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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Madalena




Madalena
Pela lei iraniana, uma mulher condenada ao apedrejamento deve ser enterrada até a altura do peito e golpeada até à morte por pedras nem pequenas nem grandes demais. As primeiras pedradas rasgaram-lhe a “icharb” deixando os cabelos a descoberto o que lhe acentuou a vergonha a somar à de ser suposta adúltera.
Um rapaz de tez queimada mas que se via não ser árabe, porque era loiro, rompeu por entre os executores e parou junto à mulher e abrindo os braços disse: STOP, FOR GOD SAKE… STOP!
Com o próprio corpo cobriu a condenada….
Sakineh Astiani abriu a custo os olhos e fitou-o bem no fundo daqueles olhos limpos e puros como água pura. Irradiavam doçura por todos os lados e a sua voz calma e doce fez-se ouvir de novo, sossega pobre mulher. E recebeu ele nas suas costas e um pouco por todo o lado as pedras que eram destinadas à condenada. As lágrimas dela queimavam-lhe o peito como se fosse lava. Aqueles breves instantes pareceram-lhe uma eternidade. Depois sentiu uma dor fortíssima na nuca e tombou sobre si sobraçando a mulher ou a parte do seu corpo que não estava enterrada, o seu corpo inanimado deixou de sentir as pancadas dos calhaus que os Homens “Justos” lhes atiravam. O sheik que presidia a lapidação ordenou: tirem daí o homem que nada temos contra ele e executem a sentença. Sem qualquer cerimónia os guardas islâmicos pegaram-lhe como num saco de lixo e lançaram-no na valeta contígua…
Os gritos da mulher rasgavam o silêncio dos algozes, apenas em surdina um ou outro pobre bruto, recitava versículos do Corão. Só se ouvia distintamente as pancadas das pedras no meio corpo da mulher que para alívio sobretudo dela e até dos que assistiam, já não ia durar muito. Deixou cair a cabeça para trás depois esta rolou sobre si mesma e ficou pendida para a frente com o queixo fincado no peito e os cabelos a varrer o chão.
Estava morta. E a honra do marido salva. Mas apenas a honra, que o remorso já começava a minar… Ali estava ele entre vivo e morto como num sonho e ela inerte. Aquelas mãos que o afagavam com uma ternura, os cabelos que negligenciava por sobre o seu peito enquanto o cobria de beijos…. E os olhos….. Mel preto, tãmras , tão doces que faziam doer….
E agora ali está ela, ela não. O que resta dela. Virou a cara de lado, não conseguia encarar com aquilo…. Que foste fazer, pensava. Áh não, mas agora podia voltar a andar de cara levantada era de novo um homem d’honra…. E prosseguiu o pensamento : Ora boa merda isso da honra…. Não voltarei a derreter-me lentamente, quando me deitava entre as suas coxas e a penetrava e ela me acariciava e me fincava as unhas nas costas quando o orgasmo nos rondava …. Uma deusa do amor…. Pensava! Estúpido!!!! É que nem sequer sei se me foi infiel ou não…. Estúpido. E os filhos, que ficam sem mãe…. Vão para a Madrasah e dalí ao Hesbolá é um pulinho…. Triste o destino dum pai….
Uma ideia começa a ganhar forma na sua mente enfraquecida. Pendurar-se alto e curto em casa, no seu quarto antes ninho de amor e hoje féretro do mesmo….
Isto era o seu pensamento que ora voava alto ora rastejava no pó… por fim repara na figura do estrangeiro caído na valeta….
Foram todos saindo do recinto e apenas ficou ele e o Homem que ninguém conhecia caído na valeta para onde o atiraram, um canito lazarento lambia-lhe as feridas.
Enxota o cãozinho e vai dali a correr à fonte onde molha um lenço branco e começa a limpar as feridas do rapaz estrangeiro. Este recobra os sentidos. E quando encara com o homem dá um salto para trás, ao que o outro erguendo ambas as mãos à altura dos ombros diz lá na sua língua de trapos que não, que tivesse calma…. Não queria fazer-lhe mal. Passado este primeiro impacto deixou-se tratar por ele, que em breve o ajudou a levantar e no seu Inglês macarrónico o convidou para um chá de menta.
Espalmando a mão sobre o peito exclamou: Muhammad. Ao que o rapaz ripostou: Zé luís.
Feitas as apresentações caminharam até casa do cidadão iraniano. Que começava a interrogar-se sobre a veracidade dos acontecimentos mais recentes. Aquela mulher que era, foi a sua, terá sido condenada por conjuntamente com o suposto amante o ter morto. Com efeito, estranhou que ninguém desse por ele, na arena de execução. Parou a estes pensamentos e recorrendo ao seu parco inglês pergunta:
- Are you see me?
- What????
- In earnest…. Are you see me?
- Of course I see you, Why ????!!!!!
Nada …. Nada, é só uma impressão….
Foram até ao bairro onde morava e subiram ao seu apartamento… Rasgaram o selo da policia e entraram
Enquanto a água fervia, o Zé Luis deambula pela casa e sente, dir-se-ia que, estava num cenário de um crime… E pensou: dois crimes no mesmo dia é demais…. Com este pensamento….
Subitamente acorda do pesadelo. Ao seu lado a companheira dormia como um bebé. Levantou-se devagarinho para não a acordar levou o portátil para a sala e respondeu ao “mail” que o convidava a assinar uma petição pública contra a lapidação da cidadã iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani. Subscreveu-a e voltou para a cama feliz, com a sensação do dever cumprido.



António Capucha
Vila Franca de Xira, Agosto de 2010

domingo, 29 de agosto de 2010

O país de pernas p’ró ar

O país de pernas p’ró ar
A avaliar pelo título parece uma “estória” infantil. Mas a verdade verdadinha é que quase o poderia ser não fosse o assunto ser tão penoso.
Comecemos então como começam as “estórias”.
Era uma vez um país, que é este nosso, onde, sem que muita gente se interrogue acerca disso, está tudo ao contrário do que seria lógico estar.
Começa logo nos eleitos para os cargos públicos. O Presidente da República desde que deixou de ser um militar, é agora o mais sisudo e parcimonioso dos candidatos. Que aliás não precisam de o ser - sisudos e parcimoniosos - basta que o pareçam e aguentem a máscara até serem eleitos. Alguns deles gostavam de ser Rainhas de Inglaterra, outros respeitáveis e paternalistas republicanos… Este que ora temos gostava de ser Presidente Supremo de todos os Governos formados e a formar, e, se possível, gostava de ter outro país feito só de Bancos e Bolsas e com um púlpito como o de César para ele perorar sobre economia e a sua inevitabilidade nos tempos que ora correm ou andam a passo, ou às “arrecuas”….. Livra!!!!
O primeiro Ministro, que não foi eleito para tal. Quando muito tê-lo-á sido para Primeiro Deputado e é um pau. O que nós votámos foi numa lista de candidatos a deputados e um Programa eleitoral. Teoricamente a Assembleia da República controla o governo e zela pela aplicação do programa eleito. Pura ficção!!!! O Governo cujo é comandado pelo Primeiro Ministro que é simultaneamente o “controleiro” supremo do seu partido, é que controla a assembleia levando o seu grupo parlamentar de apoio à servidão mais indigna. Claro que se algum deputado não concordar é corrido e substituído por outro que esteja normalizado.
E a oposição, não é melhor…. É nesse aspecto a mesmíssima coisa mas sem Governo….
Depois basta falar num tema ao acaso e veremos que está tudo invertido.
A saúde.
A saúde não é controlada por quem a paga e dela precisa. É controlada pelos médicos,(que são em geral quem lucra com a saúde), e todas as suas organizações corporativas… Até o Ministério é controlado por eles, ao qual se acrescentam, naturalmente, as vicissitudes e “pulhices” da política.
O mesmo acontece no ensino.
O que se passou recentemente não foi mais do que uma luta sem regras, entre a necessidade de mudar as coisas e a manutenção do poder dos professores no ensino. Mais corporativismo portanto. O professor autoridade, versus, professor formador.
Os militares.... Esses são, claro, os controleiros da defesa nacional e apenas aceitam a intromissão comedida do Presidente da República… Claro que os canais de compra e venda de logística está nas mãos de um “escol“ de altas patentes, igualmente altas na sua venalidade. Bombeiros, Proteção Cívil, e tal sofre tudo da mesma enfermidade, (e estão aliás infiltrados por inúmeros militares)
E da justiça valerá a pena falar da justiça. A justiça ao invés de ser um direito da população é uma coutada privada dos Sr.s Dr.s Juízes que tal como todas as outras corporações apenas aceita controlar um aparelho à medida dos cargos que satisfaçam toda a sua gente e fecha-se a tudo o mais. Agora mais recentemente desvendou-se a infiltração política no aparelho da Justiça, e como não deu tempo para inventar um, ou uns, órgãos a isso destinados, deu-se a volta à questão e assalta-se o Sindicato fezendo eleger os seus e depois a partir daí disparar pauzinhos na engrenagem. Numa espécie de auto-fagia é de dentro que partem as infiltrações e se subverte a justiça.
Uma coisa que trespassa todo este espaço de incoerência é o princípio das competências.
É assim: Em qualquer curso com classificação final. estabelece-se uma hierarquia de qualidade provável, digamos assim, que isto de notas de cursos, diz pouco da qualidade e competência dos futuros profissionais. Mas a verdade é que aos teoricamente melhores, o sistema reserva-lhes os lugares mais sossegadinhos e de menor exigência. Ao passo que aos outros tidos como menos bons, levam com os lugares difíceis. Ora isto apenas concorre para perpetuar o atraso destes.
No tempo da guerra colonial, que era para ganhar no dizer dos sabujos(cães de fila) de então, os primeiros a ser mobilizados eram os de nota mais baixa, sendo que os melhor classificados, nem chegavam a ir à guerra, que juravam eles a pés juntos, era para ganhar…..
No ensino é o mesmo, para as escolas problema vão os do fim da escala, quando deviam ir os melhores, se é que se quer recuperar esses estabelecimentos de ensino. Mas não…. As coisas estão feitas para satisfazer os interesses corporativos e não o ensino….
E é assim em tudo neste abençoado país. Concursos públicos ou privados, cursos escolares ou de formação profissional…. Tudo…. Se calhar até na religião…. Os padres sabatínicos, quadrados, belfos, manetas, aleijadinhos da cabeça, ficam com as paróquias de zonas pouco desenvolvidas ao passo que os mais desenvoltos, - não sei como, mas há-os - ficam nos grandes centros a darem entrevistas à televisão.
Enfim coisas!!!!!!
E por favor não me digam que exagero……

António capucha
Vila Franca de Xira, Agosto de 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Segredos

Guardadas às sete chaves a nossa natureza tem fechadas, ainda, as maningâncias genéticas que fazem de nós aquilo que somos. Embora sejam também génes, os responsáveis pelo aspecto fisico, o sexo, cor disto e daquilo, ou aos traços mais evidentes do nosso carácter, não me refiro a estes… Aqueles que levam as vizinhas a adivinhar logo mal nos olham ainda pimpolhos cegos como toupeiras, e por isso sem expressão, mas elas lá vêem o que mesmo com muito esforço eu não consigo enxergar. Que tem os olhos do pai e a boca da mãe. E o curioso é que estão todas de acordo, mesmo se alguém diz exactamente o contrário.
Seja como for, no mais recôndito de nós mora o que nos diferencia e aproxima. O que nos faz inquietos ou serenos. Estúpidos ou sagazes. Curiosos ou distraídos.
E esse tipo de coisas vêm de longe das origens mais remotas. Onde a natureza com paciência de escultor vai lapidando ao longo de gerações e no permanente diálogo com o meio circundante, como num enorme jardim d’infância onde os genes aprendem como, e para onde mudar.
No meu caso as minhas origens por o lado da mãe são beirãs. De uma Aldeia chamada: Tinalhas que tão mal e tão bem conheço. Tão mal porque numa rápida passagem pela wikipédia, há pouco, fiquei a saber um sem número de coisas que obviamente me escaparam ao outro lado do conhecimento quase profundo e que tem a ver com os afectos entre mim e esses locais e pessoas.
Igreija Matriz Tinalhas

 A minha outra metade tem a âncora nos lodos do Seixal, onde a família do meu pai vive há gerações.
Seixal
Depois os meus genes Já capazes de aprender vieram para o Ribatejo quase Estremadura e ainda por cima com largueza de vistas para o Tejo e a Lezíria Grande, de Vila Franca de Xira. Que os meus olhos, dizem que bonitos na altura, viram mudar de cor ao longo do ano. Do castanho forte das terras lavradas, passando pelo verde da sementeira até ao amarelo ondulante da seara madura culminando no laranja infernal do fogo a que os meus olhos atónitos assistiram num belo Verão dos anos cinquenta do outro Século, claro…
Lezíria e ponte de V. F. Xira
 O que os genes foram capazes de aprender já foi transmitido a dois paraquedistas (afinal eles vêem do Céu, não é? É o que dizem!!!!) e estou certo que será a partir dessa herança que eles se irão definir. E à partida já são mais ricos do que eu, pois têm o que eu sou, mais o que lhe vão acrescentar por conta própria.
Fundir o granito todo poderoso com o lodo e o cais do Seixal. O avô Zé Vaz montado na sua égua a voltar para o almoço, de Peixinhos da Horta, entrelaça-se com o meu outro avô Augusto, pescador reformado com o eterno sorriso como que gravado em granito…. é um cozinhado apenas possível a este nível da natureza humana…. Mas é também natureza portanto natural e não outra coisa qualquer. É assim que vejo estas coisas. E não sei se é aos Granitos beirões, se aos lodos do Seixal, ou aos Horizontes da Lezíria que devo este hábito de procurar a verdade explicável das coisas, Não excluindo qualquer outra versão…. Muito menos a criticar seja quem for por pensar ou ser, isto ou aquilo. E isto para manter a coerência. Não sei se se nota muito, mas de uma forma ou de outra eu acredito que cada um de nós foi trazido a ser o que é…... E é preciso muito mais do que acreditar nisto ou naquilo para se ser responsável por isso.
Nada disto é taxativo ou estanque…. Mas quem quiser estabelecer regras em relação a esta matéria que o faça. Pelo meu lado não me atrevo a tanto.
Só queria dar-vos conta destes traços que não estão no meu perfil, mas acredito, é onde monta o meu ser. Mais do que sei e posso dizer. Mais do que alguma vez alguém venha a entender....
Felizmente, não é proibido perorar sobre o assunto, nem pode daí, vir algum mal ao mundo. Peroremos então!!!!
António Capucha
Vila franca de Xira, Agosto de 2010

domingo, 22 de agosto de 2010

Fácil

                                                                    


 
Antes do enchimento da Albufeira do Alqueva, foi feito um levantamento arqueológico pois sabia-se da existência de gravuras rupestres nas margens do Guadiana. Deslocou-se para o local um grupo de arqueólogos de primeira linha. O levantamento e registo corria muito bem, quando deparam com uma figura cuja datação deu ser contemporânea das restantes, no entanto a temática era completamente atípica para o Paleolítico.(Figura acima)
Intrigante, não é?
Pois é.... Foram contactados os maiores "experts" a nível mundial.... Por aqui, isto é: pelo Alqueva, passaram os maiores crânios da Arqueologia, da História, Antropólogos etc....etc.... E nada.... Nunca ninguém "havera" visto nada de parecido.....
Em desespero de causa a Directora da equipe, uma Dr.ª de Coimbra, resolveu que se não havia História do assunto talvez que na população local restasse algum resquício cultural que lhes desse uma pista. Olhando de relance reparou que um pastor andava, andava!?!?... Não! Estava ali nas imediações da área de pesquisa! E diz de si para si: Não é tarde, nem é cedo! E vai-se dali direita ao homem.
Boa tarde bom homem, disse....
Boa tarde, não.... Bom dia, que ainda "nã" almocei! E esboça um sorriso malandro.
Sabe que estamos ali com um problema com uma gravura. É que não entendemos o que é que ela quer dizer. Importa-se de ir lá vê-la e, quem sabe.....
Olhe convido-o para almoçar connosco.
"Tá" bem então, desde que "na" seja p'raí sandes e "smóles".
Fique descansado.... Peço ao cozinheiro que lhe prepare um ensopadinho. Está bom assim?
Vamos lá então!
E foram. O grupo de sumidades rodeou o alentejano como quem investiga uma peça Inca. E gerou-se como que por magia um anbiente de enorme empatia. O pastor era um figurão e tanto, tinha resposta para tudo e era com tal naturalidade que confessava a sua ignorância, que ao cabo e ao resto mais parecia um "doutori" em sabedoria.
Depois de se ter batido com éne discos de ensopado e ter empinado uma garrafita de Borba, pondo-se de pé disse: "Atão" ond'e que está essa tal coisa?
É por aqui Sr. Mateus. E ele seguiu um tipo assim dando ares de Indiana Jones.
Aqui está ela.
O compadre Mateus puxou o boné para trás, coçou o "bestunto" e jovial pergunta. É isto que "vossemecês" não sabem o que quer dizer?
É, responderam.
É que está bom de ver.... Óh senhores reparem lá bem.... O qu'é que é a primeira coisa? A mim parece-me um carro. Mas.... Não só... falta-lhe ali qualquer coisa..... (faz lembrar o Poirot, não faz?)
Pois é, repara o "Indiana"..... O carro não tem portas!
Exactamente, diz o compadre.... E o segundo desenho, o qu'é que será?
Uma casota de cão, Sim interrompe o alentejano.... mas os animais selvagens dormem "aondi"?
Numa toca responde a Srª Directora...
CertÍssimo solta o exultante Mateus.
Bom o terceiro boneco não oferece qualquer dúvida... É uma???? .... Mó.... Respondem em coro...
E o quarto boneco "atão" aos Sr,s que são Dr.s .... Está de caras....
É um animal?
Ou seja, estará melhor se for um bicho. Se virmos tudo de seguida está resolvido o enigma.

   Vejamos: SE NÃO TEM PORTAS........TOCA........MÓ.........BICHO
Ou melhor:
- SE NÃO TEMPORTAS, TOCA-M'Ó BICHO....
E teriam poupado um almocito se me tivessem perguntado o qu'e a gente cá na terra diz às patrôas, quando elas estão c'aquela coisa e a gente lhe apetece "brincadêra"!!!!!

António Capucha
Vila Franca de Xira, Agosto de 2010

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Dupla de Mários de respeito.....



Desculpem lá qualquer coisinha mas isto é do melhor que há.....
Duma assentada o Mário Henrique Leiria e o outro Mário, o Viegas.... Ando a tropeçar umas coisas...... 
Aqui fica o agradecimento ao youtube....

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Morra ele, morra..... Pim

Tropecei (juro que tropecei mesmo!!!!) num tal Manifestto Anti-Cavaco de Mário Viegas baseado no manifesto Anti-Dantas de José de Almada Negreiros, poeta d'Orfeu futurista e tudo.... Foi publicado no facebook por uns tais:
José MANIFESTO ANTI-CAVACO

E

POR EXTENSO

PELA U.D.P

UNIÃO DE POETAS

“DA ESQUERDA A VALER”

HUMORISTAS, FUTURISTAS,

REVOLUCIONÁRIOS

E

BOA GENTE E TUDO
Reporta a coisa à primeira República do "Cavaquistão" e seus serventes e utentes. O que tem de comum com esta segunda República é que o Cavaco é o mesmo. E se mudássemos os nomes aos utentes e serventes de então pelos de agora, veriamos que havia o mesmo para dizer e no mesmo estilo e tudo.....
O que é que isto prova?
Prova exactamente que pese embora os tempos e as circunstâncias serem outras, basta a presença comum do Sr. Professor Dr. de Econometria Analítico Purulenta e da Água-Benta, Sebenta.... para que a mesmissima bagunça, falta de jeito, de éctca, de cultura, (política e da outra) e exactamente a mesma máscara de civilidade mal disfarçando a avidez e a sede  "tântalonesca" de poder... Para que a cantilena seja a mesma....
Sempre alardeando um humanismo personalista cristão, abandonando-se à lisonja da sua proverbial mas nunca provada competência, (com os milhões que vinham às golfadas da Europa, Qualquer néscio fazia o mesmo figurão) deixa no entanto atrás de si um rasto de mortos e feridos de morte. Que o digam o Dr. Fernando Nogueira, ou mais recentemente o Dr. Santana Lopes. Todos (é que são mais) imolados na mesma fogueira.... A da vaidade "Anibalesca".....
Mas vão lá....
Escrevam na barra do googlle.: manifesto anti-cavaco e "prontes". Aviso já que é muito verruminoso.... Mas tem a autoridade do Mário Viegas e é quanto basta.....

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O nandinho de Campolide

Campolide
Campolide


O Nandinho era um rapaz da cidade, da mesma maneira que outros são do campo. Nada de especial nesse particular. Mas particularizando, era mais precisamente da Calçada de Campolide em Lisboa, circunstância que terá sido decisiva para, há uns anos ter deixado de fumar. (isso e a sua profissão que puxava um tanto pelo “caparro”, como adiante se verá)
Para quem não conhece, esclareço, que a referida calçada, que por acaso é asfaltada, para um dos lados requer algum pulmão para a subir e no sentido inverso, umas boas “travadeiras” para uma criatura não se “espalhar”.
Quando não havia televisão, sim que houve um tempo em que não havia televisão. Coisa difícil de imaginar mas tão verdade como estarmos aqui. Como ia dizendo, naquele tempo, à falta de melhor o nosso homem, então um rapazola, ficava horas à janela do seu primeiro andar a divertir-se com as “patinadelas” dos transeuntes, ficando o divertimento ao rubro quando alguém se estendia ao comprido. E então se fosse uma varina…. Com o seu cento de saias e saiotes pela cabeça e as pernas p’lo ar…. Isto, abrilhantado por um chorrilho de dizeres pícaros capazes de fazer corar um carroceiro. Então, é que era rir a bom rir…. Claro que o “Nandinho também não saía disto incólume…. A varina não se ficava pelo trambolhão e a subsequente risota dele. Na sua voz de pregão dizia: Olha lá ó puto dum cabrão, ‘Tás-te a rir de quê? Nunca “vistes” o buraco por onde “saístes”???? Filho da puta a rir-se!!!!
À cautela o miúdo recolhe-se e fecha a janela, mas fica de atalaia por detrás dos cortinados de renda que a sua mãe fizera para “queimar” os serões estéreis duma pobre viúva.
Quando saía de casa o moço, umas vezes p’ra baixo outras vezes p’ra cima, em pouco tempo fez a escola primária, o liceu e a faculdade do autêntico “skate” que era caminhar na calçada com as suas botas cardadas, para poupar as solas. Era um verdadeiro “expert”nessa coisa das derrapagens controladas. A outra escola é que…. Bem a outra escola ia…. Quem não ía muitas vezes, vezes de mais, era o Nandinho, para quem havia um sem número de coisas bem melhores para fazer, do que aprender aquela pimenta dos nomes das terras, dos rios e assim! E os Reis…. Fh… Fh….Fhfhfh… Nem vo-los digo…. Então não era muito melhor e mais proveitoso ir ali à Artilharia I, rondar o “putedo”? Ou ir ali para o fundo da calçada, e um pouco antes de Sete Rios, andar à pedrada com os gajos das barracas? Também tinha o seu encanto ir ali p’rá Rotunda morder as gajas que passavam, todas pintadas, muito vistosas nas suas saias travadas. E o bom do nosso Nandinho ficava por vezes circunspecto a imaginar se por baixo daquelas roupas bonitas, elas eram iguais às varinas lá da calçada… Mas isso era fugaz, depressa voltava à actividade que primeiro ali os trouxera: Morder umas gajas e dizer umas bacoradas….
À mãe do Nandinho, a D. Zulmira, toda esta árdua actividade paralela, passava despercebida. É preciso dizer que a pobre senhora, trabalhava de manhã à noite na pastelaria do “jeitoso” “A Florbela de Campolide”, ali a dois passos de casa, na rua de Campolide. Como já foi dito a senhora era viúva e com o seu magro salário tinha que sustentar-se e ao filho menor, pagar a renda de casa, água e luz ao implacável do “invejoso” que também era o dono da mercearia do bairro. Para ele o negócio ia de vento em popa e na exacta medida em que a desgraça se abatia sobre a maioria dos moradores. Tinha além das casas e como já se disse, a mercearia, a ourivesaria e à sombra desta, uma loja de penhores. E a coisa funcionava como um relógio…. Os habitantes deste bairro fadista, quando não, num impulsivo porque sim, compravam-lhe ouro aos magotes para botar figura no baile dos Bombeiros. Ouro esse que depois retornava ao judeu por conta do “cão” lá na mercearia, na “justa” proporção de um para dez, ou então, ao balcão do usurário que o reavia a troco da cautela e de meia dúzia de patacos.
…..Ahhhhh… Um anel de ametistas!!! Também…. Já fez o seu trabalho…. A Micas cerzideira até se roeu toda de inveja…. Ora, vão-se os anéis…. Diziam!!!
Outrora Feliz a Zulmira quando ainda tinha o seu Chico Mendes (que não era toureiro) e um bebé de caracóis louros, o embrião do nosso Nandinho, era a rainha dum lar, singelo mas onde o indispensável não faltava. Pese embora o Chico, fadista “pimpão”, de sapatos de verniz bicudos de “matar baratas ao canto da casa”, e cachené harmoniosamente amarrado ao pescoço, para proteger as cordas vocais, ter um sem número de despesas imponderáveis e inadiáveis que derivavam da sua arte de fadista vadio. Tinha que manter o sapatinho a luzir mil Sois, mesmo em dias escuros e o “cenário” bem escovado e vincado a preceito, encimado pelo cabelo cortado à faca e colado ao crânio com brilhantina e o bigodinho à esquadria, como o Errol Flynn. Categoria!!!
A Zulmira achava perigoso o resultado da soma da sua (dele) figura escultural, com o cenário irrepreensível – mérito dela, fada do lar! – a que se juntava o talento de cantor. As gajas até se atiravam para o chão quando o viam, e ele, claro, como Homem que era não se fazia rogado….
Ele era dela e ao toque de alarme, não se lhe dava fazer uma “escabechada”, fosse onde, e com quem fosse…. Era o seu homem e mai’ nada….
Mas um dia, sorte marreca, ele acordou mal disposto, ainda pediu os sais-de-fruto, mas apesar disso, a coisa empinou. Foi de “charola” para o Hospital de S. José. E foi-lhe diagnosticado um AVC agudo (vulgo “travadinha”). E “ficou a meter canela nos pastéis”. O que na linguagem do bairro queria dizer, perda de controle de um dos lados. Logo o braço correspondente ficava trémulo e abandonado como quem põe canela nos pastéis de nata. Dá para entender?
A Zulmira montou guarda à porta do hospital com o Nandinho ao colo, enquanto “ladaínhava” promessas às “Nossas Senhoras” todas, conhecidas e por inventar, por mor do seu homem….
O Chico saiu no dia seguinte de padiola e ela levou-o para casa e cobriu-o de ternuras e tratos de esposa extremosa. Mas ele coitado, que perdera o domínio da fala, balbuciava apenas, sem poder cantar, chorava em silêncio para ela não dar conta, e definhava, definhava a olhos vistos, até que se apagou como uma vela. Passarinho livre não canta em gaiola!!!!
Os anos correram como sempre correm, até ao momento das rondas extra curriculares do Nandinho que estávamos a descrever. E a verdade é que é menos exacta a memória destas coisas que a imaginação daqueles mariolas para derivarem da escola. E tantas foram as derivas que um belo dia a Zulmira estava a despejar o balde das limpezas na sarjeta, e vê passar o seu rapaz mais a “pinantagem”numa das suas deambulações. Ah Nando, grita-lhe de longe. O que não teve outro efeito que fosse vê-los desaparecer cada um para seu lado como coelhos. Deixa estar que logo temos muito que conversar….
Esta reflexão da Zulmira foi também o raciocínio de seu filho que desde logo decidiu que nessa noite não havia de estar em casa e as outras … Logo se verá…. Com o tempo o coração de mãe em cuidados amolece, e será de braços abertos e as lágrimas a assomar aos olhos, agradecendo a todos os santinhos por o ter de novo em casa. Deduziu…
Boas contas fez o mariola…. De tal maneira boas, que aquela escapadela de uma semana a dormir ao Deus dará, foi a fronteira para a sua independência. Eis como aos dez anos o Nandinho se fez filho da noite, com todo o cortejo de actividades lúdicas inerentes.
A mãe, sofria em silêncio no frio dos seus lençóis de viúva, a abstinência de mulher ainda nova pujante e saudável, que mal cosia com o martírio da fuga do filho para o calor da noite…. E que quentes eram as noites ali em Campolide. Falava-se de uma onda de assaltos. O Sr. David foi duas vezes assaltado. Roubaram-lhe uma telefonia e uns relógios e mais umas cangalhadas que para mais não houve tempo… O “sacrista” do velho dormia na loja com um olho aberto e outro fechado e acordava ao mais leve barulho, com’á gata da Maria Mendes: A dormir e a caçar ratos… O pessoal lá do bairro à boca pequena dizia: Ora…. Ladrão que rouba a ladrão……. O Sr. David era o prestamista!!!!
A Zulmira acordava com ele a entrar já de dia, e ouvia-o na cozinha a amanhar qualquer coisa para comer. Antes de sair de casa ia de mansinho ao quarto dele vê-lo dormir e aconchegar-lhe a manta, e um estranho sorriso de ternura feito, não impedia que por vezes, uma grossa e amarga lágrima transpusesse as pálpebras pestanudas, que lhe emolduravam uns expressivos e doces olhos castanhos. E lá ia a Zulmira que ao jeito de outra, a “Luisa”do António Gedeão, subia, subia, subia a calçada…. Anda Zulmira… Zulmira sobe…. Sobe que sobe……..
Ela sabia, embora não gostasse de pensar no assunto, como é que aquilo, forçosamente, havia de acabar. Mas não lhe dizia nada com medo que ele fosse embora de vez.
Até que um dia, foram ter com ela à pastelaria para que fosse à esquadra da “bófia”. Deu-se-lhe um aperto no coração e da garganta soltou-se um ronco que mais parecia de bicho que de gente… E caiu redondinha no chão. Afastem-se, afastem-se deixem respirar a mulher. Dizia o “jeitoso”, aliás o Sr. Domingos, enquanto lhe molhava as fontes…. Voltou a si e lá foi para a esquadra. O Fernando Manuel de Sousa Mendes, Tinha sido preso em casa nessa manhã e como era menor ia rapidamente ao Tribunal da especialidade.
Por trás de uns óculos na ponta do nariz, o evidente enfado da expressão facial do juiz dizia da atenção que deu às razões aduzidas pelos senhores de vestes meio tolas e dos seus estúpidos capachinhos….. Tão estúpidas e sebosos como as razões que invocavam, cujas resultaram num alto e pára o baile por parte do enfadado Juiz…. Já entendi tudo muito bem. Fica condenado a quatro anos na Colónia Correccional de S. Bernardino. Está terminada a audiência….
E lá foi, o não tão bom como isso Nandinho, lá para as bandas de Peniche.
Como uma alma penada vagueava com outras almas penadas da sua igualha, tentando esquecer a vida que tinham cá fora, para não se “passarem” com as inevitáveis comparações entre a “boa vai ela” e a disciplina a que a casa nova os obrigava. AI….AI…. O cacau às seis da manhã na Ribeira….Isso é que era vida…. Era um roça-roça pelas nádegas generosas, das generosas clientes, as varinas, que riam das investidas deles… Goza pequenino… Goza…. Já “vistes” este “cága-tacos”…. É “piqueno” mas já gosta !!!!
Agora na clausura…. Bom isso ainda era o menos. O pior… Mesmo o pior… Eram aquelas conversas do Capelão à Sexta –Feira…… Não sei quê…. Fosteis meliantes e por via disso viesteis aqui parar. Com a graça de Deus haveis de sair daqui, curados dessa chaga aberta…….. e por aí fora. O sacana do padreca, era um homenzarrão que tinha umas “manápulas” que pareciam duas raquetes com que os agarrava pelos ombros e os atraía a si. Era muito “afectuoso”. Lambuzava-lhes a cara de beijos e ia por aí fora de “carícias” de respiração pesada e a cheirar a alho e vinho de Missa e a escorrer suor como um porco…. BÃÃÃ!!!! Que nojo….
Pelo sim pelo não, mostrou-lhe sempre má cara ou fazia-se doente com tosse e assim, e ele lá virava a sua predilecção para outro qualquer desgraçado. Bom aquilo era cada um por si!!!!
Fez a escola toda até à quarta com distinção, fez-se de bonzinho e um belo dia saiu…. Deram-lhe um bilhete para a “camineta”, um “fatinho de ver a Deus” e quinhentos pauzitos. E aos catorze anos, ei-lo relançado na vida….
A sua mãe que o ia ver quando podia, abriu os braços e as “torneiras dos olhos”, cingiu-o num abraço muito apertado, cobriu-o de beijos e, que bom, destes gostava ele…. Naquele instante sentiu-se no Céu. Quer dizer…. Se houvesse Céu, era de certeza aquilo que ele estava a sentir.
Os quinhentos paus deram para umas semanas de bolinhos e “galões” e de noite ficava a ler qualquer coisa que agarrasse. Um hábito que ganhou na casa de correcção, para matar o tempo, que insistia em correr pastoso e dolente.
A velhota nunca lhe disse nada mas ele percebeu que ela tinha algumas dificuldades de dinheiro. Então resolveu procurar um trabalho para ajudar lá em casa. Andou ali na calçada para baixo e para cima durante dois dias, até que o “Quim da Susana” lhe disse: É pá “porqu’é” não vens trabalhar comigo? O casaca disse que estava a precisar de mais um “acarta presuntos”…. Que ele já estava velho e a coisa puxava pelo cabedal …. É coisa para gajos mais novos.
E olha lá, o “guito” não é assim tanto, mas as “ gorjas” são boas, só tens que ser educado com a família do gajo que “esticou os manjericos” e vais ver. E depois Também te digo… Aqueles é já não fazem mal nenhum a ninguém.
O Nandinho, pensou… pensou, pesou tudo muito bem e resolveu ir falar com o Sr. Antero, o proprietário Funerária S. António, que é como se sabe o padroeiro do bairro.
A coisa foi um ápice…. Sim senhor meu rapaz… Lá corpo “amandas” tu!!!! Acertaram o vencimento, rasteirinho já se vê, uma palmada nas costas e a coisa estava feita. HÓ Nando! Passa ali pelo Chico alfaiate para te fazer um fato preto. E diz-lhe que eu depois falo com ele….
E lá foi o ex- meliante Nandinho, o menino de sua mãe feito homem aos quinze anos, para circunspecto “gato pingado”.
Durou isto até receber a carta para ir à inspecção Militar. Mais uma machadada no coração da pobre D. Zulmira…. É que ela bem ouvia na telefonia eles a falarem da guerra…. Não sei quê …. Para Angola, rapidamente e em força! Ela não realizava por completo o que aquilo significava, mas o seu coração já lhe dizia que não era flor que se cheirasse….
Por sorte o sortudo do Nandinho a conselho de um amigo, pediu que lhe fosse atribuída a situação de amparo de mãe, que lhe foi concedido e ficou na metrópole e em Lisboa.
Quando não estava de serviço, e como tinha as tardes livres, ainda dava uma mãozinha na Funerária e essa realidade fez com que tivesse capacidade de amealhar uns trocos.
Andava com uma na cabeça de fazer uma surpresa à mãe e obstinadamente juntou o “arame”necessário e um belo dia, apareceu em casa com um Caixotão de respeito…. Ai rapaz… O qu’é que trazes p’raí?
HHÃÃ…. Não é nada…. Vinha eu ali à beirinha do Tejo e isto vinha a boiar!!!!!
Destapa o caixote e tira o estranho aparelho!!!!
HÁÁÁ…. Uma televisão….. E isso toca?
Se toca, isto é uma torneira a deitar música!!!!
Mas on’dé qu’eu já ouvi isto???
Bom…. A partir daqui, acabou a “estória”, por que já toda a gente sabe como foi….
E porquê perguntarão?
Porque chegou a televisão, e toda a gente ficou a saber de tudo e em simultâneo.
Sorte marreca!!!!


António Capucha

Vila Franca de Xira Junho de 2010

quinta-feira, 12 de agosto de 2010


Esta homenagem incumbia-nos a nós portugueses, mas se calhar ainda não houve tempo para alguém o fazer....
Encontramos sempre uma razão para revelarmos a nossa pequenez.E é exactamente frente à grandeza que nos ultrapassa, que se avolumam as "ciúmites" agudas e as "invejinhas"...
Dizer apenas coisas de circunstância. Debitar o discurso oficial, seco e insalubre, é menor! O que vale é que não fica na memória....
Perdoa-lhes Saramago. É gente que não sabe o que diz! Porque se dissessem só aquilo que sabem, estavam sempre calados...
Gentinha desta, rasteira, mesquinha e medíocre , não enxerga que quando se atinge esta grandeza artística, isso empalidece as fragilidades humanas... Ficam esbatidas pela enormidade oceânica do talento.
Mas como não dá para inventar outra realidade, que nos faça esquecer a humilhação, é como diz o outro: "A minha Pátria é a língua portuguesa"....
Socorro-me portanto desta que vem do Brasil e bem hajam por isso…...

António Capucha

PS- Foi possível, pela primeira vez passar slides para o blogue. Ainda assim a música ficou nas covas.
Não mecanizei os procedimentos, mas prometo que vou treinar mais.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Incêndios

Parece estranho dizer isto,(usar assim a sua morte) mas para que a morte de dois Bombeiros não tenha sido em vão, há que aproveitar a emoção colectiva que parece ter-se instalado, para iniciar a reflexão necessária sobre o assunto dos incêndios e do seu combate e, sobretudo, a sua prevenção. O governo tentará resistir a publicar estatísticas que supostamente provam a evolução positiva do flagelo sazonal.... A população terá que tomar consciência de que se trata de um assunto de todos e não apenas das zonas de mancha florestal. E finalmente aos elementos que generosa ou profissionalmente os combatem e seus responsáveis, que parem com a estranha e obscena contagem de espingardas que sempre se insinua nestas coisas. Urge instituir uma hierarquia funcional. Já se melhorou, mas é possível aperfeiçoar. A prova disso é que os incêndios têm estado a ganhar esta guerra. E sejam encontradas as soluções para extrair eficácia da generosidade e paixão de uns, e o rigor profissional de outros, para que de ambos seja conseguida a distância emocional necessária às acções e estratégias de combate às chamas.
Arranjar uma forma exequível de serem efectivamente feitas as limpezas indispensáveis nas matas e florestas, em conformidade com as possibilidades financeiras dos seus proprietários. Criar os perímetros de segurança a Aldeias,Vilas, Cidades e casas de habitação isoladas, Empresas etc.... Fazer primeiro, e perguntar depois quem paga.... Ou quem manda! Ou de quem é. O fogo não cuida de saber dessas coisas!!!!
Tal como muitas coisas neste país, as autoridades que dizem respeito a este aspecto, estão disseminadas por mais que um Ministério e mais que uma "capelinha", mas não podem dizer respeito a mais que uma vontade. Portanto, nosso primeiro, faça lá as reformas administrativas que entender, mas acabe lá com os "tachos" que tiver que ser e acabe com esta imagem "terceiro mundista" que nos continua agarrada ao rabo. E tome atenção.... "Terceiro Mundista " não são apenas a quantidade de incêndios florestais. É sobretudo que a nível do Governo do Estado, ser permitida esta política de "capelinhas", e não ter força política para as normalizar. Digo força política, porque acho , e faço-lhe essa justiça, não creio que vontade lhe falte para tal.


António Capucha
Vila Franca de Xira, SemGosto de 2010

As espantosas aventuras do insuspeito João “Tabefe”

Carissima/os Amiga/os:
- Como por força hão-de ter reparado, uma coisa que me preocupa é a veracidade Histórica de "estórias" que circulam por aí há Séculos sem que alguém se tenha dado ao trabalho de investigar da sua verosimilhança. Ombros largos e o apego à verdade determinaram esta minha demanda em seu nome. Desta feita trago-vos ao conhecimento a verdadeira "estória" da Capuchinho Vermelha.
A verdade é sempre mais fantástica que a ficção!
António Capucha

As espantosas aventuras do insuspeito João “Tabefe”

Acordou com uma dor pesada e grave no ombro esquerdo e cheirou-lhe a terra húmida e a erva fresca pisada.
Estranho, pensou!
Abriu os olhos e em primeiro plano via os pés de erva que lhe terão despertado o olfacto. Percebeu então que estava caído no chão. Pé ante pé foi retomando o domínio dos factos. Ora ele vinha a cavalo…. Se estava no chão, é porque tinha caído da montada. ELE…. O JOÂO “TABEFE”, cair do cavalo? Pode lá ser….
Tentou reerguer-se de um salto. Mas aquele ombro reclamou a imobilidade de que necessitava, ferrando-lhe uma dor de mil facadas. Um ronco selvagem acompanhou a tentativa de se levantar…. Isto está mau, pensou. Virou-se rodando lentamente o corpo para o outro lado e apoiado na outra mão, lentamente foi vencendo a lei da gravidade e lá se pôs sobre ambos os pés. Não sem que lhe rodasse todo o cenário do campo à sua volta…. HÉ lá… Dizia. Não sei se foi do trambolhão ou se ainda é do vinho. Lembrou-se de ter estado a beberricar na casa de pasto, onde depois do almoço ficou mais um pouco a regar a feijoada que “embrulhara”, com aquele vinho de estalo que o “sacrista” do taberneiro tinha.
Por isso caí do “alimal”. Sorte marreca!
Pelo sim pelo não, já não subiu para a garupa do equídeo, tomou o “ruço” pelas rédeas e lá foi aos esses e erres pelo caminho que por sua vez, serpenteava por entre montes e vales, um bom par de quilómetros até chegar a casa.
Ah “home” dum raio… Diz a mulher ao vê-lo. Olha p’ra isto…. Estás entupido de vinho!!! Sua besta!!!!…..
Não me trates mal “Mélinha”, gemeu ele. Se soubesses?!?! Por mor de chegar cedo a casa, vim pelo atalho das Cardosas e ao saltar uma sebe o “ruço”empinou-se e espetou comigo no chão… Ai…. Ai…. Estou aqui que não posso!
A”Mélinha” que não é das últimas, esganiça ainda mais a voz e diz: Empinou, empinou…. A empinar esteve você… Sua besta! A empinar copos, lá c’as galdérias na taberna… Seu “mastronço”…. “Jabardolas”….. Venha mas é comer.
Ai…. Ai… Nem fome tenho… Dá-me só um caldinho.
O caldinho fumegante e perfumado apareceu na frente do cabisbaixo “tabefe” que o sorvia da colher com lenta parcimónia. Enquanto a “Mélinha” sentada na sua frente cortava bocados de broa os esfregava com toucinho e alho, e engolia, por entre o responso que se afadigava em continuar…. Não tem vergonha… O que vale é que as meninas já dormem. Já se viu? “Havera” de ser bonito, verem o pai nestes preparos…
Vá, ande lá p’rá cama qu’é para lhe por umas papas nesse ombro. Daí a pouco, nos habituais trajos, de camisa de noite e barrete, lá foi ordeiramente para a enxerga e a breve trecho, já parecia uma nora empenada e ferrugenta a tirar água.
Agora que ele dorme, é talvez altura de dizer o que tem de especial esta personagem: O João “Tabefe” – Tabefe é alcunha – não tem de facto grande coisa que o distinga do comum dos homens do seu tempo, que é o tempo em que ainda se andava a cavalo… Era um caçador, hábil e eficaz, que conhecia como ninguém aquelas terras do Sr. Regedor Afonso de quem era couteiro. Tinha um daqueles conhecimentos de tal forma detalhado, que não havia toca de coelho, poiso de faisão ou trilho de gamos ou javali que lhe escapasse. E os caminhos… Esses percorria-os d’olhos fechados, ou com um “grãozito na asa” como naquele dia.
Mas também não é isso que lhe confere o destaque indispensável, para ser o protagonista desta “estória”. Aliás, bons caçadores, há-os aos montes por todo o lado.
Gente de instinto aguçado e pontaria assim do tipo: Onde mete o olho, mete o tiro. Ao contrário da maioria dos senhores das terras que, salvo raras e honrosas excepções, eram uns néscios nessa, como em muitas outras matérias. Claro que quando o senhor ia à caça levava o couteiro, que para além de lhe meter os bichos pelos olhos adentro, disparava o canhangulo ao mesmo tempo que o amo, sendo que o tiro que abatia a peça, era o do patrão. Claro!!! Belo tiro patrão!....
Esta subserviência era contrabalançada pelos privilégios que o couteiro tinha. Para além de uma casa para ele e a família, podia também caçar qualquer coisita para si. E isso não era coisa de somenos, naqueles tempos de “fomeca” bravia….
Bom…. Tão pouco é isto que justifica que venha falando tanto nele.
De uma maneira ou de outra, todos os couteiros se assemelhavam e equivaliam…
Então o que é que o torna este distinto dos outros?
E agora vou revelar-vos um segredo que me vem queimando a existência desde que um velhote, um peregrino – Quiçá um Druida, um Santo, ou o próprio Gandalf …. Sei lá – me revelou quando eu calcorreava uma calçada romana para os lados de Chaves, que faz parte dos caminhos de Santiago. Disse-me então o bom do peregrino:
- Meu filho…. (eles falam assim…. São com’ós médicos) Vou contar-te uma “estória” verdadeira, mas é um segredo terrível que carrego há muito tempo e já não tenho forças para continuar a arcar com ele. Com a respiração pesada continuou:
- O couteiro da herdade das Cardosas… Não é só o couteiro da Herdade das Cardosas. E disse arqueando as sobrancelhas e semi-cerrando um dos olhos, adensando o mistério após uma breve pausa:
- Lembras-te da História da Capuchinho Vermelho?
Disse que sim, que me lembrava… Que era uma velha História que se contava em família e que se calhar, nela inspirada, a minha família passou a chamar-se Capucha até aos dias de hoje.
Acto contínuo o ancião, enchameou-se… Mais que isso meu rapaz…. Mais que isso!!! Uma aura orlava-lhe a cabeça e trovejou em tom grave:
A História que tu e todos os meninos e meninas ouviram contar, é uma treta!
- Tu és descendente da Capuchinho Vermelho e não fora este couteiro, que vilmente a História trata como um anónimo figurante, e o teu avoengo, teria sido o fruto resultante dos impudicos amores entre a Capuchinho e o lobo mau.
Bom, isso pelo menos justificaria o pêlo na venta dos Capuchas, pensei de mim para mim.
E contou-me tudo, não omitindo mesmo os pormenores mais sórdidos…
Mais novo, mas façanhudo afamado, o então apenas caçador, João “Tabefe”, andava a seguir a Capuchinho pela floresta, porque ouviu dizer que ela dava umas baldas. Ao vê-la desaparecer por detrás da porta da casa da avozinha e porque ouviu enorme reboliço lá dentro, entra de supetão pela casa e dispara o arcabuz sobre o cabrão do lobo mau, que se preparava para se lambuzar com a Capuchinho. E, aí a História é fidedigna, pois ele disse efectivamente o que ela reza:
Este já está “liqüidado”… O tiro foi bem na testa…. Não comerá mais crianças nos caminhos da floresta.
Mas o lobo mau, já se tinha batido com a debochada avozinha, que ainda tinha os pés de fora da boca do lobo, enquanto de dentro da fera, no seu buxo, ressoava a avozinha, que gritava histericamente : A mim … A mim, que fui da ideia!!! Que se lixe a velha, terá pensado!!!! Ela que se desentale da dentuça do canídeo selvagem.
Prossegue o personagem de mistério:
- Resulta claro e evidente, que o teu avoengo não é outro senão o “Tabefe”, que colheu já maduro, como um prémio, o fruto da moçoila que entretanto lhe caíra nos braços desfalecida por não aguentar tão fortes emoções. Ora…. Já agora “aproveto”!!!! Disse o “Tabefe”. E Foi o último som que se ouviu antes do resfolegar intenso. Os gemidos perturbadores da virgindade dela a ir-se. E os roncos desbragados do vermelhusco João a vi….. Bem….. O oposto de ir-se!!!!!
Apesar da gravidade das revelações e do seu duro impacto, ficamos à conversa que corria a meias com um farnel que gentilmente me ofereceu e que partilhamos à sombra de um castanheiro. Um opulento mutélo, broa e uma garrafita de tintol, que nos iam correndo pelos gorgomilos, como o Tâmega corria pachorrento lá mais abaixo no vale.
O velhote, mais aliviado depois de me transmitir este terrível segredo, já desfeito da aura e mais descontraído, em tom mais sereno, por entre a mastigação das vitualhas, lá me foi dizendo que não ficasse acabrunhado por ser descendente duma rapariga de supostas baldas, (vulgo mãe solteira) ainda que vítima de estupro, porque isso era o pão-nosso-de-cada-dia naqueles tempos. Nem sequer era tido como pecado. Os costumes e a moral eram outros. O fundamental naqueles tempos, não era cumprir os preceitos da actual moral balofa e hipócrita. Era manterem-se vivos…. Matar a malvada fome e escapar às pestes.
Lembras-te, dizia, do poema daquele frade do Século XVIII acerca das mulheres, cujas, segundo ele: tinhas três diversas condutas: As velhas são feiticeiras/ As mulheres alcoviteiras/ E as raparigas… Putas. (foi ele que disse)
As coisas eram mais ou menos assim nesse tempos idos, a gentinha do povo vivia em promiscuidade e na quase total ausência de qualquer organização social… Os exemplos vindos de cima, do clero e da nobreza, também não eram famosos como é sabido. As pessoa da plebe nem casavam nem nada que se parecesse. Os casais formavam-se e as famílias, constituíam-se por simbiose e na exacta medida das suas posses de alimentar a prole.
Tudo o mais é preconceito, Tal qual outros do mesmo jeito.
Havia lá noção de Pátria, nacionalidade, fronteiras e assim…. Eram conceitos inexistentes…. Os pobres coitados apenas sabiam o que os olhos deixavam ver no raio de acção que suas bestas de carga aguentavam. E muito embora já existissem profissões não havia o conceito de emprego, logo o desemprego também não ocupava espaço nenhum nas preocupações de seja quem for….
PRECONCEITO…. E DESONESTIDADE…. São os valores mais visíveis, que estão por detrás de quem apregoa a família como sendo fruto de culturas ancestrais. O que havia e sempre houve, foi o incontornável amor das mães pelos filhos, tão poderoso quanto o sentido de vadiagem errática, dos machos sexualmente activos…. Só que o ser humano é um ser afectivo e isso sim, foi o cimento que solidificou o moderno conceito de família.
Tal como o amor Pátrio, prosseguiu, Julgas que era o sentido de missão patriótica que levava os homens a percorrer os sete mares e os cinco cantos da terra?
Se julgas enganas-te. Eu fazia que sim com a cabeça…
O que as autoridades faziam, era mandar distribuir “vinhaça” à borla pelas esquinas e tascas do Reino. Isto na noite que antecedia a largada das Caravelas. Depois escolhiam os que tinham melhor aspecto, mais saudável, e quando estes acordavam da bebedeira, Já iam muito ao largo, mar adentro. Claro que o seu sentido de improviso e adaptação à realidade, depressa os transformou de raptados em interpretes da Saga Heróica Lusitana.
E para a guerra faziam mais ou menos o mesmo…. Davam os “morfes” e ainda por cima davam-lhe uns patacos (o soldo), e deixavam-nos reunir alguns despojos dos inimigos vencidos… Sendo certo que umas horas antes da batalha havia dose reforçada de sumo de uva fermentado… Esta estratégia conseguiu produzir umas quantas vitórias para as nossas hostes, de permeio com a invocação dos Santos da especialidade, aos quais a boa da zurrapa, disputava os méritos….
Por essa altura ia-se acabando o mutélo e o vinho. O bom do velho embrulhou num guardanapo o resto de broa, ergueu-se e disse-me suavemente: É melhor meter pés ao caminho que isto começa a ser muita areia p’rá tua “camineta”… Ou não é?
Com efeito, respondi!…. (Hoje no entanto, depois de muita e muita água ter passado debaixo das pontes do Tâmega, lá vou realizando uma parte, apenas um tudo nada, do tudo que ali me foi revelado.)
O ancião fitou-me com os seus olhos cansados, e, não foram precisas palavras de despedida. Simplesmente virou-se e foi-se afastando.
Quando já ia na curva do caminho, recortando-se contra o Céu que alardeava os tons de fim de tarde, gritei-lhe:
QUEM ÉS TU ROMEIRO?
NINGÉM…. Respondeu-me num aceno….

António Capucha

Vila Franca de Xira 30 de Abril de 2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A importância de se chamar Aníbal

Como o prometido é devido cumpro hoje a promessa feita à cerca de uma Semana e pouco.

A importância de se chamar Aníbal

Quanto mais não seja para cumprir a lógica das coisas, é importante que, seja o que for, se chame aquilo que é. Parece um exercício demasiado simples, primário, e imbecil, mas é mais importante do que pode aparentar num vulgar e singelo olhar de relance.
Será que nos damos por sistema ao trabalho de pensar nestes pequenos porquês, que pisamos sem dar conta?
Mas vejamos se isto, tem ou não lógica. Porque não experimentam em vez de nomear pessoas e coisas passarem a descreve-las apenas.
Estou certo que mais de metade do que pretendíamos transmitir se perderia ora por falha, insuficiência ou erro na sua descrição. Quer por iguais deficiências de entendimento do lado daquele ou daqueles a quem nos dirigimos.
Mesmo usando as mais sucintas definições e os nomes mais precisos e correctos, ocorrem erros de comunicação, quanto mais se ao invés disso transformássemos tudo aquilo a que nos referimos em conceitos e ideias apenas nossos, isso seria uma terrível Babél….
Vejamos. Neste “blogue”, é feita uma descrição de como eu sou, ou acho que sou, com retrato e tudo. No entanto para quem não me conhece, apenas o meu aspecto fisionómico fica claro. O que convenhamos, diz muito pouco de mim – Quem vê caras!?!?!?!?
Já para quem me conhece, podendo embora discordar do que digo de mim, pode no entanto identificar-me pela foto e dirá: Ah…. O tónica…. Sei perfeitamente…. Mas ele escreve? Olha, não sabia.
Entendem agora o que quis dizer?
Nem mesmo havendo um conhecimento partilhado e vasto das coisas, dificilmente conseguiremos ser cabais no entendimento das mesmas.
Por maioria de razão é assim com qualquer cidadão ou cidadã. E também com o Sr. Aníbal. Dito apenas isto, serão mais as perguntas: quem é?
Que os: ah sim sei perfeitamente!
Carece portanto de mais esclarecimentos….
Dizendo então:
- Aníbal António Cavaco Silva.
Ah sim….. Sei quem é…. Aliás sabemos todos: É o Sr. Presidente…..
Saberão?
Tal como no “blogue”, há que descrever características e ser o mais rigoroso possível para que todos saibamos do que estamos a falar.
Então lá viria o seu perfil, versão Wikipédia:
Aníbal António Cavaco Silva GCC (Boliqueime, Loulé, 15 de Julho de 1939) é um economista e político português e, desde 2006, o décimo nono Presidente da República Portuguesa.
Foi primeiro-ministro de Portugal de 6 de Novembro de 1985 a 28 de Outubro de 1995, tendo sido a pessoa que mais tempo esteve na liderança do governo do país desde o 25 de Abril. A 22 de Janeiro de 2006 foi eleito Presidente da República, tendo tomado posse em 9 de Março do mesmo ano.
Estará tudo dito? Para alguns talvez já chegue, mas para mim é curto.
Para mim falta dizer que é um professor de economia. Que acumula com professor de economia e que professa a arte de ser professor de economia. Alguns “liliputeanos” afadigaram-se em criar dele a imagem de um grande político, Um homem de Estado, de cidadão honesto, impoluto, homem justo, respeitador, sóbrio e sobretudo imensamente capaz. Ora eu acho, fazendo base no que tenho visto que o cavalheiro pode ser muita coisa, mas o que é sobretudo è um político inábil. Com tanta ou tão pouca habilidade que apenas nos tabus, silêncios expressivos e a ser professor de economia, não comete erros. Mas isso ainda vá. Não está Só nessa carruagem.
O que já não dizem os tais artistas é que o senhor em causa é imensamente, diria doentiamente sedento de poder. A tal ponto que não hesitou nunca, em secar por completo o seu PSD, para conseguir os seus objectivos pessoais.
A mim começa a parecer que não estamos a falar da mesma pessoa.
Se a isto juntarmos AS MUITO MAL CONTADAS RELACÇÔES COM O BPN, melhor, com a SLN e as derivas dos seus indefectíveis apoiantes pelas mesmas razões!!!!
Então, venha o mais pintado e diga que estamos seguramente a falar da mesma pessoa.
Como é importante que nos ponhamos de acordo porque seja o que for, ele é uma entidade única, irrepetível (felizmente) e com todo o direito à sua identidade.
Logo, para ser totalmente inquestionável - e porque nunca estaremos todos de acordo quanto à sua definição cabal – como ia dizendo, inquestionável e por isso sumamente importante é o facto de Aníbal ser o sufixo de o neologismo: MARIANI…..
Que é o nome da casa de Férias da família em Boliqueime…. Nome que resulta da feliz conjunção dos nomes dos seus proprietários. Cavalheirescamente MARIA primeiro mais ANI de Aníbal depois. Sendo que, e não sei se repararam, dá-se uma sobreposição de um A, fundindo-os como na vida real o estão….
Que linda imagem…..
Que chique, original e…. Nem sei que dizer….. Parece mesmo um nome de canção do Tony Carreira….
È ou não é importante chamar-se Aníbal?
Com António não dava, não soava. “MARIANTO”…. Que canastrice!
Nem com Cavaco ou Silva…. Ora que lindo…. MARIASIL…. Parece nome de mercearia de bairro.
Bom. Registe-se e releve-se a importância de se chamar Aníbal. Mais o evidente mérito de o ser…..

António Capucha
Vila franca de Xira, Agosto de 2010

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Para que não se diga que não falamos de bola

Não gosto de quebrar promessas, mas resolvi "martelar" primeiro este tema com receio de que perca actualidade.... Mentiroso! Fi-lo apenas por que sim....
A. C.


Para que não se diga que não falamos de bola


Não vou esconder que muito embora goste do futebol, ter um clube do coração (O Grande Sporting Clube de Portugal) e tudo o mais, não consigo deixar de racionalmente ter enorme dificuldade em aceitar o mundo do futebol como uma coisa que me mereça muito crédito. E porquê?
Tão só porque no seu obscuro mundo, quase nada tem a dimensão aceitável, o nível de inteligibilidade consentânea com a dignidade humana. A começar no dirigismo saloio de “patos bravos”, passando pela “acéfalopatia” cultivada e com trejeitos de imposição contratual aos pobres (salvo seja) rapazes do chuto na bola. A estes é praticamente proibido ser ou dizer coisas inteligentes… Apenas podem seguir o formulário, assim estilo: Vou tentar fazer o meu melhor para ajudar o grupo de trabalho!!!! (Toma e embrulha!!!!)
E terminando na imprensa da especialidade onde monges copistas cultores do “futebolez” vão cerzindo a sua teia ao sabor do “lobiezinho” que lhes paga os pequeno almoços e assim.
Por detrás e sustentando isto tudo, estamos nós e a nossa inesgotável ingenuidade em contraste com a igualmente imensa generosidade, com que nos entregamos a esta paixão da bola.
Ora, como não quero sob qualquer pretexto entrar neste ninho de ratos, respigo apenas a “estória” que no seu leito correu e que aqui trago porque é um bom exemplo de um dos nossos “pecados mortais”.
O caso é que o Seleccionador Nacional de Futebol, Carlos Queiroz, está a contas com uma trama contra si urdida que pode levar ao seu despedimento, e pior, por via disso à esbanjamento de vários milhões de euros de indemnização.
Carlos Queiroz, está “nos cornos do boi” porque terá dito não sei o quê, referindo-se à autoridade anti dopagem, ou ao seu interprete de circunstância, o que constitui matéria de ofensa, também não sei se à instituição se à pessoa do executor da tarefa. E também não sei se alguém sabe quem é aqui o ofendido (a pessoa ou a instituição)…. O que claramente muita gente sabe é que o sr. Queiroz, terá sido o agressor verbal….
Já lá vai tanto tempo – ter-se-á passado antes do Mundial – que acho estranho que o suposto ofendido: a instituição ou a pessoa, cujo há-de por força ser de compreensão lenta…. Já que levou todo este tempo a sentir-se tão ofendido….
A não ser que caso a selecção portuguesa tivesse feito melhor figura na África do Sul, a ofensa já seria menor… Teria sido só de raspão. O que seria um espanto!
Tudo isto cheira a “encomenda”, onde uma “dama” manhosa faz de “Madalena” e a que, a imprensa, como sempre, corre pressurosa a aproveitar o filão.
A minha opinião é que não se perdoa ao Seleccionador Nacional, ser um mau interprete desta cultura rasteira travestida de futebol, e que ainda por cima não se expressa em “futebolez”. E o facto de ser inegavelmente inteligente causa brotoeja aos zelosos “servitas” do sistema.
A questão de fundo, a origem de isto tudo, não é este argumento de telenovela. A génese de que toda este intrincada ramagem é apenas consequência, é outra. É perversa e está sempre ao serviço dos manipuladores do costume. É uma das nossas originalidades, diria mais: anormalidades da nossa vida colectiva. O que de facto é o motor de tudo isto, é a “autoritarite” aguda das instituições e seus interpretes, que de alguma forma são autoridade disto ou daquilo. Raramente estão estas instituições, melhor, os seus executantes, dispostos a arcar com as inerentes responsabilidades de o serem. É ver a facilidade, quando há bronca, com que essa gente desaparece como por encanto. Agora a pavonearem a suas alegadas autoridades!!!!! “É um ver se te avias”….
Sabemos todos muito bem do que estou a falar. Já todos tivemos por certo um encontro do terceiro grau com este autoritarismo compulsivo. Ele é a marca indelével de quase todas as nossas instituições de serviço público. A tropa, a GNR, a PSP, a ASAE, – encapuçada e armada até aos dentes…. Ridiculo - os contínuos, porteiros, médicos, - aproveito para o cumprimentar sr. Fernando Pádua, autoridade das autoridades – os Professores, ( há quem os veja não como transmissores de conhecimento, mas como autoridades) e claro… Vossas altezas reverendíssimas sereníssimas e certíssimas: as autoridades eclesiásticas, o chefe de uma qualquer repartição….. Sei lá…. São aos centos. E se for caso disso, pode até criar-se mais. Sugiro a criação do posto de chefe dos “mictórios” públicos. Dá-se-lhe um boné e uma farda, e o homem há-de passar o santo dia a zelar por que não se sacudam vezes de mais as “ferramentas”. E chamar-se-á: Contador Supremo de Sacudidelas. Acho que já é suficientemente digno e sonante….
Temos essa mania: O autoritarismo é um resquício do tempo do “facho” que infelizmente encontra sempre entusiastas, não só actores, mas também defensores…. Não tenho qualquer dúvida de que este comportamento, associado a outros é certo!!!! Mas seguramente este, é um travão a qualquer desenvolvimento social, económico, ou político.
E em conclusão, não me custa nada a crer que o tal senhor que ia recolher o “chi-chi”, ou lá o que era, dos nossos briosos rapazes se tenha armado em “autoridade”, e não terá querido ceder a fazer a coisa noutra altura, por ventura, mais adequada ao programa de treino.
Bom… Terá dito de si para si: Ceder a não sei quê?!?! Isso é que não. Eu sou a autoridade do “chi-chi” e ando à cata de prevaricadores…..
Está bom de ver que é do interesse de todos, sobretudo do seleccionador, que as análises fossem feitas e descartada alguma hipótese de uma “vergonhaça” em pleno Mundial…
Tudo aponta para que tenha sido um caso de “autoritarite aguda” a que o excesso de pressão do seleccionador levou a que disparasse alguns impropérios. Mas em privado…. Isto é, não em público…....(Normal, diria…)
Os “servitas” do costume aproveitaram logo, uns para aparecer na televisão – há tanto que não os via!!!! – E outros para tentar restabelecer o cenário de celebração tipo IURD, na nossa selecção. Coisa para a qual o Sr. Prof. Carlos Queiroz demonstra grande impreparação….
É de fazer perder a paciência a um Santo…
Depois não se diga que presunçosamente não falamos de bola.
António Capucha
Vila Franca de Xira Agosto de 2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A cataplana

É um tanto extenso embora as figuras esbatam um pouco esse fenómeno. Sobretudo um tal "Big Bizu", que embora não passando de um expressivo pimento, diz mais que tudo o que dele se possa dizer ou escrever.

Cá vai pois a Cataplana, obra não feita para o blogue, mas que, julgo, também não deslustra.....
tonica


uma cataplana



Ao contrário do que o nome possa sugerir, a cataplana é tudo menos plana. Há-as de diversos materiais, mas a cor e material dominante e tradicional, é o cobre. Quanto à forma, é consensual. As duas meias luas articuladas de um lado. E do outro, um fecho de mola. Fechada – quase hermeticamente - assemelha-se a uma lentilha gigante. Aberta e vista do seu lado de dentro, são claramente duas bacias geminadas, destinadas a conter qualquer coisa que se lhe queira meter dentro. Já pelo lado de fora, não sei como dizer isto…. Digamos que se as mulheres usassem armadura, seriam a cobertura traseira, ao nível dos seus opulentos quadris. Mais não me atrevo a dizer porque isto é um assunto sério….
Prossigamos!....
Este apetrecho de cozinha, como já se disse, feito em cobre, acrescenta-se agora: martelado, chega às nossas cozinhas cristãs pela mão dos artesãos árabes. Árabes, que à época eram quem detinha a organização política e social aqui neste corredor ao Sol. Eram portanto quem podia usar o martelo, sem que tal fosse tido como acto, ou tentativa de agressão. E no caso usaram-no para legar à descendência, este precioso artefacto, que faz maravilhas às nossas papilas gostativas. E de tal forma as excitam que o fogo do “pecado” só se aplaca com outro pecado igualmente ardente: um bom vinho – é o chamado contra-fogo. O pior, ou o melhor, é que ao fim do terceiro ou quarto copo, excitados pelo xarope e pelas conotações lúbricas da forma da cataplana, ficavam, os pacóvios dos machos ibéricos, nossos avoengos, muito empolgados. E alarve, parva e gulosamente punham-se a tirar medidas às cataplanas das suas “matronas”, que à pala disso, lá iam fazendo o gosto ao dedo, que é como quem diz…. Claro que isto é pouco Cristão, mas - e como Deus escreve direito por linhas tortas, o lado positivo disto tudo é que assim se foi alargando a prol e fundamentando o que viria a ser a nossa civilização.
Eis como – e pouca gente sabe disto – a cataplana está na origem do crescimento demográfico da nossa população. O que se sabe, é que quando já eramos mais c’ás mães, acabamos por correr com a moirama daqui p’ra fora e gamamos-lhes os martelos mai’las cataplanas.
Bom, mas deixemo-nos de “estórias” e voltemos ao cerne da questão. Esta ferramenta, dadas as suas características – o ser hermética e tal – confere-lhe a capacidade, a vocação por assim dizer, de coser (assim mesmo, com ésse) os sabores dos diversos ingredientes que se lá puserem. Adicionando um pouca de gordura vegetal, casa na perfeição toda a casta de legumes com, preferencialmente, peixe, mariscos mas também carne de qualquer ordem. A norma é que o lume tem que ser parcimonioso. A cozedura lenta é a norma nesta, como noutras coisas boas desta vida.
Nos nossos dias em que, dada a refinação dos nossos modos, nos transformamos em seres muito sofisticados e de “lambões” passamos a degustadores, pois então! Esta característica, de cozinhar lentamente, favorece e muito os actuais preceitos sociais, pois deixa tempo para o convívio, enquanto vai fundindo os sabores. E por esta razão e outras que não vêm ao caso, é amiúde o repasto tipo, das reuniões das nossas actuais “matronas”, cujas socializam entre si trocando, além de mimos, “tamparoweres” e mistelas da “Avon”como se de “tramoços” se tratasse. Adiante…



A matrona Montserrat-Caballe
 Só quem nunca tenha passeado nos bairros suburbanos de classe média, aí pelo meio-dia de Sábado é que nunca ouviu, o grito de guerra que ecoa pelas esquinas: Meninas… “Qué’-se” dizer, meninas, meninas, bom, digamos que sim!... (para ler como se um pregão de varina se tratasse)…A cataplana, está ao lume, vamos aqui badalar um pouco, enquanto apura!... Bom…
E desta forma, polida, lá vão confidenciando umas ás outras, segredos de “polichinelo” e as mentiras que todas sabem sê-lo, e que sem excepção passam impolutas num tácito e muito elaborado jogo, mente tu que eu acreditarei, “óspois” trocamos: minto eu que tu acreditas… Este jogo vem desde o tempo em que o primeira macaca desceu das árvores e se tornou “Mulher erecta”. Não se sabe muito bem o que é que ela endireitava, ou se era por se por de pé, que se dizia dela, ser “erecta”. O Kama-Sutra (manual de posições) da época, era muito menos vasto, e asseverava muito prosaicamente o “decúbito ventral”, versão articulada, como a posição normal da fêmea, que ganhou o cognome de “quasi-erecta” porque só se punha de pé para mandar vir… Pode no entanto agora, com alguma segurança, afirmar-se que tinha o condão de endireitar uma coisa nos “Homo-Erectus” que está provado “erectava-se” por influência directa dela. E esta é que é a verdadeira e científica razão de ser: “erecta”, no sentido de: aquela que “erectava”. (Dicionário Porrinhas)
Bom voltemos ao jogo…
O objecto fundamental deste jogo é a disputa de tudo. Seja o que for. Tudo e nada será matéria de contradição, sendo no entanto material mais utilizado: o aspecto físico próprio e o das outras comparsas, os seus meninos, os maridos… Ah e os trapinhos, nunca esquecer os trapinhos. Um exemplo disso – e escolho ao acaso - são os seus maridos. Estes têm sempre em triplicado tudo o que os das outras é suposto serem, ou terem. Os meninos idem, idem… As meninas estão todas no terceiro ano de “Bárbies”. Quanto aos trapinhos, Uiiii, nem ouso tocar nessa matéria… As suas regras, (as deste jogo) cujas nunca ninguém definiu, são no entanto sobejamente conhecidas de todas as participantes.
Claro que há improvisos, quem por este ou aquele motivo não tiver marido, ou filhos, ou ambos, pode sempre arregimentar uma qualquer figura estilística que o substitua. E há sempre um sobrinho para fazer as vezes de “vingador”. (adiante se verá porquê vingadores) Ah… Já me “desquecia”, é rigorosamente proibido jogar com os maridos das outras…. Adiante…
A “codrilhisse”…. Cala-te boca!.... É assim que se chama o jogo, é como um jogo de xadrez em que se mudam as regras a cada jogada. Percebeu? Não? Nem eu….
O que é verdade, verdadinha, é que línguas afiadas cortam o ar como chicotes dizendo coisas de assombro. Quem arrancar, AAAAh’s e OOOOOh’s, mais expressivos, demorados e densos, ganha o bacalhau. Porém, lá por dentro, onde o “tico” e o “teco” circulam a não sei quantos G Hz de velocidade - talvez não sejam assim tantos!... A actividade é frenética. Pelo canto do olho todas espiam todas, anotando mentalmente todos os pequenos - ou grandes - defeitos, descuidos ou erros cometidos à sua volta. Basta multiplicar tudo por todas, para se fazer uma ideia da estafa para os pobres “ticos” e “tecos”.


Tico e Teco
Exemplos, querem exemplos… Não percebo qual a necessidade, mas ‘tá bem. Lá vai:
(Diz uma mentalmente)
- Pois filha, fala p’rái. Apesar de só comeres tiras de coiro, estás mais gorda que uma bácora. Atiras cá uma cataplana que dava p’rá casa real de Espanha mai’la família do Cavaco Silva e comitiva… E a roupinha… Sacos de sarapilheira de cinquenta quilos…. Agora alto e bom som: - Oh Marília, estás muito mais magra, como é que fazes? Responde a interpelada de viva voz:
- Oh querida! Nada de especial… Faço muito exercício e uma dieta “Amaricana”.
Agora em surdina: Fuinha… Escanzelada… Deve ser por seres tão boa que o teu marido me deita olhares gulosos! Pudera, com o que tem em casa!... Está farto de roer ossos… E depois, vestes-te como se fosses a “Twiggy”, só que és p’rái do tempo do “Fons-Hinriques”... Galdéria… E os sorrisos acompanham esta guerra surda mas nunca declarada nem assumida…
De repente, cortando esta torrente de mau estar, lá do canto ouve-se: O meu marido vai comprar um “Bê - Mê - Dâblio… Cresce um coro entre o efusivo e o desdém enjoado: Que bom querida!... Que bom!….
Deves mas é andar a ganha-lo pelas esquinas!... Lambisgoia!.... Claro…. Isto pensaram todas em uníssono, (pensar em uníssono? Compreendi-te!...)
Como se deixa ver, as regras, se as há, são mandadas às urtigas, e é o vale tudo que impera. Mas claro… Claro que são amigas!...isso nunca esteve em causa…
Depois abre-se a cataplana e o seu perfume serena tudo e todas. É engraçado mas comer bem, em regra eleva o espírito, até às mulheres!...
O vinho escorre-lhes pelas goelas, bebem como se de homens se tratassem e o efeito não se faz esperar. Como é sabido, estas coisas têm três distintas fases. Primeira, a euforia. Segunda, a melancolia. E por fim, se não se tiver parado de beber: a prostração.
Sorvidos que foram os primeiros golos, as comensais, individualmente consideradas, acham-se imbatíveis. Todas se consideram controladoras de tudo e todas as que a rodeiam, e as mais belas e esplendorosas criaturas. Não lhes cabe, por assim dizer, uma palhinha na “pandeireta”. Evapora-se a inveja e dissipa-se o azedume e hei-lo que chega, pujante, vigorosa, avassaladora, a segunda fase: A melancolia. Escorre viscosa por toda a sala, é uma comoção colectiva. Afinal sou uma “matrafona”, (não confundir com as: marafonas, bonecas de trapos, lindas, da aldeia de Monsanto)

                                                                                             
                                                                                                                                Matrafonas
                                                                                    

Marafonas
Já olhaste bem para ti por acaso? Eras tão bonita… Os palermas andavam a rapar à volta, vinham comer-te à mão… Agora, tens uma tromba que parece uma máscara Inca, o viço das carnes, murchou, a “virgínia”, que era uma rosa em botão, parece mais um “charrôco”…. Ai…Ai… Mais de metade do que consigo surripiar ao aperto de todos os meses, vai para “betume pedra” e p’rá Micas cabeleireira. O meu homem é uma seca, vem p’rá cama a cheirar a álcool e a colónia barata, das putas. “Odeispois” comigo, cruzes… Que vida!... Que merda!... O que me vale, são os meus meninos, queridos meninos….
E o sublime e genuíno sentimento maternal irrompe devastador. Comoção colectiva… Mas nenhuma dá pelo facto de isto ser uma onda gigante, colectiva… Todas por igual acham que é um assunto só seu, pessoal. Ai os meus meninos….
Os queridos de sua mamã… Como se fossem a extensão do seu ser, os filhos machos são para as suas mães os “Zorros” da história, que humilhando sexualmente as garinas, vingam as frustrações das suas progenitoras, que por sua vez, terão sido humilhadas da mesma forma no seu tempo.
Até que o Sandrinho, (assim se chama o “bacorito” sem pescoço) é muito bem aviado…. Não sai ao pai não…. E é tão bonito… Parece mesmo um daqueles retratos da “OLA”. Quando for grande hão-de ser assim de gajas atrás dele… E ele numa de desprezo, nem as olha e quando pousa o olho numa, Zás… Com o seu “Big-Bizu” racha-a “dáltabaixo”…



big Bizu
 Essas malucas têm a mania que são boas. Mas ficam a saber que a única boa a única que ele quer, é a sua querida mamã.
Por estas e outras razões, fica claro porque é que os homens têm atitudes machistas. Não se está a ver quem os educou para tal, pois não?
Estes sentimentos pouco edificantes, são por assim dizer a fronteira para a terceira fase. A prostração insinua-se ao de leve, o negativismo mais atroz, que de leve, passa rapidamente a pesado… Os olhos entaramelam-se, a voz tropeça e os jarretes claudicam. É física, óbvia e evidente a altercação. O sistema nervoso central, abre brechas por todo o lado. Mas a “psiké” continua a ser cabeça de cartaz. A fase aguda é cada vez mais evidente. Ouvem-se coisas de estarrecer, uma grita que já foi actriz de cinema e que até ganhou um Óscar. Só não sabe que é feito dele. E o príncipe do Mónaco chegou a propor-lhe juntarem os trapinhos, mas na altura não lhe dava jeito e a coisa ficou por ali, pela frustração do príncipe… Mas chegaram a beijar-se…. Pois claro…
A sala dá voltas e voltas a imponderabilidade é total, afinal o príncipe tem orelhas de burro e uma “piça” de querubim. O estertor leva a que se engalfinhem umas nas outras, num vale de lágrimas. Carnes, suor, ranho, base e rímel, misturam-se num cozinhado horrível… A cataplana jaz vencida e as garrafas tombadas são como o rei derrotado naquele louco xadrez.
Uma boa soneca deixará apenas uma dor na tola e um sabor a papéis de música, lá mais para o fim do dia.
Glorioso dia, que rica cataplanada…
Só de imaginar… Dói! Que cena…
Custa a acreditar que criaturas, que, com a sua beleza esbatem a fealdade das rotinas diárias dos dias de hoje… As sublimes mães dos nossos filhos, nossas queridas parceiras, não só de sexo, mas de jornada, por vezes até amigas, companheiras. As mulheres, que não só as suas “cataplanas”, estão ao nosso lado para o melhor e o menos bom. Confesso, que por vezes nos estão por cima… São-nos superiores, a bem dizer…! É consensual, que nos dão lições de como se sofre com estoicismo e são já hoje, nestes momentos mais chegados, nossas concorrentes na chamada escada do sucesso. È justo que se diga, por ser verdade…
Mas então como é possível, aquela loucura insana á roda da cataplana? Ora, está bem de ver! Tal como nas moedas, há duas faces, distintas e manda a retórica destas coisas, que contraditórias entre si.
A cataplana, é portanto e aqui, motor de reflexão sobre a natureza humana feminina. E não uma panela bizarra, que como já se disse, aberta e vista pelo lado de fora, parece a “peida” duma gaja boa….

Gaja boa com armadura vista de frente

Vila franca de Xira, Outubro de 2006

António Capucha