Gente doce, há-as aos quilos… Muitas vezes, tal como na fruta, nem sempre o aspecto corresponde aos padrões que nos são impingidos como tal. Na longínqua Tinalhas, quando digo longínqua refiro-me a ambas as distancias: No tempo e no espaço. Como dizia, Tinalhas, aldeia beirã dos meus ancestrais maternos, que não visito vai para mais de cinquenta anos, se calhar porque receio estragar as memórias, o que seria uma pena.
Lembro a fruta pequenina luzidia, saborosa… E a gente linda e doce. Na sua autenticidade…. Mas isso sei-o agora. Ao tempo era impossível saber dos porquês que me lavavam a sentir-me lá tão bem… Não era só a família para quem nós, os netos, éramos o centro do Mundo de permeio com o trabalho ora doméstico, ora rural e onde as relações entre os crescidos não nos despertavam curiosidade nenhuma, porque absolutamente normais e espontâneas… Os maneirismos e hábitos colectivos e tratamentos entre pessoas, eram extensão da inserção individual no diálogo naturalmente permanente com a natureza que sem alarde era uma constante da cultura das comunidades populares do interior.- Já aqui aflorei este assunto no “post”: Manuel, o matador de cobras - A sua religiosidade não era para mim, ainda menino, uma coisa estranha, como era aqui onde cresci… Nada de grandes teologias. Era antes, mais um aspecto da grande, da esmagadora realidade daquelas pessoas, cédula pessoal da sua autenticidade, espontaneidade, bondade intrínseca…. Numa comunidade de sonho como aquela, lembrou-me há tempos o meu primo Zé Tó, era habitual a saudação: Santas tardes, Ou Santas noites…. Como dizemos todos religiosos e ateus: Adeus, sem pensarmos que nos estamos desse modo a entregar uns aos outros, aos cuidados de Deus… Este cumprimento é conjuntamente com o: Bem haja! Em vez do materialista: Obrigado. (como quem fica obrigado… Em dívida) Uma das pérolas daquele tempo e daquelas terras, distantes como disse. Bem haja é o verdadeiro espírito do Obrigado resultante do usofruto da bondade recíproca. E o mesmo é verdade para a expressão: Santas tardes… Quer intensamente dizer aquilo que inegavelmente parece. E é também expressão da bondade como dado inquestionável da cultura que brota como musgo num muro de pedra…. Granítica… Já se vê….
Pecado e grande digo eu, foi tentar dar significados políticos a estas coisas e valores. Inferir daqui o Deus, Pátria e Autoridade, é abusar…. É violentar esta cultura de ternuras recíprocas…. Que raio faz aqui o termo: Autoridade? Eu que sei do que falo porque vi, ouvi e senti estas coisas digo que: vai aqui tão bem como uma viola num enterro. Como eu odeio estes pequenos e grandes aldrabões….
Desde a longínqua Tinalhas têm sido mais as aldrabices que as razões de júbilo…. Mas enfim homem de bem que julgo me fiz, passo por cima dessas coisas e não me deixo abater assim….
Resisto em nome de Tinalhas, do tio Manel; do tio Zé Vaz; da tia Odete; do tio António Da Avó Rita; do Avô Zé Vaz, da sua égua cor de burro quando foge, do Zé coradinho da camionete, da tia Lenita, da Tamarantonha… Do cão Nero, das galinhas que desancava com flechas de cana…. Sei lá que mais. Muito! O Mundo inteiro coube, sempre coube, naquela pequena aldeia da Beira Baixa….
Juro que é verdade!!!!!
António Capucha
Vila Franca de Xira, Maio de 2011
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