camarário, é evidente numa das muitas voltas que o mundo dará e que o Sol se porá, um belo dia deixa de caber ali com dignidade o IPL e fica tudo por junto, e agradecidamente, para a igreja que reeditará um outro colégio que até se poderá chamar “Os Carapaus de corrida”. E eu é que fiquei a berrar e fui escorraçado para a cidade, longe do convívio dos Reis e Deuses com quem privava….
Se acham que isso não é razão????…. Que vale uns quantos rapazolas e mocinhas à rasca, com cara de quem quer ir à casa de Banho….. Com o que deixei para trás….
Contudo os Deuses não me abandonaram de todo…. Estou num sitio bonito com uma Deusa romana: Flora, que na mitologia romana, é uma ninfa das Ilhas Afortunadas. Esposa de Zéfiro( Deus do vento) e Deusa das flores. E como se isso não bastasse tenho vizinhos excelentes…. E eles, os rapazolas, continuam à rasca…..
Flora Deusa das flores |
António Capucha
Vila Franca de Xira, Abril de 2011
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