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terça-feira, 29 de junho de 2010

VARANDA DE PILATOS ou O CIO DO MAR II

Varanda de Pilatos

Estranha sensação, poderosa, densa, se bem que suave, assenhoreia-se-me dos sentidos. Julgo estar a dormir. Isto não passará de um sonho!?!? Não tenho a certeza. Os sentidos, parecem despertos. Expectantes... Mas!... Se o for!?!? Não quero acordar!
Tarde manhã ou noite, sei lá às quantas ando. Sei daquela sensação doce de abandono, de desprendimento. Ao redor, tudo parado.. A minha memória afectiva que paulatinamente me vai tomando d’assalto. Me domina, me polariza, oprime agradavelmente.... Tudo é muito difuso.
Reconheço esta matriz de emoções. Aliás, como podia esquecer!!!!
Vivi em tempos uma experiência, que sem saber exactamente porquê, (ou por outra, até sei!!!) me deixou tão indeléveis marcas, que esquecer, é coisa que está para lá do que posso querer.
O que não sei, é porque esperou até hoje para voltar a manifestar-se.
Tudo começou há uns anos num passeio pelo Cabo Carvoeiro em Peniche.
Estava com um moço e meu "cicerone" de circunstância, de visita aquela esplendorosa falésia. A dada altura, já junto ao cabo, vindos dos Remédios, ele disse:
- Ah, a VARANDA de PILATOS!… Venha!
Fui, mas logo recuei ante o que se me deparava. Aquilo é uma falha entre rochas, a escassos meio metro do bordo da falésia…Um degrau de respeito aí para uns trinta metros a pique sobre o mar.
A falha tem quatro ou cinco metros de profundidade. A oitenta centímetros do fundo de terra do lado do mar, está rasgada a varanda.
Uma escada de madeira, grosseira, desengonçada, liga o cimo ao fundo da falha. Faz vertigens! Petrifica….
Vá…. Venha lá! Desafia o rapaz que, já na escada desceu três ou quatro degraus e estica os braços musculados que se agarravam firmemente à escada. Inclina o tronco para trás e repete: Vá lá então…. Venha…. Vire as costas ao mar, não olhe para baixo, olhe para mim desafiou…. Desça um degrau de cada vez.…. Fui! Titubeante , mas fui…
Deslizei então para o espaço entre os seus braços, o tronco e a escada. Vá, isso, assim… O contacto com corpo musculado do rapaz deu-me segurança, calor. Rodei ligeiramente a cabeça. Procurei confiança nos seus olhos. E sorri, não sei porquê sorri…. Isso olhe para mim…. Não olhe para baixo.
Por breves instantes os hálitos de ambos fundiram-se, mas mais nada se fundiu. Foi breve felizmente, este momento de “equívocos”. Agora que penso nisso, não sei qual das desgraças seria maior…. Se cairmos escada abaixo! Se ceder ao encantos do moço!
Aninhada, ou engaiolada naquele abraço, venci o efeito vertigem. Sincronizando os movimentos com os dele, descemos com razoável segurança. O contacto físico, foi agradável, diga-se.
Afogueada, não tanto pelo esforço físico, mas sim pela sublimação do medo vencido de mistura com algum embaraço, reparo que ali na Varanda, os ruídos do mar rebentam-nos na cabeça. Efeito acústico curioso, hipnótico…. Ouve-se o silvo raivoso do vento sem lhe sentirmos a feia agressão. Diria ser mais uma carícia. 
Era o fim daquela tarde de Maio, linda, com um pôr de Sol que incendiava o céu e o mar. Até a cor parda dos rochedos se transmutou em cor de tijolo.
Extasiada não sei por quanto tempo – acho até que o tempo terá parado - sorvi pelas narinas, olhos, ouvidos, poros e tudo o que me liga ao exterior, toda aquela paleta de coisas, cores, sons, cheiros e tudo o mais.
Não me pude ver, mas devia irradiar uma aura fluorescente, tal era a sensação de felicidade plena, selvagem, que se apossou de mim.
O meu companheiro de aventura – aluno de Biologia Marítima, no Instituto fronteiro - desdobrava-se em explicações... Não sei quê…. A formação geológica, não sei que mais… As marés.....
Deixei-me envolver no turbilhão que docemente me subjugava... Deixei-me ir, sem sombra de dúvida ou de pecado, possuída em toda a linha, bem fundo, na minha alma, por aquela conformação cósmica.
Pobre rapaz..... Ou não percebeu… Ou não sei!?!?  Ele era novito, não imberbe, mas novito!! E bonito digo eu…. Coitado!! Tentava impressionar-me, mas quase não recordo o que ele disse. Tudo o que terá dito e feito ficou nas covas, abafado pela explosão que se deu em mim. Ainda hoje o pobre coitado, há-de pensar que eu sou distante ou petulante, ou… Sabe-se lá o quê... Esquisita….
Desde então até hoje, não tinha voltado a sentir aquela sensação de abandono, de entrega, de deixar-me ir no vai-vem hipnótico das ondas, no cheiro da maresia, nas asas da brisa acre/doce que me beija o rosto, na cor do pôr-do-Sol, nas nuvens em castelos coloridos. E a argamassa que tudo une: O MAR. Sempre o eterno… O largo e imenso MAR….  Grosso, gentil…A ribombar-me nos sentidos, a roubar-me ao sossego em que estou posta.
Assim, de mansinho, estas emoções roubam-me as rédeas do querer.
Deixo-me ir nesta avalanche de prazer que de inicio, se insinua tímida, leve. Para a pouco e pouco subir de tom até à “violência” rubra, que me leva a esfregar os joelhos um contra o outro.
O ventre em fogo e os seios hirtos, os tendões retesados. Um sem ter, nem ser de "dores que desatinam sem doer", varrendo-me qual nortada, de lés a lés.
Por fim, uma inundação percorre-me, como um vale é percorrido pela água que um dique não conteve... Torrencial, às golfadas descompassadas, em contra-ciclo com a respiração forte, e o bater acelerado do coração.
Então e sem me dar conta de esforço ou fadiga, tudo se vai desvanecendo, como a doce sensação de uma dor a ir-se.
Alargando o grande compasso, acerto o passo com o tempo. De sobra, apenas consolo, gratidão.
Passei então a mão ao redor, senti a frescura dos lençóis. Senti-me bem.....
Pouco a pouco vou "carregando" o controlo das coisas.  
Nos sons abafados pelos estores corridos, pressinto a Damaia a acordar.
O progressivo tomar de consciência, venceu por fim o torpor e...  É Domingo...
Viro-me, respiro fundo, e retomo o sereno sono, do qual não sei se alguma vez terei saído....

                 Estela Serrano



          António Capucha
Vila Franca de Xira Maio de 2009


domingo, 27 de junho de 2010

A gamela - segundo Norman Mailer


Soneto à "laminuta" do Vaz que é António....
Dedicado a um grupo de comensais, queridas amigas, entre as quais conto uma que...... Cala-te boca!!!

As comadres e amigas à volta da gamela.
Para disfarçar a sua fome perversa
Desdobram-se, inventam mil e um temas de conversa.
Diz uma de dentro da sua "armadura" de flanela.

Linda blusa, dispara, como te conténs nela?
A interpelada, em seus pensamentos imersa
Bambaleando a opulenta carne da zona inversa
Rosna em surdina: Escanzelada... Toda tu és canela.....

Então sem mais aquela, atiram-se ao assado
Hum!!... Querida, dá-me mais vinho, está excelente
Copo após copo, p'la ladeira das goelas escorrega.

Do seu devastador efeito, fica-lhes o rosto amassado.
Os olhos turvos e a boca, cada vez mais dolente....
Estalam risos...Ora....Depois se apanharão os cacos da refrega

António Capucha

Óh Senhor Aníbal!?!?

Óh Senhor Aníbal!?!?


Então, isto é que é cooperação estratégica? Se é , vou ali já venho!!!
Cooperação só se for com a sua própria estratégia. Que com a dos outros órgãos de soberania, especialmente com o Governo da República, não me parece.
E não é de ontem que a “descooperação” vem sendo a sua estratégia. Lembro-me do celebérrimo caso da espionagem a Belém, montada pelo governo, com escutas ilegais, personagens de mistério no “séquito” presidencial na Madeira…. Eu sei lá, isso foi p’raí o diabo a quatro…. Não terá sido apenas uma “estória” mal contada e deselegante. Foi sobretudo, e na minha opinião, apenas falta de jeito. Pronto… Há pessoas que não nasceram para isto. Não é dramático! Dramático é que os eleitores levem tanto tempo a perceber isso.
E sabe porque é que se nota muito que o senhor não nasceu para isto? É que não há memória de um Presidente da Republica, com tão mal disfarçado apetite por liderar os destinos da Nação. Nem tão artificial nas atitudes e declarações. O senhor, pessoalmente considerado, até pode ser boa pessoa, mas como político…. Já não se via um assim p’raí desde o De Gaulle…
Isto porque, segundo o que o senhor terá dito, os seus valores fundamentais são a honestidade a verdade e….. Desculpe varreu-se-me…. Hoje espera-se dos políticos mais do que “chavões”, tão vazios, como uma garrafa vazia…. E há lá coisa mais triste que uma garrafa vazia!?!?
Depois senhor Aníbal, desculpe que lhe diga, mas o que nós queríamos – o que eu queria – era um Presidente da República e não de um professor de cátedra, que de cada dez alocuções ao País, a onze, faz delas lições de economia para adultos, reclusos e Sargentos do quadro Geral de adidos…
Bom, isto assim não é para nós, desculpe a presunção de falar em nosso nome – do povo – nem é para si. O senhor sozinho, não vai lá, nem mesmo com profundos tabus, e como já deve ter reparado os seus indefectíveis, estão em debandada desde a treta do BPN. E o seu PSD - digo seu porque foi criação sua, antes era o PPD - também parece um tanto distraído do seguidismo devido ao seu “líder natural”, ou estarei enganado?
E já agora deixe que lhe diga que já no final do seu segundo mandato como Primeiro Ministro, o senhor até me fez pena. Com toda a gente à sua volta a amanhar-se à “fartazana”, como hienas. E o senhor refém, honra lhe seja feita, do seu apego à honestidade, verdade e… não sei quê.
Tal como o senhor disse a situação portuguesa é complexa, e como se não bastasse o alarmismo que a imprensa imprime à questão para suscitar fortes apetites de compra e consumo das noticias, o senhor também vem a terreiro dizer do pior da situação, e subliminarmente, sugerir que o reelejam. Olhem bem para mim, o meu ar honesto de quem fala verdade…. E…… não sei mais o quê….. Esqueci-me, como já disse. E até sou Professor de Cátedra em economia…
Tal como o De Gaulle alegadamente, conduziu a França á vitória sobre os NAZIS?!?!?…. Ou pelo menos, levou o exército francês à parada de vitoria dos aliados…. Não é bem a mesma coisa, mas fica bem…. O senhor já tem o mérito inquestionável de ter travado a inflação galopante nos idos anos oitenta e noventa do Século passado. Razão mais que suficiente para figurar na História. Embora eu pessoalmente ache que no que respeita a méritos, foram mais os tiros p’ró ar, ou no alvo errado, que os que acertaram na “mouche”. Mas isso são questões mais ideológicas que de outra índole. E como é evidente eu respeito esse género de diferenças.
Mas como ia dizendo, Para uma maioria segura da população, o senhor é tido como tendo sido um bom Primeiro do Governo. Não arrisque agora passar para a História, numa revisão em baixa - para usar uma terminologia que melhor conhece – Como o Chato das Conversas de Economia, Tal como o outro o foi das Conversas em Família…..
Mude de agulha. Faça sobretudo um favor a si próprio e saia pelo seu pé…..

António Capucha
Vila franca de Xira Junho de 2010

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A BANCA “RÔTA” II

Como a economia abrandou, seja lá isso o que for, os bancos, perdão… As instituições de crédito, numa “down” de negócios, resolveram assaltar o pobre do “cliente”, fazendo-se pagar por uma série de pequenos serviços, que sempre foram prestados como fazendo parte intrínseca da actividade bancária.
Apesar das enormes camadas de “markting”, como se de “make-up” se tratasse e dos hectolitros de chá sorvidos, quando cai a máscara, é que se vê a verdadeira essência das coisas. E NESTE CASO FOI A CARA DA AGIOTAGEM QUE EMERGIU. Sim…. Que por mais voltas que se dêem, é essa a base do negócio bancário. Muito mais sofisticado e regulamentado… Dizem! Mas é, o que efectivamente é: AGIOTAGEM.
E o que é que mais custa a um “prestamista”? São as “borlas”!!!!
Para ele o negócio tem um só sentido: o lucro. E o que não der lucro terá que ser banido do negócio. Ou incluído nele com um preço, Justo, já se vê…. Borlas é que não…..
Com o crise financeira a aumentar, ou pelo menos a não regredir, são hoje muito menos as chamadas oportunidades de negócios e é natural que a banca veja reduzida a sua liquidez. Então algum “criativo”, lembrou-se de que manter as contas dos clientes abaixo de um determinado valor, ou a zeros, tem custos adicionais. É obviamente falso… Custos tem, mas apenas os que são da natureza do negócio.
Mal, aqui neste particular, andou o Banco de Portugal, e as instâncias governamentais de defesa dos direitos do consumo, que passou uma esponja sobre o assunto, como se a actividade bancária não tivesse responsabilidade nenhuma no surgimento da crise, e generosamente aceitado este sofisma das “manutenções de conta” como uma forma de minimizar os efeitos da dita crise, que permite aos bancos sacar aos desgraçados:
- 5,20 euros para saldos entre 1.500 e 2.500 euros (inclusive);
- 10,40 euros para saldos entre 1.000 e 1.500 euros (inclusive);
- 15,08 para saldos iguais ou inferiores a 1.000 euros (inclusive). (valores por trimestre)
Espantoso… Não é?
O rigor sobre os clientes, só tem igual no “regabofe”, nas mãos largas, para os proventos das administrações…. Sempre em número de duas, porque apenas uma parece mal, é menor, sendo que uma é Executiva e a outra, um pouco mais decorativa. (o Conselho de Admin.)
No entanto, são ambas muito caras….
A natureza das coisas é terrível. Por mais que se tente disfarçar e por muito óleo de fígado de bacalhau que se tenha tomado em pequenino. Por muita polidez nos modos e sofisticação que se afivele, a velhaca da natureza, acaba por revelar sempre a verdade intrínseca, visceral, intestina do que se é. E, desculpem lá qualquer coisinha, mas no vosso caso é: AGIOTAGEM…..
Por detrás dos vossos mármores, da imponência das vossas sedes e das decorações nobres das vossas filiais, eu só vejo a vetusta, a obscura gaiola de um mesquinho agiota Judeu (o invejoso, o prego, o usurário) somítico e sumido por detrás dos seus óculinhos que não escondem antes reforçam, a avidez do seu olhar míope…


António Capucha
Vila Franca de Xira, Junho de 2010

A Banca “rôta”I

A Banca “rôta”I

Nós fiados na grandeza dos bancos… Quer dizer: Eu fiado na grandeza dos bancos, e vai-se a ver, afinal eles, os bancos, também não têm liquidez para os empréstimos que concedem. (aqui o termo concedem não é ironia)

O que eles fazem é pedir emprestado a outros bancos, lá fora, na pátria dos bancos, digo eu, bancos esses que suponho, também são avalizados por outros. Acertam os juros e os outros ganhos de cada um entre si, e o empréstimo é realizado. O sistema está tão bem oleado e ágil que até há normas e supostas regras….. Mas são só para quem, de chapéu na mão, pede que lhe seja concedido um “empréstimozito”, para-fechar-a-varanda-lá-de-casa-que-a-mulher-anda-sempre-a-chatear-com-o-estendal-da-roupa-a-secar-ou-melhor-a-não-secar.

Como uma procissão, este “Calvário” é seguido religiosamente. Acerta-se o juro (agora diz-se SPRED) que, apesar da rigidez das normas e regras, é a “olho por cento”. E o dinheiro aparece vindo não se sabe bem de onde, (também é só papel) e as coisas fazem-se…. As mais valias cumprem-se, e tudo corre sobre rodas.

Mas…. E quando as mais valias não existem? A obra para a qual se fez o empréstimo não se realizou, ou algo do género…. E não é raro!!! Sobretudo em mega-negociatas…. Como o volume de negócios é mastodôntico a coisa com o “barulho das luzes” disfarça…. Quando não!?!?!?

Bom aí conta o que de facto é importante neste negócio. Ou seja: O prestígio das pessoas e instituições (palavra muito em voga…. Até o Benfica é uma instituição!) envolvidas nas diversas etapas do negócio. Tudo gente acima de qualquer suspeita, bem encadernada, e temente a Deus…. Tão temente que às vezes até são da “ÓPUS DEI”… Bom….

Se a coisa der mesmo para o torto e a dívida não tiver qualquer hipótese de ser honrada, e até documentalmente se prove que não houve fraude dos clientes, a culpa foi claramente da gestão que na ânsia de apresentar serviço avançou com os negócios…. Bom, assim sendo, uns “rapazes” muito criativos, especialistas em “engenharia financeira”, (engenharia quê????) arranjam um nome solene, pomposo, chamativo para o tal empréstimo incumprido - mas isso não se sabe – e transforma-se o aborto num produto financeiro para ser vendido em bolsa…. Pois!

Ora esse produto com aquele nome e vindo de quem vem, é como uma traça brilhante para um camaleão…. As CMVM’S, para não parecerem parvos, ou por simples e pura venalidade deixam passar a coisa e os pategos em bolsa a bufar e espumar pela boca, salivam abundantemente na presunção da maior oportunidade de negócio, desde a “pólvora sem fumo” e do “tiro sem pum”.

O pior é quando alguém entre a cabeça e o rabo desta “pescadinha-de-rabo-na-boca”, resolve deixar escapar que aquele produto não representa coisa nenhuma….. É um negócio falhado. E se por acaso esse negócio estava difundido a nível mundial com milhões e milhões de acções vendidas em todas as bolsas?

Está-se mesmo a ver o que dá, não é verdade!!!!

Foi…. Foi assim que se deu a crise de que tanto ouvimos falar….

Algures entre a cabeça e o rabo deste peixe podre que alguns apreciadores dizem ser o “Sistema Financeiro Internacional” (a mim parece-me mais uma estrutura tipo MÁFIA com mais padrinhos que afilhados) explodiu a bronca que nos trás a todos de gatas.

Em boa verdade aqui não há inocentes….

A começar nos Sr.s Administradores. Como é sabido a maioria dos bancos, são estruturas privadas por acções e como é habitual o sistema de controlo de gestão é habilmente manipulado pelas maiorias que se formam para o efeito. Depende desses a nomeação das administrações que, como é evidente não se faz por concurso, nem por critérios de capacidade e competência. Critérios que são frequentemente substituídos pelo compadrio e “amiguismo” de forte tendência dinástica…..

Das prorrogativas da gestão privada fazem parte os prémios por cumprimento dos objectivos traçados. (traçados por eles próprios, já se vê…) e pela Assembleia Geral de Accionistas, controladas pelas tais maiorias que os nomearam…. Objectivos que não são os resultados finais, mas o volume simples de capital emprestado…. Espantoso!!!!)

É evidente que assim, o que vem a calhar às administrações, é que se concedam imensos empréstimos seja a quem for, sejam ou não de risco evidente, venham ou não a traduzir-se em resultados negativos. Depois “com o tal “barulho das luzes” lá se arranjará forma de mascarar os resultados não positivos.

São milhões e milhões como viemos a saber pela imprensa. E isto em relação às “chafaricas” nacionais, que a nível internacional nem sei dizer o seu valor em “numeral ordinal”….

Tudo corre muito bem, até não ser possível esconder a realidade, porque o volume do buraco já é várias vezes maior que o capital disponível. Ou porque uma das “comadres” se zangou e põe tudo a nu. (lembram-se do Jardim Gonçalves?)

Depois é atravessar o deserto. Os visados a sustentar que não senhor…. A CMVM, atrasada, a requerer para ontem uma auditoria…. O Banco de Portugal a lavar as mãos como Pilatos… (Ai….Ai…. Victor Constâncio…. Nunca pensei!!!) Entre “anjinhos” e “mafarricos”, desta “estória” mal contada, venha o Diabo e escolha… A imprensa é a única a “grizar-se” toda e valha a verdade, (eu não disse isto…. Foi um passarinho), a fazer o lamentável papel de moralista barato, como se nunca tivesse metido as mãos na “massa”…. Tal como nunca aceitou fazer de estafeta de lóbies…..

O que cronologicamente se segue é que se exige aos governos – que foi para isso que lhes subsidiaram as campanhas, que o Estado - nós, já se deixa ver – intervenha e salve a banca porque esta é o motor da economia e tal e coiso…. Ouve-se, até doerem os ouvidos, o coro de lamentos dos Ex Ministros, e outros “servitas” nos jornais e TV’s… Até os especialistas do costume bramam…. Pois é … O sistema não é perfeito mas os outros são piores…. O “vozerio” clamando por “medidas adicionais” vem de todos os lados, cerca-nos. É necessário garantir a disponibilidade do pagode para se chegar à frente, pela segunda vez…. A primeira foi quando o governo suportou a queda dos bancos. Claro, não suportou nada…. Fomos nós os contribuintes que o suportamos.

Não é por ingenuidade que simplifico a coisas deste modo. Não ignoro a complexidade destas coisas. Agora…. Também sei que a génese de tudo isto, assenta em princípios muito simples e singularmente primários. Isto é assim como a linguagem digital: cada “frame” contem logo à cabeça a sua identificação “genética”, a sua origem, digamos assim.

Por muito complexa que seja a operação, as constantes são:

1º - O lucro, é sempre o seu Norte, Sul, Este e Oeste. Objectivo de sentido único.

2º - Este facto é religiosamente omitido, tal como as mentirolas dos “putos”.

3º - Todas as envolventes extraordinariamente complexas, servem para controlar e sustentar por um lado o lucro e assegurar pelo outro, a mistificação deste. Muito esforço…. Muito esforço…. Tudo especialmente para si!!!! Claro que tem de ser pago pelo cliente….

É ou não extraordinariamente primário…. Quase infantil? Exactamente porque foi obra de homens e por “sorte marreca” dos de natureza mais ganânciosa e prepotente, logo primários.

Por muito que professores – Ex Ministros, ou não – nos queiram impingir a economia como uma espécie de Bíblia dos nossos tempos, esclareço que para mim, concedo-lhes ser a economia, uma “proto-ciência” e é um pau…. A não ser que alguma alma penada de entre eles consiga desatar o nó Górdio da distribuição de riqueza justa e a contento de todas as partes.

A própria UE, revelando a falta de visão dos seus chefes - os eleitos e os outros que nem por isso – comprovando essa cadeia de interdependência (Máfia), afadigam-se a inventar pequenas reformas ao sistema, por forma a mantê-lo na sua essência… Segundo o princípio mais que conhecido de que é preciso mudar qualquer coisa, para que fique tudo na mesma….

Aliás o exercício deste, ou de qualquer outra forma de poder, é rectilíneo, repetitivo quadrado e estúpido. (é verdade!!!…. Por vezes basta a violência!)

Complicado e a requerer habilidade, é fingir e suportar que não se trata de poder, de mandar…. É antes matéria do interesse comum….

E porquê? Porque é que esta estratégia mais que vista e já azeda, aparece sempre renovada e de cara lavada, como se nunca tivesse tido nada a ver com isto?

Quantas vezes mais será necessário acontecerem crises como esta para nós entendermos que gente desta apenas tem a aparência de decente…

A esta pergunta, impõe-se, digo eu, a seguinte reflexão: “Os povos têm a tendência para confundir sisudez com honestidade e competência.”

E esse é que é o verdadeiro drama…..

António Capucha

Vila Franca de Xira, Junho de 2010