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Um caçador afamado, não pelas mesmas razões que as do nosso conhecido João Tabefe, que era de um instinto caçador verdadeiramente inato…. Este de quem vos falo (falar, aqui, é uma força de expressão) hoje, é afamado por ser, sem justapor seja o que for, aquilo que aos caçadores, pescadores e outros, é suposto serem…. .. Isso mesmo: Impostores.... E este é-o, e de uma imaginação digna de registo. Que seja pois, levado à posteridade mais este enriquecimento do nosso já de si, vasto património de “estorietas” de dimensão mais que a conta…. Pois este ser dotado de imaginação, relatava aos circunstantes ouvintes, uma caçada das arábias nessas terras que das arábias já foram, terras de charneca no nosso meio-interior Centro, e tanto assim é, que a terra tem o nome de uma das filhas de Maomé, Profeta maior do Islão. Dizia ele no seu ar distraído “como quem vai de caminho”, entre duas goladas de cerveja: É pá…. Vocês sabem lá o que foi aquilo…. Toda a Santa manhã, a correr montes e vales e nem um tiro demos …. Eu e mais doze amigos que cedinho, às quatro da madrugada, saímos de Lisboa. E em grupos de três, às seis horas já estávamos a gastar as solas das botas de caça… Umas daquelas sabem como são? Aquelas artesanais, em pele de vitela até meio da canela e sola de pneu, à prova de tudo, sabem que eu nessas coisas não facilito, é sempre do melhor!!! Bem onde é que eu ia? É pá ias naquela de terem começado a gastar solas. Áh pois, muita sola gastamos toda a manhã e nem um pardalito vimos, paramos ao meio-dia para almoçar. Sabem como é!!!! Um trazia um coelho estufado, outro uns pastelinhos de bacalhau e arroz de tomate e pimentos, Havia mais chouriço, paio, presunto, queijo de Idanha, vinhaça da Cartuxa de Évora e pão de Mafra…. A malta estava com “larica” e cheios de sede….. Foram dois vergas para ensopar aquilo tudo, como deve ser….. A coisa caiu-nos na fraqueza e cada um esticou-se para aboborar debaixo do Azinho, que estendia a sua frondosa sombra e o aroma das suas folhas e bolotas e tufos de “carqueja”, poejo e orégãos, inebriavam-nos de tal forma que dali a nada já estava tudo a serrar presunto….. Estava eu a “tirara água” com a “mona” encostada a uma raiz saliente da azinheira. Eis senão quando, não sei ao fim de quanto tempo, ouvi uma “restolhada” mesmo à minha frente…. Abri os olhos e vi um sacana de um coelhito a mordiscar umas ervitas… Sem deixar de o fitar, como quem aponta a caçadeira, estiquei o braço direito e sem ver, a tactear, agarro um pau. Atiro-o violentamente ao bicho….. E eu seja ceguinho senão foi assim!!!!…. Olhei de novo e vejo dois coelhos! É lá.... Eu não bebi assim tanto!!!! É pá, tinha agarrado noutro coelho e atirei-o ao primeiro e ficaram lá os dois!!!!!…. Fiquei doido de todo, pus-me aos “gritos e vivós”. Acordei os meus companheiros que abriram os olhos de espanto ao quadro que ali bem na sua frente se desenrolava, Eu de joelhos de braços abertos e um feixe de luz que furava a folhagem a incidir sobre mim. E aos meus pés, os dois coelhos de patitas esticadas que pareciam estar a rezar de mãozinhas postas…. E os seus olhitos sem expressão e parados, eram uma prece morta, a um vivo milagre….. Nesse mesmo dia nomearam-me o padroeiro dos caçadores…. E ainda hoje aquela árvore é alvo da peregrinação dos caçadores, pescadores e outros impostores…. Fica ali para os lados da Batalha. Uma região muito dada a estas coisas..... Eu caia aqui mortinho…. Se isto não foi assim!!!!!
António Capucha como Augusto Gil (mas ao contrário....)
Vila Franca de Xira, Março de 2011
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