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terça-feira, 3 de agosto de 2010

A cataplana

É um tanto extenso embora as figuras esbatam um pouco esse fenómeno. Sobretudo um tal "Big Bizu", que embora não passando de um expressivo pimento, diz mais que tudo o que dele se possa dizer ou escrever.

Cá vai pois a Cataplana, obra não feita para o blogue, mas que, julgo, também não deslustra.....
tonica


uma cataplana



Ao contrário do que o nome possa sugerir, a cataplana é tudo menos plana. Há-as de diversos materiais, mas a cor e material dominante e tradicional, é o cobre. Quanto à forma, é consensual. As duas meias luas articuladas de um lado. E do outro, um fecho de mola. Fechada – quase hermeticamente - assemelha-se a uma lentilha gigante. Aberta e vista do seu lado de dentro, são claramente duas bacias geminadas, destinadas a conter qualquer coisa que se lhe queira meter dentro. Já pelo lado de fora, não sei como dizer isto…. Digamos que se as mulheres usassem armadura, seriam a cobertura traseira, ao nível dos seus opulentos quadris. Mais não me atrevo a dizer porque isto é um assunto sério….
Prossigamos!....
Este apetrecho de cozinha, como já se disse, feito em cobre, acrescenta-se agora: martelado, chega às nossas cozinhas cristãs pela mão dos artesãos árabes. Árabes, que à época eram quem detinha a organização política e social aqui neste corredor ao Sol. Eram portanto quem podia usar o martelo, sem que tal fosse tido como acto, ou tentativa de agressão. E no caso usaram-no para legar à descendência, este precioso artefacto, que faz maravilhas às nossas papilas gostativas. E de tal forma as excitam que o fogo do “pecado” só se aplaca com outro pecado igualmente ardente: um bom vinho – é o chamado contra-fogo. O pior, ou o melhor, é que ao fim do terceiro ou quarto copo, excitados pelo xarope e pelas conotações lúbricas da forma da cataplana, ficavam, os pacóvios dos machos ibéricos, nossos avoengos, muito empolgados. E alarve, parva e gulosamente punham-se a tirar medidas às cataplanas das suas “matronas”, que à pala disso, lá iam fazendo o gosto ao dedo, que é como quem diz…. Claro que isto é pouco Cristão, mas - e como Deus escreve direito por linhas tortas, o lado positivo disto tudo é que assim se foi alargando a prol e fundamentando o que viria a ser a nossa civilização.
Eis como – e pouca gente sabe disto – a cataplana está na origem do crescimento demográfico da nossa população. O que se sabe, é que quando já eramos mais c’ás mães, acabamos por correr com a moirama daqui p’ra fora e gamamos-lhes os martelos mai’las cataplanas.
Bom, mas deixemo-nos de “estórias” e voltemos ao cerne da questão. Esta ferramenta, dadas as suas características – o ser hermética e tal – confere-lhe a capacidade, a vocação por assim dizer, de coser (assim mesmo, com ésse) os sabores dos diversos ingredientes que se lá puserem. Adicionando um pouca de gordura vegetal, casa na perfeição toda a casta de legumes com, preferencialmente, peixe, mariscos mas também carne de qualquer ordem. A norma é que o lume tem que ser parcimonioso. A cozedura lenta é a norma nesta, como noutras coisas boas desta vida.
Nos nossos dias em que, dada a refinação dos nossos modos, nos transformamos em seres muito sofisticados e de “lambões” passamos a degustadores, pois então! Esta característica, de cozinhar lentamente, favorece e muito os actuais preceitos sociais, pois deixa tempo para o convívio, enquanto vai fundindo os sabores. E por esta razão e outras que não vêm ao caso, é amiúde o repasto tipo, das reuniões das nossas actuais “matronas”, cujas socializam entre si trocando, além de mimos, “tamparoweres” e mistelas da “Avon”como se de “tramoços” se tratasse. Adiante…



A matrona Montserrat-Caballe
 Só quem nunca tenha passeado nos bairros suburbanos de classe média, aí pelo meio-dia de Sábado é que nunca ouviu, o grito de guerra que ecoa pelas esquinas: Meninas… “Qué’-se” dizer, meninas, meninas, bom, digamos que sim!... (para ler como se um pregão de varina se tratasse)…A cataplana, está ao lume, vamos aqui badalar um pouco, enquanto apura!... Bom…
E desta forma, polida, lá vão confidenciando umas ás outras, segredos de “polichinelo” e as mentiras que todas sabem sê-lo, e que sem excepção passam impolutas num tácito e muito elaborado jogo, mente tu que eu acreditarei, “óspois” trocamos: minto eu que tu acreditas… Este jogo vem desde o tempo em que o primeira macaca desceu das árvores e se tornou “Mulher erecta”. Não se sabe muito bem o que é que ela endireitava, ou se era por se por de pé, que se dizia dela, ser “erecta”. O Kama-Sutra (manual de posições) da época, era muito menos vasto, e asseverava muito prosaicamente o “decúbito ventral”, versão articulada, como a posição normal da fêmea, que ganhou o cognome de “quasi-erecta” porque só se punha de pé para mandar vir… Pode no entanto agora, com alguma segurança, afirmar-se que tinha o condão de endireitar uma coisa nos “Homo-Erectus” que está provado “erectava-se” por influência directa dela. E esta é que é a verdadeira e científica razão de ser: “erecta”, no sentido de: aquela que “erectava”. (Dicionário Porrinhas)
Bom voltemos ao jogo…
O objecto fundamental deste jogo é a disputa de tudo. Seja o que for. Tudo e nada será matéria de contradição, sendo no entanto material mais utilizado: o aspecto físico próprio e o das outras comparsas, os seus meninos, os maridos… Ah e os trapinhos, nunca esquecer os trapinhos. Um exemplo disso – e escolho ao acaso - são os seus maridos. Estes têm sempre em triplicado tudo o que os das outras é suposto serem, ou terem. Os meninos idem, idem… As meninas estão todas no terceiro ano de “Bárbies”. Quanto aos trapinhos, Uiiii, nem ouso tocar nessa matéria… As suas regras, (as deste jogo) cujas nunca ninguém definiu, são no entanto sobejamente conhecidas de todas as participantes.
Claro que há improvisos, quem por este ou aquele motivo não tiver marido, ou filhos, ou ambos, pode sempre arregimentar uma qualquer figura estilística que o substitua. E há sempre um sobrinho para fazer as vezes de “vingador”. (adiante se verá porquê vingadores) Ah… Já me “desquecia”, é rigorosamente proibido jogar com os maridos das outras…. Adiante…
A “codrilhisse”…. Cala-te boca!.... É assim que se chama o jogo, é como um jogo de xadrez em que se mudam as regras a cada jogada. Percebeu? Não? Nem eu….
O que é verdade, verdadinha, é que línguas afiadas cortam o ar como chicotes dizendo coisas de assombro. Quem arrancar, AAAAh’s e OOOOOh’s, mais expressivos, demorados e densos, ganha o bacalhau. Porém, lá por dentro, onde o “tico” e o “teco” circulam a não sei quantos G Hz de velocidade - talvez não sejam assim tantos!... A actividade é frenética. Pelo canto do olho todas espiam todas, anotando mentalmente todos os pequenos - ou grandes - defeitos, descuidos ou erros cometidos à sua volta. Basta multiplicar tudo por todas, para se fazer uma ideia da estafa para os pobres “ticos” e “tecos”.


Tico e Teco
Exemplos, querem exemplos… Não percebo qual a necessidade, mas ‘tá bem. Lá vai:
(Diz uma mentalmente)
- Pois filha, fala p’rái. Apesar de só comeres tiras de coiro, estás mais gorda que uma bácora. Atiras cá uma cataplana que dava p’rá casa real de Espanha mai’la família do Cavaco Silva e comitiva… E a roupinha… Sacos de sarapilheira de cinquenta quilos…. Agora alto e bom som: - Oh Marília, estás muito mais magra, como é que fazes? Responde a interpelada de viva voz:
- Oh querida! Nada de especial… Faço muito exercício e uma dieta “Amaricana”.
Agora em surdina: Fuinha… Escanzelada… Deve ser por seres tão boa que o teu marido me deita olhares gulosos! Pudera, com o que tem em casa!... Está farto de roer ossos… E depois, vestes-te como se fosses a “Twiggy”, só que és p’rái do tempo do “Fons-Hinriques”... Galdéria… E os sorrisos acompanham esta guerra surda mas nunca declarada nem assumida…
De repente, cortando esta torrente de mau estar, lá do canto ouve-se: O meu marido vai comprar um “Bê - Mê - Dâblio… Cresce um coro entre o efusivo e o desdém enjoado: Que bom querida!... Que bom!….
Deves mas é andar a ganha-lo pelas esquinas!... Lambisgoia!.... Claro…. Isto pensaram todas em uníssono, (pensar em uníssono? Compreendi-te!...)
Como se deixa ver, as regras, se as há, são mandadas às urtigas, e é o vale tudo que impera. Mas claro… Claro que são amigas!...isso nunca esteve em causa…
Depois abre-se a cataplana e o seu perfume serena tudo e todas. É engraçado mas comer bem, em regra eleva o espírito, até às mulheres!...
O vinho escorre-lhes pelas goelas, bebem como se de homens se tratassem e o efeito não se faz esperar. Como é sabido, estas coisas têm três distintas fases. Primeira, a euforia. Segunda, a melancolia. E por fim, se não se tiver parado de beber: a prostração.
Sorvidos que foram os primeiros golos, as comensais, individualmente consideradas, acham-se imbatíveis. Todas se consideram controladoras de tudo e todas as que a rodeiam, e as mais belas e esplendorosas criaturas. Não lhes cabe, por assim dizer, uma palhinha na “pandeireta”. Evapora-se a inveja e dissipa-se o azedume e hei-lo que chega, pujante, vigorosa, avassaladora, a segunda fase: A melancolia. Escorre viscosa por toda a sala, é uma comoção colectiva. Afinal sou uma “matrafona”, (não confundir com as: marafonas, bonecas de trapos, lindas, da aldeia de Monsanto)

                                                                                             
                                                                                                                                Matrafonas
                                                                                    

Marafonas
Já olhaste bem para ti por acaso? Eras tão bonita… Os palermas andavam a rapar à volta, vinham comer-te à mão… Agora, tens uma tromba que parece uma máscara Inca, o viço das carnes, murchou, a “virgínia”, que era uma rosa em botão, parece mais um “charrôco”…. Ai…Ai… Mais de metade do que consigo surripiar ao aperto de todos os meses, vai para “betume pedra” e p’rá Micas cabeleireira. O meu homem é uma seca, vem p’rá cama a cheirar a álcool e a colónia barata, das putas. “Odeispois” comigo, cruzes… Que vida!... Que merda!... O que me vale, são os meus meninos, queridos meninos….
E o sublime e genuíno sentimento maternal irrompe devastador. Comoção colectiva… Mas nenhuma dá pelo facto de isto ser uma onda gigante, colectiva… Todas por igual acham que é um assunto só seu, pessoal. Ai os meus meninos….
Os queridos de sua mamã… Como se fossem a extensão do seu ser, os filhos machos são para as suas mães os “Zorros” da história, que humilhando sexualmente as garinas, vingam as frustrações das suas progenitoras, que por sua vez, terão sido humilhadas da mesma forma no seu tempo.
Até que o Sandrinho, (assim se chama o “bacorito” sem pescoço) é muito bem aviado…. Não sai ao pai não…. E é tão bonito… Parece mesmo um daqueles retratos da “OLA”. Quando for grande hão-de ser assim de gajas atrás dele… E ele numa de desprezo, nem as olha e quando pousa o olho numa, Zás… Com o seu “Big-Bizu” racha-a “dáltabaixo”…



big Bizu
 Essas malucas têm a mania que são boas. Mas ficam a saber que a única boa a única que ele quer, é a sua querida mamã.
Por estas e outras razões, fica claro porque é que os homens têm atitudes machistas. Não se está a ver quem os educou para tal, pois não?
Estes sentimentos pouco edificantes, são por assim dizer a fronteira para a terceira fase. A prostração insinua-se ao de leve, o negativismo mais atroz, que de leve, passa rapidamente a pesado… Os olhos entaramelam-se, a voz tropeça e os jarretes claudicam. É física, óbvia e evidente a altercação. O sistema nervoso central, abre brechas por todo o lado. Mas a “psiké” continua a ser cabeça de cartaz. A fase aguda é cada vez mais evidente. Ouvem-se coisas de estarrecer, uma grita que já foi actriz de cinema e que até ganhou um Óscar. Só não sabe que é feito dele. E o príncipe do Mónaco chegou a propor-lhe juntarem os trapinhos, mas na altura não lhe dava jeito e a coisa ficou por ali, pela frustração do príncipe… Mas chegaram a beijar-se…. Pois claro…
A sala dá voltas e voltas a imponderabilidade é total, afinal o príncipe tem orelhas de burro e uma “piça” de querubim. O estertor leva a que se engalfinhem umas nas outras, num vale de lágrimas. Carnes, suor, ranho, base e rímel, misturam-se num cozinhado horrível… A cataplana jaz vencida e as garrafas tombadas são como o rei derrotado naquele louco xadrez.
Uma boa soneca deixará apenas uma dor na tola e um sabor a papéis de música, lá mais para o fim do dia.
Glorioso dia, que rica cataplanada…
Só de imaginar… Dói! Que cena…
Custa a acreditar que criaturas, que, com a sua beleza esbatem a fealdade das rotinas diárias dos dias de hoje… As sublimes mães dos nossos filhos, nossas queridas parceiras, não só de sexo, mas de jornada, por vezes até amigas, companheiras. As mulheres, que não só as suas “cataplanas”, estão ao nosso lado para o melhor e o menos bom. Confesso, que por vezes nos estão por cima… São-nos superiores, a bem dizer…! É consensual, que nos dão lições de como se sofre com estoicismo e são já hoje, nestes momentos mais chegados, nossas concorrentes na chamada escada do sucesso. È justo que se diga, por ser verdade…
Mas então como é possível, aquela loucura insana á roda da cataplana? Ora, está bem de ver! Tal como nas moedas, há duas faces, distintas e manda a retórica destas coisas, que contraditórias entre si.
A cataplana, é portanto e aqui, motor de reflexão sobre a natureza humana feminina. E não uma panela bizarra, que como já se disse, aberta e vista pelo lado de fora, parece a “peida” duma gaja boa….

Gaja boa com armadura vista de frente

Vila franca de Xira, Outubro de 2006

António Capucha

1 comentário:

Anónimo disse...

interessante artigo. adorei antonio continue abc e lembre-se sempre, in vino veritas. cumps obgd a gaja tava mm boa