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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Na nêspera....



Levar na nêspera, ou mesmo na ameixa, não é coisa que se faça assim do pé p'rá mão. Não sei exactamente o que significam semelhantes expressões, mas tudo leva a crer que terá conotações lúbricas. Uma vez que não me passa pela cabeça ver uma nêspera ou uma ameixa a ser chicoteada ou simplesmente espancada. Sim que mal nos teria feito para merecer semelhante trato? Já da sua conotação lúbrica, não se pode dizer o mesmo. Normalmente arredada da nossa fruteira, esquiva e simultâneamente provocante, está madura no ramo mas fora do alcance. Como quem diz: estou aqui mas se me queres tens muito que trepar.... O mais das vezes está encoberta por uma floresta de parras e gavinhas e só a podemos adivinhar. Mas só de o fazermos, salivamos abundantemente com o cão de Pavlov....Erra a Santa Madre Igreja, quando atribui à pobre maçã, todos os males do mundo. A discreta e nutritiva maçã, está longe da perversão duma nêspera, ou duma ameixa. Até o pêssego, tal como o damasco, com a sua penugem, é mais perverso  que a inocente maçã, mas que querem, os Céus têm destas coisas.... É assim.... Primeiro, sonegam-nos frutos absolutamente indispensáveis à boa nutrição e impingem-nos uns querubins de rabinhos rosados como leitões de piças minusculas e ares seráficos, e insinuam como malditas as nêsperas, ameixas, pêssegos, damascos e até veja-se, a impoluta maçã. Caramba, não há cu que aguente....  Todas estas expressões, sentidos e significados, me escapam, á análise lógica das coisas tal como são. Concordam comigo, não é verdade?

                                          António Capucha

                          Vila Franca de Xira,31 de Janeiro de 2013

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Textos....




Os dedos correm céleres o teclado negro à sua frente. No monitor, à quase perpendicular do teclado, o texto ía ganhando forma, sentido!! As ideias aclaravam-se e íam sendo mantidas em memória. No canto superior esquerdo do monitor diz-se: Blogger: Peroração - Criar. E era o que estava a decorrer, o processo criativo do texto para o blogue. As ideias, paravam e recomeçavam a organizar-se segundo uma sequência lógica, escorreita.... Princípio de ideia, letra grande, fim de ideia ponto final, ou reticências, se a ideia ficou dúbia, ou de dualidade de valências,- se se insinua menos do que seria possível. Se fôr peremptória, termina-se com ponto de exclamação e se interrogativa, com ponto de interrogação. Às expressões novas, neologismos, ou imprecisas, isolamo-nas com aspas, e carregamos nas tintas se a ideia é grandiloquente, e esbatemo-las se forem supreficiais. Frivolidades, não são admitidas. Como se vê, macânica simples e directa, bem óleada....É assim que se faz, melhor: é assim que faço.  O resto é "estória" e começa assim. Era uma vez uma pàgina do processador de textos do blogue, em branco... Depois a vontade de cumprir a missão que a mim próprio me impus faz o resto, e pronto, já está feito, não vos chateio mais com prosápia da treta...

                                      António Capucha

                  Vila Franca de Xira,30 de Janeiro de 2013


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Lá longe, ao cair da tarde.......




Vão muitos anos, era eu um rapazola, feliz e contente, roedor de unhas e detentor do prémio de presenças em tudo o que fosse cegada e outras partes gagas, dum grupo de mariolas como eu. Vai tanto tempo que resta apenas uma imagem difusa disso tudo, num enorme borrão, onde se confundem, perigosas actividades políticas, bebedeiras siderais e espremer " garinas" até chiarem.... Desgarradas e cantorias muitas e a propósito de coisa nenhuma. Fados de Lisboa e de Coimbra, de fazer chorar as pedras da calçada.... - Lá longe  ao cair da tarde/ vejo nuvens d'ouro , que são os teus cabelos/ fico louco ao vê-los , são o meu tesouro / Lá longe ao cair da tarde.... - Claro que isto tudo por entre um coro de choradeira do mulherio... Mais as eternas baladas, de pendor mais politico, fruto da estúpidez do facho que as proibia, As plenos pulmões e sem rede cantava-se Adriano Correia de Oliveira , Zeca Afonso, Luis Cilia, Chico Fanhais, Pedro Lobo Antunes, sei lá tantos e tantos que nem dá para enumerar.... Tempos Heroicos, ou se calhar nem tanto.... Eramos novos e livres... E bonitos, pois então de cabelos pelos ombros elásticos, de costas largas e andar à galo.... Estão a ver o filme.... Vinte escudos de gasolina, e dávamos a volta ao mundo! O "Sinca 1000", desviado ao pai do João, sempenteava serra acima, direito aos queijinhos frescos, áh... E o pão caseiro da Mata... Ou, aos branquinhos de Bucelas, com toucinho assado com pão saloio e azeitonas. Não se aceitavam escusas!!!!.....

                                   António Capucha

                Vila Franca de Xira, 29 de Janeiro de 2013   

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

"Analgas" e galináceos....



Dia de "analgas", a nova moda é fazer "analgas" todas as semanas, para avaliar da densidade do sangue, que por sua vez determinará a quantidade de "drunfus" que devo tomar. É o meu mais recente castigo.... Estendo o braço à minha amiga Mena, e ela, com toda a delicadeza, extrai-me o sangue para a cabidela. Ao invés das galinhas eu não esperneio.... Lembro-me bem dessas coisas, a minha mãe 
comprava as galinhas vivas no mercado onde aguardavam as freguesas dentro de gaiolas feitas de paus, que depois o meu pai matava de forma ritual, que permitisse aproveitar o sangue que se misturava com vinagre numa tigela, para não coalhar. A parte mais chata era depena-las, com água a ferver por cima do pobre galináceo já morto, e arrancavam-se as penas à mão. Depois era estripada, e com cuidado seria feito para aproveitar o fígado sem rebentar o fel (a bilis). É óbvio que eram bem mais saborosas que estes frangos que hoje em dia se compram. Ele eram suflés, cabidelas e assados de se lhe tirar o chapéu.... Hoje vamos ao super-mercado, e lá estão eles limpinhos e sem penas nem tripas e também sem sabor, macilentos, anémicos.... Um ex colega meu, que mora em Fromteira / Alentejo, conta que um sobrinho seu que estava de visita, apareceu esbaforido em casa aos gritos, que estava ali fora um frango com penas.  
Agora até se vendem só asas, ou só pernas ou só peitos já desfeitos em bifinhos, miúdos à parte, o sabor é que se foi e de vez.... Dantes ía bem à mesa dos ricos, hoje, faz a festa dos pobres, é a carne mais barata do mercado.... Não faz mal que não tenha sabor, os pobres são como's cães, quase sem sentido de sabor, o que querem é encher a "mula", matar a malvada,  deviam é comer ração.... 

                                     António Capucha

                   Vila Franca de Xira, 28 de Janeiro de 2013

sábado, 26 de janeiro de 2013

O passeio da sagrada família....






Hoje foi dia santo. O bolinha a sua mãe, joaninha e seu pai, o timom, foram esticar-se para o parque aqui ao lado. Aquilo foi vê-los a cabriolar alegremente, não pararam um bocadinho. o mais dificil foi convencer a minha cara metade e a minha filha a desatrelá-los, para cabriolarem mais à vontade. foi um gosto vê-los em liberdade a correrem no relvado bem tratado.... O pequenito de perna curta a correr atrás do pai que lhe dava meia praça de avanço.... E a joaninha como sempre entregue aos seus porquês, seguia-os discretamente, como quem não dá importância ao facto de não os poder acompanhar. E é bem capaz de não dar, sempre foi muito independente, muito senhora do seu nariz....Mesmo no seu papel de mãe, nunca deu de avanço..... Embora fosse extremosa e possessiva. Até abnegada, o bolinha esmifrava-a toda e ela nunca recusou uma mamada , a não ser quando ele já era bem grande e com dentes.... Ainda hoje ela brinca com ele cheia de paciência, até lhe chegar a mostarda ao nariz, e dar-lhe duas rosnadelas, lá no tom que ambos bem sabem e ele cava dali o mais rápido possível e a ganir, como um menino mimado que é.... Vai para o colo da dona Rita a olhar para a mâe desafiadoramente, como quem diz : pois bem rala-te, 'tás a ver, quem é que precisa de ti, se sou amado, como sou, pelos donos, não 'tás a ver???

                                                António Capucha

                                Vila Franca de Xira, 26 de Janeiro de 2013

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Arrivistas.




Não é mentira nenhuma, é aliás a mais pura das verdades. Nesta última semana, o número de entradas no blogue subiu de uma media de trinta e cinco a cinquenta, para entre setenta e oitenta entradas diárias.  Um grande salto, diria!!! Quanto mais se cresce, maior é o orgulho e o sentido de responsabilidade. Sentimentos que trago desde sempre, de mão dada, em relação ao blogue. 
O senhor ministro Relvas, o tal que resvala para a fraude, Mais a sua cruzada contra a RTP, de tal forma sórdida, que transforma em boa, a pérfida RTP, face à ignomínia, da sua cruzada. Tão sórdida e acéfala que nem tem em consideração o aviso já deixado claro pelo único pai vivo do PPD, O Pinto Balsemão...... Pois o bom do tio "Balsas" já fez saber que a entrada de mais uma operadora privada de TV, a disputar o mercado, já de si exiguo, da publicidade, não é bem vindo, e arrisca-se a acabar de vez com todo o sector privado da comunicação social, faria baixar de tal forma os preços de tempo de antena e espaço nos jornais, que a maioria deles não se aguentaria.... Bom se há alguém que seja especialista na área da comunicação social privada esse alguém é o tio "Balsas".... Mas estes arrivistas deste governo, não respeitam coisa alguma, surdos a tudo baixam a cabeça, e marram tudo a direito.... A petulância cega-os, a falta de cultura política, é tão evidente que até dói. Se eu fosse do PPD, estaria muito preocupado.... Esta terceira linha do PPD que é o governo , são badamecos nas mãos do velhaco dos Portas e Cavacos e tudo o mais que lhes rói constantemente a corda. Esta vaga ultra liberal não deixará História.... E saudades é evidente que não deixa.....

                                     António Capucha

                   Vila Franca de Xira, 25 de Janeiro de 2013    

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

"Endurance"



Passou a correr revista à sua História recente e serenou o espírito. Tinha sido posto à prova e resistiu. que mais se pode exigir da vida senão estas pequenas/grandes, vitórias.... O triunfo, do espírito sobre a matéria... Não o espírito esotérico, mas o consciente, o racional. Sabemos ser resultado de reacções quimicas complexas, mas chamamos-lhe, espirituais para as distinguir das outras que gerem a máquina que também somos. Mas aí bate o ponto. Quando a gestão da máquina determinou a morte, o espírito recusou-a. Não quero com isto dizer que triunfou sobre a morte, isso era pedir meças ao Cristo, coisa que não se faz.... Isso seria roubar a razão a milhões de seres, que nisso baseiam a sua existência. e ele não se sente capaz de semelhante dislate. Apesar de sentir dentro de si, um pequeno demónio com o rabinho a dar-a-dar.... Uma pontinha de vaidade incontornável. O inegável triunfo dos sentidos sobre a mecânica, é a origem da força que o norteia. As peripécias desagradáveis que ocorrem, são pigméus face ao gigantismo desta realidade, forte e ténue, ao mesmo tempo. E tantas são essas pequenas coisas desagradáveis que preenchem o dia-a-dia, tormentos que gimnasticam os sentimentos, dão-lhes "endurance", aquela que nos torna mais elásticos, mais ágeis, mais preparados.... 

                                      António Capucha

                  Vila Franca de Xira, 24 de Janeiro de 2013

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Origens.



Gandalf, bateu com o bastão na testa e exclamou: Claro, que cabeça a minha, tu és o Capucha o tetra-tetra neto da capuchinha vermelho, e tal como ela és vermelho. Sim mas não sou do Benfica, ripostei.... Sou vermelho mas por outras razões. Que não vale a pena, aqui, esmiuçar..... Os factos ficaram bem claros num post aqui publicado há uns anos,(As espantosas aventuras do insuspeito João “Tabefe”) portagonizado pelo emérito João Tabefe, que terá privado com a avoenga capuchinha vermelho, salvando-a das dentuças do Lobo Mau. O resto é mitologia.... Esta é a verdadeira história dos acontecimentos então vividos.As minhas remotas origens, não me trazem mais orgulho do que o devido. Aliás não há mérito, ou demérito, em ter nascido assim ou assado. Mas tenho orgulho, isso sim, em ter tido origem numa personagem do nosso imaginário colectivo. Mais para trás não dá para remontar a história, os nossos antepassados eram membros indistintos, de uma matilha de "mabecos" caçadores..... E mais recentemente  a Igreja, adensou o mistério, determinando que somos todos indistintamente, filhos de Deus. Só que alguns, a maioria esmagadora, são filhos de um Deus menor. Coisas!!!! Eu porque sou ateu, posso ser distinguido pelo facto de ser filho de quem sou. Coisas!!!! 

                                    António Capucha

                 Vila Franca de Xira, 23 de Janeiro de 2013

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Ciclo de Jazznoaav.... No Ateneu....


Rotinas....




São cinco e cinquenta e cinco da manhã, não adiantava nada estar na cama e levantei-me para tomar uns cafés e comer umas laranjas. Não preguei olho de qualidade nenhuma durante toda a noite, ontem já tarde tive desdita de jantar  uns restos de cozido e aquela panóplia de sabores, aliás bons, ficou-me a trabalhar no estômago, como soi dizer-se. Ora como tenho o sono em dia, não consegui adormecer..... Sem drama nenhum. Não passa nada, foi só um tropeção.... Amanhã devo acordar já refeito deste dislate.... É uma daquelas coisas de que falava ontem, é um desvio à rotina por um lado e é a manutenção das rotinas por outro, apenas começam mais cedo. Já lá vai o tempo em que me desagradava esta coisa de uma vida rotinada... Todos os heróis dos romances existêncialistas, cavalgavam a vida, riam-se das rotinas, só que não tinham uma vida verdadeira, tinham a que o Albert Camus, ou o Jeam Paul Sartre, inventavam para ele e deleite dos leitores.... E eu apesar de andar muitas vezes nas nuvens, vivo uma vida real.... Um reporter fotográfico da National Geográfic, parece não ter rotinas. mas tem-nas, só que mais alongadas, não são diárias, digamos....  E qual é a sua rotina? É a de preparar um projecto e esperar que a N. G. lhe pague para a realizar, e assim sucessivamente. Claro que é uma rotina.... Só que de passo largo....  A propósito de alargar o passo, ontem setenta pessoas visitaram o meu blogue. Que orgulho.....Ainda não são seis e meia, e já cumpri a minha obrigação para com o blogue.... Até mais logo, a horas de gente.....

                                        António Capucha

                    Vila Franca de Xira, 22 de Janeiro de 2013

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Dias e dias....







Acabou o fim-de-semana, regressou o Sol, violenta e luminosamente, invade-nos a casa entrando pelas grandes janelas. Mas quê, é Segunda-Feira, dia maldito... nem dá para alegrar, também valha a verdade, tão pouco dá para lamentar. Apenas o ordenamento dos dias corre a ordem austera, sem que haja ordem de subverter seja o que fôr. Aceitemos pois esta rotina. É como outra qualquer. Uma sucessão de coisas iguais e sem remissão, aqui e ali salpicada por esta ou aquela variação sem "Rei nem rock"..... Raras e por vezes sublimes... O mais das vezes, elas próprias sujeitas a uma rotina. A vida é feita disso, de rotinas e variações sujeitas à lei da rotina. Parece estúpido, mas é assim, Há que aceitá-lo e cara alegre.... Porque a alternativa é o desânimo, e isso é que não. Querem um exemplo, pois cá vai: Todos os dias tenho que escrever algo para o blogue, é assim como uma disciplina. Todos os dias um tema diferente, a quebra de rotina.... No entanto todos os dias, rotinadamente, imponho a mim próprio esta missão, e isso é uma rotina.... O melhor é não ligarmos a esses pormenores e seguir em frente, a bem da nossa saúde mental!....


                                               António Capucha

                          Vila Franca de Xira, 21 de Janeiro de 2013

domingo, 20 de janeiro de 2013

Enterro do entrudo....




Agora que o ti-ti bolinha já está vacinado, o tempo não deixa que vá passear à rua, mais precisamente, ao Parque Municipal fronteiro aqui a casa. Esta tempestade horrorosa não amaina nem pela lei da rolha.  É chuva, é vento, sei lá é o diabo.... Ontem saí, correndo o risco de apanhar uma molha, mais a cara metade. Fomos ao mercado, não o mesmo onde Passos Coelho diz que vai ainda este ano, mas ao municipal de VFX, comprar umas coisinhas para o fim-de-semana. As carnes para um cozido, mais o repolho os nabos, cenouras e os enchidos à maneira, da charcutaria do canto, fiambre queijo e azeitonas, tudo da melhor qualidade..... A carne de porco do calçada, é qualquer coisa de se lhe tirar o chapéu. Já não há é o costume de ter uma banca de carnes salgadas, toucinho, orelha, focinho e unhas. E o sal em excesso, usavamo-lo para temperar as sardinhas, que ficavam muito mais saborosas. Pequenas coisas que vão desaparecendo..... Como o Enterro do bacalhau. E que raio de coisa era essa. Na Quarta-Feira depois do Carnaval arranjava-se uma carroça, e punha-se em cima um qualquer vagabundo tapado com uma manta, e a malta ía num berreiro desgraçado a chorar a morte do entrudo, pelas ruas da vila, depois no fim, já altas horas, fazíamos e comíamos, uma "punheta" de bacalhau. Hoje já não se vê a "maltosa" fazer isso. Não era grande evento, ainda assim não seria isso razão para desaperecer do calendário de eventos... Nem era um acontecimento  culturalmente importante, mas tinha a simplicidade e autenticidade das coisas populares. E é uma pena ter desaparecido na voragem do tempo.... Acho eu!  

                                      António Capucha

                  Vila Franca de Xira, 20 de Janeiro de 2013

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Até quando?




Não é saudável a atitude que este governo pretende que tenhamos. Eles conferem-nos o pior dos papeis que se pode ter neste filme que é a nossa vida colectiva. Paga e não bufa, assiste à destruição dos  teus direitos constitucionais, mutismo absoluto, sepulcral, diria..... Não é saudável, como disse... Pessoas assim, por muitas voltas que se dêem, não constituem uma comunidade, apenas serão uns milhões de ilhas, estereis. O governo pretende-se pairar por cima disto tudo, deste arquipélogo monstruoso, informe e disforme, que é de seu desejo que sejamos. Ainda que o fossemos, sobraria sempre a seguinte questão:  que espécie de legitimidade teria um governo cujos objectivos fossem estes? Diria que à luz dos preceitos democráticos, nenhuma.... Mas a própria democracia nos impõe que uma demissão destes idiotas apenas terá lugar em eleições gerais, isto é, ainda têm uns tempos para continuar a fazer merda. A oposição PS, aposta nesta regra, já fez saber que deseja uma maioria absoluta. não é de todo impossível. O povo deseja penalizar este governo de forma inquestionável. A questão é saber se o PS terá ganas para reformar e reverter as malfeitorias que esta corja levou avante. Será preciso o quê para este povo nos fazer sair desta rotatividade entra PS e PSD, com ou sem CDS? Uma hecatombe, tipo maremoto que suba o estuário do Tejo até Trás-os Montes, varra todo o país de Norte a Sul e de Este a Oeste. Então aí sim, apredenríamos a defender as nossas convicções votando nas ideias, e não a apostarmos nos mais "arrumadinhos", e de ar austero e "engomadinhos", de aparente inteligência e de competência indiscutível... QUANDO É QUE APRENDEMOS!.....

                                        António Capucha

                   Vila Franca de Xira, 18 de Janeiro de 2013

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Guerra Colonial.



A peça publicada ontem, versa o tema da guerra colonial. Foi o facto mais marcante do Século passado, e, as suas contradições deram origem ao "Vinte Cinco de Abril", fronteira da liberdade. Data Histórica da maior relevância, levada a cabo pelo Movimento dos Capitães, no fundo por todas as forças Armadas, que já não puderam aguentar tantas contradições geradas pela guerra colonial. O fascismo português não era muito diferente dos outros povos colonizadores, mas era bem mais estúpido e autista. A Inglaterra, a França, a Bélgica, a Holanda, não eram colonizadores mais frouxos que nós, também tiveram as suas guerras coloniais. Só que duraram menos e terminaram diplomaticamente, com muito mais vantagens económicas que nós, foi a estratégia do neo-colonialismo. O fascismo Nacional nem para isso teve habilidade, apesar das pressões internacionais do isolacionismo expresso na ONU; foi-se mantendo irredutível, a política do "orgulhosamente sós". Miopia que lhes terá custado a Revoluçao de Abril, com a consequente queda do fascismo. Que fruto de outro tipo de contradições, nos trouxe a esta situação longe de ser brilhante. Um dia quando tiver paciência reflectirei sobre este tipo de equívocos que nos trouxeram até aqui. Mas ainda é um pouco cedo para o fazer, as feridas ainda estão abertas, e estar a reflectir sobre este tipo de questões cheios de "betadine", arrisca-se a correr riscos de erro que não quero cometer. Vamos pois, com calma.... Que o papagaio vai alto....

                                        António Capucha

                       Vila Franca de Xira, 17 de Janeiro de 2013

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Soldadinho




O Francisco conseguiu "acordar" o disco duro onde estava esta, e outras obras. Tal como foi prometido publico hoje a minha primeira e única, até à data, incursão dramaturgica. Foi escrita a pedido de um amigo, o Carlos Fernandes, que aderiu ao teatro após a reforma. Nunca é tarde! corria o ano de dois mil e dez. 

                                    António Capucha


                  Vila Franca de Xira, 16 de Janeiro de 2013




O SOLDADINHO

Peça em Quatro actos

                        Personagens por ordem de entrada em cena
André – O Pinante
A mãe – Sr.ª Maria
O pai – Sr. Zé
Rosinha
Vários – cenas do cais
Alferes Mil. Almeida
Furriel Mil. Enfermeiro Fonseca – O Tesouras
O Armstrong – o Corneteiro
Soldado Joaquim – O Metralha
Capitão Faria
Tenente Fonseca – O Chico
Vários Militares – Mensagens de Natal
Os mesmos em Parada
Soldado maçarico
Capitão Salgueiro Maia

1ºACTO


Cenário: Cozinha de casa de aldeia. Lareira térrea, fogão de lenha, talha de água. Mesa sólida e rústica no centro. Adereços vários que se coadunem com as características sócio-culturais da ruralidade em finais dos anos sessenta do Século passado em Portugal.
Em cena está a mãe a preparar o almoço. Sentado no topo da mesa oposto à posição da senhora, está o pai que espera a refeição. Ela doméstica, ele pequeno proprietário rural. Ambos na casa dos quarenta anos bem puxados…. Usam trajos de trabalho, porque é dia de semana, uma Sexta-Feira que antecede os festejos da Rainha Santa Isabel, padroeira da aldeia…    
De fora de cena-
AndréMãe???… Ah ‘nha mãe…onde é que está a minha gravata de camurça?
Mãe - Está aí! Pendurada nas costas da cadeira para arejar.
Pouco depois ouvem-se passadas francas e descida ágil de escadas de madeira. André Entra em cena nos seguintes preparos: Colete, camisa branca bordada, calças da tropa, boina militar no alto da cabeça, botas da tropa desapertadas e a gravata, de uma cor bem contrastante: vermelha. 
 André –  ‘Nha mãe?’ Tou ou não ‘tou bonito? (e roda sobre si mesmo)
 Mãe Óh rapaz…(diz entre risos) “Antes descalço que sem gravata”.  Alvarenga! ‘Tás ‘tás, tás bonito!!!! E os sapatos ‘atão, são do melhor….
Pai – (Rindo também) As cachopas até vão cair de banda….
André – Meu Pai…. Vai ver que vou passar a noite toda a bailar c’a Rosinha….
Mãe - Por falar em Rosinha….Meu filho, se calhar é melhor não te chegares muito a ela. É que ouvi cá ‘mas coisas?!?!?!
André – Áh ’nha mãe…. Que é que a senhora ouviu?
Mãe - Nada…. Nada…. Anda, vai mas é tirar essa roupinha antes que a sujes, e anda comer.
André – Nã… Nã… Agora tem que dizer.
Mãe – Óh rapaz…. Não foi nada, sossega….
André – ‘Nha mãe?!?! (empertigado)
Mãe – Ai, ai….. Por que hás-de ser tu assim? Não tem importância nenhuma. São coisas que se dizem.
André- Mas o quê? Que é que a senhora ouviu? O qu’é que se diz?
O pai faz um gesto de assentimento para a mãe sem que o André dê conta
Mãe – (hesitante) É que tenho medo por mor de ti.
Os irmãos da Rosinha dizem que se fores ao baile e se te chegares muito a ela… Dão-te uma coça que sais de padiola….E….
André – E QUÊ ‘NHA MÃE?????
Mãe – Não é isso meu filho…. Eu tenho é medo que dês para lá uma tareia em alguém!!!!!
André – ÀAAh BEM….. (dá uma volta à cozinha, todo pimpão)
Depois, insufla o peito d’ar e sai por onde entrou… voltam a ouvir-se:  subir de escadas e as passadas firmes.
Pai - Já cheira!
Acto contínuo, a mãe pousa em cima da mesa a panela fumegante que tirara do fogão.
Mãe – ( gritando) ‘Tá na mesa….
Voltam as passadas. André entra e senta-se à mesa, já em trajos do dia-à-dia. O pai corta o pão em fatias…
Pai – ‘Atão a tropa rapaz?
André – (com desdém) Áhhhh aquilo é canja!
Vocemecê dizia que aquilo era UHHHH, do pior. Mas afinal aquilo não é, é p´ra meninas…. Só a comida é que… Não é aqui com’á da ‘nhã mãe n’a senhora…
Que saudades. Tá tão bom o caldo…. E o Pão? (cheira-o)
E come avidamente, que não alarvemente, mas com manifesta satisfação própria dum jovem que vende saúde.
Pai – Maria… Passa-me aí a broa. E bota um pouco mais de toucinho…
André – Pai, Como é que vai A courela da Tapada Nova? Já dá para semear qualquer coisa?
Pai – Ainda não! Aquilo é uma terra dum cabrão, dura como cornos!!!
A Maria interrompe-o! Benze-se.
Mãe –  Abrenúncio Zé…. Que linguagem! À mesa não se pragueja e à frente do rapaz e tudo…
André – Quais rapaz ‘nha mãe??? Eu já sou um “home” À tropa só vão os homens!!!!
Pai – Pois e eu que o diga, Fazes-me cá uma falta. Um braço-de-trabalho como tu e a Tapada Nova já rendia….
Ouvem-se pancadas fortes na porta da rua.
Pai - Deve ser o Zé tremoço… Combinámos ir ver umas rezes.
André –(fazendo menção de  se levantar) Eu vou abrir.
Mãe - deixa-te estar, acaba lá de comer.
Sai de cena, e ouve-se de lá.
Mãe - Áh é voçemeçê, sr. Adérito?
É o correio! (Diz para dentro).
O pai que entretanto já se levantara, volta a sentar-se.
Entra a mãe com uma carta na mão. Entrega-a ao André e diz com gestos equívocos… E o mal disfarçado desconforto típico dos infelizes analfabetos, que à época, eram uma grossa fatia da nossa população adulta….
Mãe – lê tu meu filho, q’eu n’a vejo bem, e n’a tenho aqui os óculos….
André – É p’ra mim…. É da tropa…
Com ansiedade mal contida abre o sobrescrito, desdobra o papel e lê.
André – Hã…aã…ã….ã…,ã…..ã….ã….., notifica-se o 1º Cabo André Vaz Silvados - Sou eu – de que deve apresentar-se no Regimento de Cavalaria 4 em Tancos, até ao dia 1 de Outubro, afim de formar Batalhão…Tal….tal…tal…. Junta-se Guia de marcha e requisição de transporte…..e por aí fora……... VOU P’RÀ GUERRA! Viva…. VOU P?RÀ GUERRA….
A mãe, como que fulminada, cai de joelhos. O pai fica de pé hirto e de olhar fixo não se sabe bem onde. O André rodopia e salta de contente.
André - Áh n’ha mãe…..não se amofine senhora n’há mãe…. Eu vou lá, mato os “turras” todos e não tarda um “fórfo”(um fósforo – popular)  estou de volta….Mãe fale…. Diga qualquer coisa!!!!
O pai sem abandonar o ar distante, diz por seu turno.
Pai – Bom mulher… eles na “tlefonia” Dizem que a nossa tropa esta a dar cabo deles. Que os pretos são uns cobardes. Só atacam civis, agricultores brancos, tementes de Deus, como nós…..
A mãe parece surda a tudo. A sua expressão revela que algo parou no seu mundo. É como se lhe tivessem esvaziado o cérebro. O pai prossegue após breve pausa…
Parece que se está a auto-convencer.
 Pai - “Ódespois” eles só têm catanas. Deus não passou por ali… Aquilo são uns selvagens que querem roubar aquilo que é nosso…
André – Mãe… Há-de passar-me a farda a ferro que é fardado que eu vou ao baile. Sempre quero ver a cara dos palermas dos irmãos da Rosinha…… E ela, por força que vai ficar caídinha por mim… Hei-de “bailhar” e “bailhar”, rodopiar tanto que levantamos voo. Até a Santa vai juntar a voz ao povo e gritar: Aí “bailhador”!!!
E quando eu voltar d’África vou casar com ela…. E é já que vou tratar disso. Se lá estiver o Sr. Jacinto, é amanhã mesmo que lhe peço a mão da Rosa – Sr. Jacinto… dá-me a honra de namorar a sua filha? (arremeda) E o que é que tu meu rapaz, tens para lhe dar. Saiba que quando voltar da guerra, venho feito Sargento…. É como estar aqui. (arremeda de novo) 

Sr. Jacinto - Bom se é assim!....
O pai lá no fundo acha que a telefonia mente, e o filho voa alto demais, mas mantém no entanto a atitude para não estragar a felicidade radiante dele, que de certa forma lhe agrada…. Moço valente!
A mãe, desde a infausta notícia ficou prostrada, balbucia coisas como quem reza. E em crescendo a sua expressão parece um balão prestes a estoirar. E estoira….
Mãe - (Agarrada ao vestido ao nível do peito, que torce e contorce como se quisesse dilacerar-se) Trouxe-te dentro de mim, rasgaste-me ao saires… amamentei-te, mimei-te… O meu menino… Agora levam-te não sei p’rá onde…. (num grito, bem do fundo da Alma estende os braços) MEU FILHO!!!!!

FIM DO 1º ACTO

                                                     

                                                      




2º ACTO
Cais da Rocha do Conde d’Óbidos, Lisboa. Transatlântico encostado …. É o Niassa 
                                                                    



 Depois da parada militar é permitido aos militares um último adeus à família e amigos. Eram naturalmente momentos de enorme intensidade dramática. Após o que embarcavam.
Ambientes iluminação e efeitos sonoros a propósito. Todos os elementos do grupo disponíveis, em palco como familiares que se despedem, ou militares que partem. De modo a não afectarem a percepção dos diálogos das personagens centrais, podem e devem intervir com frases a propósito que alternam com murmúrio de multidão segundo determinação da encenação.
Em cena André, a mãe, o pai e a Rosinha.
André, embora respeitosamente, tal como o”Niassa” está atracado ao cais, está ele por sua vez atracado à Rosinha.
Ela e a mãe de André, esforçam-se por reter as lágrimas. O pai figura patriarcal da família, parado direito e com um esgar facial entre a cãibra e o sorriso.
A mãe, entre o pai e a rosinha, não para de ajeitar a farda do garboso 1º Cabo André Silvados – o Pinante para os camaradas….
André – Rosinha? Esperas por mim?
Rosinha – Hei-de contar as semanas, os dias, as horas, os minutos e ao acordar será para ti o primeiro pensamento…  
Vou pôr flores ao pé do teu retrato, todos os dias. E vou começar a bordar o véu de noiva que hei-de usar quando casarmos.
André – E eu Rosinha, Fardado de Sargento, tudo a dourado…. Vais ver…
Rosinha – É mais bonita que a farda da “busa”? (a banda filarmónica)
André – Se é mais bonita???? É assim mal “acomparado” a Rainha Santa e a “T’amaratónha”(Ti’ Maria Antónia, uma anciã, que coitada pouco devia à beleza e “amandava” uma “bigodaça” de respeito)
Mãe – André!!!! Já te disse que não fales assim da velhota…. Ela até passou lá por casa e deixou uma bôla de carne para levares…. Diz que é pró caminho…
Desde que eras menino…. que ela gosta de ti… Eras um menino tão lindo…. (e as lágrimas atrevidas assomam-lhe às pálpebras, disfarça virando-se para o lado fingindo observar o paquete.)
André – Era não!!! Sou!!!!
Rosinha – Vaidoso!!!
Riem todos…
Pai – Gaba-te cesto!!....
Todos - …. Que amanhã vais à vindima!!!!  
Riem de novo.
Poderoso e fero, o “ronco”  da sirene do navio sobrepõe-se a tudo. 
André perfila-se perante o pai faz a continência a que o pai corresponde, e diz.
André – Estão a chamar-me…. Sua bênção meu pai!  
O pai puxa-o para si e abraça-o fortemente e vá lá saber-se como, uma lágrima bailarina, percorre-lhe a face sulcada de rugas e curtida pelo Sol e a neve.
André também passou a mão pelos olhos, mas logo um sorriso lhe assoma ao rosto, como o Sol que irrompe das nuvens…
André – Sua bênção ‘nha mãe.
A mãe cobre-o de beijos, de mistura com uma corrente indomável que lhe brota dos olhos. Mal conseguindo dizer:
Mãe - Deus te guarde meu filho… Deus te guarde….
Esta torrente maternal quase não tinha fim. Firme, se bem que suavemente o pai agarrando-a pelos ombros, tenta em vão separá-la do rapaz…Luta absolutamente desigual. Nada é mais forte que o amor maternal. O pai maneava a cabeça na direcção da Rosinha e então a pobre da Maria, lá aceitou ficar-se pela solidão das suas lágrimas.
O André “rouba” um beijo à cachopa. Os pais fazem de conta que não viram. Então a libido e os vinte anos de ambos fazem o resto… Fundidos num só, trocam carícias…
O “rásparta” do vozeirão do barco irrompe de novo, rugindo a ordem de embarque que o arranca aos braços trémulos da rosinha que lhe diz num soluço:
Rosinha – Escreve!!! Cá fico à espera! Escreve amor!!!!
Passam por eles camaradas do André… Perdão! Do Pinante….
1º Camarada – ‘Bora Pinante… é a última chamada!
2º Camarada – Pinante… “‘Tá do ir”….
Sobem as escadas de embarque a correr e vão empoleirar-se onde calha e de onde vêem, e acham que serão vistos, pelos seus durante mais tempo, numa tentativa vã de inverter a marcha do tempo….
 Acena-se freneticamente dum lado e doutro do cais. De cá, de permeio com lágrimas e lenços a acenar, que escrevem no espaço: Nós amamos-vos tanto…. E de lá, sorrisos confiantes que dizem: Não se preocupem. Vamos voltar…  Isto mesmo, pode ser dito de um lado e o outro do cais…
O navio afasta-se….
A mãe ainda balbucia:
 Mãe – Adeus meu querido filho!
Rosinha – Cá estarei meu amor!!!
Breve pausa.
Mãe – Eu cá só me apetece é ficar aqui até quê’le volte.
Rosinha – Eu fico consigo, senhora minha mãe.
Pai – Vá… Vamos mas é p’ró comboio, que os animais já hão-de estar com fome.



FIM DO 2º ACTO



INTERVALO


Aquartelamento militar da tropa portuguesa na mata africana de uma qualquer das nossas ex Colónias.  Pavilhões grandes com janelas e telheiros na frontaria, tudo cercado por uma paliçada, onde estão instalados vários postos de defesa do perímetro. Efeitos sonoros a condizer.
Passaram já quase dois anos desde que o Pinante largou do cais da Rocha do Conde d’Óbidos. É fim de tarde, um daqueles fins de tarde que só se vêem em África. Todos os elementos disponíveis fazem figuração de militares.
Em cena: o André –o Pinante – Um camarada – O metralha – O Capitão Faria, O Alferes Miliciano Almeida; o Furriel Miliciano Enfermeiro Fonseca - o Tesouras – O Tenente Esteves – o Chico – e o corneteiro – o Armstrong ….
Alferes Almeida – Óh Armstrong, Toca aí para o arriar da Bandeira!!!! (efeito sonoro correspondente)
Para além deste duvidoso interprete musical, perfilados no centro da parada estavam já o Pinante, cabo de dia à unidade; o Furriel Tesouras, Sargento de dia à unidade e o Alferes Almeida de Oficial de dia. Soa o toque e o Tesouras vai descendo a Bandeira Nacional e toda a gente presente na parada em continência. Terminado o acto o alferes Almeida comanda:
Alferes Almeida – Direita vol…. ERRRR. Destroç…ARRR.
Dirigiram-se todos para debaixo do telheiro.
Pinante – Óh Tesouras o “Heli” hoje trouxe correio? É que vai p’ra uma semana que tive o último “aerograma”
Tesouras – Não, não veio nada, só correio para o comando.
Metralha – Estás é mal habituado… Eu há mais de um mês que não me toca nada…É que ninguém me pergunta o q’ué q’eu tenho!!!
Pinante  - ’Atão tu não tens uma “flausina”lá na Châ, a morrer d’amores por ti.
Metralha – Só me escreve a velhota. Quer dizer… Escrever, escrever  não escreve. Quem escreve os aerogramas é o Padre…. Porra, é cada seca….A velhota, mesmo analfabeta, não dizia aquelas “parvoadas”. Um  dia destes mostro-tos, tenho-os todos guardado, percebes….  seja como for, são da minha mãezinha!
O Capitão Faria sai a porta do pavilhão do Comando com o tenente, e chama pelo Alferes.
Capitão Faria – Óh Almeida trate de avisar toda a gente que p’rá semana vem aí uma equipa da TV, para gravar as mensagens de Natal.
Alferes Almeida – OK Capitão, fique descansado.
Tenente Fonseca – o Chico - O pessoal que passe pelo Escovas – O barbeiro da companhia – q’ueu não quero gajos com mau aspecto a falar p’rá Metrópole…
Pinante – (Entre dentes…) Mau aspecto tens tu que andas sempre bêbado… Chico da merda.
Alferes Almeida – Coitado é um frustrado. Sabes ó Pinante, este gajo anda sempre bêbado e é assim porque é um menino da Academia Militar, foi fazer no curso de “paras” e chumbou. Esses tipos levam isso como um caso de honra, neste caso, de desonra. Então radicalizou-se militarmente para disfarçar o seu falhanço. Tu que és um tipo inteligente, entendes que ele é, é digno de pena.
Pinante – Não sei meu alferes…. Eu também cheguei aqui com montes de basófia, que ia matar “turras” como quem mata moscas, também vi destruídas a minhas convicções, e nem por isso me entreguei à bebida ou me tornei mau. Mas também não me tornei cobarde.
Alferes Almeida – Isso é verdade, diz-se p’raí que davas um bom Sargento…
Metralha – Elá… Ó meu Sargento Pinante. (mima a continência)
Pinante – Porra… Escolhe outro. Quero é ver-me livre desta estúpida guerra e ir para a terra estudar, casar e trabalhar.
Esta guerra não é p’ra mim… E se virmos bem, nem é para ninguém. (Sem se darem conta, a noite foi caindo. Efeitos sonoros de noite africana. O Pinante acende um cigarro, puxa duas fumaças e prossegue) ….
Lá em Portugal é fácil convencerem-nos de que esta guerra é uma guerra patriótica… E tal….. E porquê? Porque nós lá estamos completamente às escuras acerca do que é isto aqui.
Dei muita volta na cama e à cabeça, para encaixar nas minhas ideias, a valentia, as ganas, com que os pretos lutam. Claro que não encaixava! Lutar da maneira que lutam e serem cobardes!!!! Não bate certo. Então entendi que só podia ser por uma razão…. (puxou de mais umas fumaças. Notou então que os seus camaradas esperavam uma conclusão. E não os desiludiu)
Estamos aqui a fazer guerra em nome duma mentira pegada. Esta terra é deles, por isso a defendem com unhas e dentes. E, levem-me preso, façam o que quiserem, mas ninguém me tira desta.
Fez-se um silêncio sepulcral… Estavam todos ainda a digerir o que o Pinante tinha dito. Bom, todos não….Ao Alferes via-se-lhe um brilhozinho nos olhos. Levantou-se deu uma palmada amigável nas costas do Pinante e disse:
Alferes Almeida – Algo me diz que estás cheio de razão… Havemos de falar mais sobre isso. Mas agora vou Jantar. Boa Noite.
Tesouras – Também vou… Até amanhã.
Todos -  Boa noite… Até amanhã.
Metralha – Mas olha lá. Eu já estive contigo em combate e tu lutas como um leão!?!?
Pinante – É que temos de ser uns para os outros. Temos que nos proteger em conjunto, fazer uma equipa. É assim como treinar cães pastores lá na terra. O treino aproveita o instinto caçador dos animais tal como os que mandam, usam a nossa entreajuda para fazer esta guerra suja. Percebes?.... (o metralha não entendeu lá muito bem, mas faz que sim com a cabeça)
Bom…. Vamos jantar?
Metralha – Vamos embora. O que é que será a bóia?
Pinante - deixa-me adivinhar!!! É arroz…..
Metralha – Estou farto de arroz…. Um dia vou-me ao Bolinhas - o cozinheiro – e esgano-o.
Vão dali até ao refeitório. A cena fica vazia de personagens. Aproveita-se esse facto para, mantendo o cenário, avançar uma semana. Em cena o Pinante e o Metralha, mais uns quantos figurantes. Um operador de câmara e uma anotadora da produção da TV.
O operador fixa a câmara num determinado enquadramento e nele vão desfilando os diversos figurantes mais o Pinante e o Metralha E todos repetem como se de uma ladainha se tratasse. Apenas muda de caso para caso o nome e a povoação contactada, e as pessoas a que se dirige… (sugere-se, como mero exercício, que cada actor, respeitando a formula base, improvise e dê um nome da sua personagem, para onde e para quem se dirige a  sua mensagem…. Exemplo:
Metralha – Daqui fala o Soldado Joaquim de Sousa Mendes, para a Chã, Concelho do Sobral. Para a sua querida mãe, irmã, tias, tios, sobrinhos e primas, desejando um bom Natal e um Ano Novo cheio de prosperidades…. (alguns enganam-se e dizem: propriedades)…. Como vêem estou bem…. Adeus, até ao meu regresso!
Pinante - Daqui fala o 1º cabo André Vaz Silvados, directamente para Tinalhas para a sua noiva: Rosinha, pais restante família e amigos, desejo-vos um bom Natal e um ano novo prósporo.... Eu estou bem.... Adeus até ao meu regresso!
O desfile contará com o número de personagens disponíveis e tidos como necessários. E como é evidente pode-se explorar todo o tipo de “gags” possíveis, sem contudo, e isso é um cuidado que recomendo, fazer chacota primária com as situações. Para quem nunca viu, esclareço, que as mensagens de Natal eram e são um retrato sociológico da nossa tropa na Guerra Colonial e um evidente decalque da riqueza e diversidade do nosso povo, que como é óbvio, nos deve merecer o devido respeito.
Após esta cena, e ainda no mesmo cenário, Reinicia-se a acção cuja se situa temporalmente umas semanas depois. A tropa está formada na parada. À frente da Companhia está o capitão.
Capitão Faria – Antes de destroçarem tenho uma coisa para vos dizer…. Chega daqui a dois dias uma coluna de um Esquadrão de Cavalaria que nos vem render….
A tropa endoida…. Mandam os “quicos” ao ar, dão cambalhotas e saltos e gritam vivas…. O Capitão sorri complacente desta súbita anarquia…. As coisas vão a pouco e pouco serenando e a tropa retoma a formação de parada… O Capitão retoma a comunicação.
Capitão Faria – O esquadrão é comandado pelo Capitão Salgueiro Maia, um bom amigo e um militar a sério.
Aproveito para dizer que foi um prazer comandar-vos. E queria pedir-vos um último favor: Quando chegar a “maçaricada ”transmitam-lhes tudo o que acharem que lhes será útil no seu  futuro aqui no aquartelamento… (e olhando ostensivamente para o Tenente Esteves) …. Gostaria igualmente que não exercessem “praxes” ou outros estúpidos rituais, para fazer deles “homenzinhos”, porque isso é o que eles têm de mais certo. Daqui a nada já serão veteranos…. (o visado, o Tenente Esteves, Fazia com a cabeça que sim , mas a expressão normalmente aparvalhada pelo álcool, trazia algo de demoníaco à mistura….)
O Capitão conclui.
Capitão Faria - Bom Rapazes…. Atenção…. Firme… Sem…OP…. Direita vol…ER…. Destroç….AR.
Toda a gente voltou ao “Granel”… Mais parecem rapazolas felizes…..
As luzes em “fade out” Marcam  a mudança de cena.
 O mesmo local uma semana depois.
Nota – A propósito, revela-se necessário encontrar uma forma expedita de nestas sucessões cénicas com saltos temporais de monta, tornar-se expresso o enquadramento cronológico. A minha sugestão é que a preceder a cena uma voz “off” o anuncie. Neste momento em off, diria: UMA SEMANA DEPOIS. 
Há gente nova em cena, com um ar que revela: Como é que aqui viemos parar????
Formam-se pequenos grupos debaixo dos telheiros. O Tenente Esteves passeia-se pelos alpendres no seu passo incerto, recolhendo as “palas” (continências) como um artista cabotino recolhe os aplausos dos “fans”. Claro que só os novos é que assim procedem, os mais velhos, estão-se nas tintas para ele. Um mais distraído esqueceu a continência e o Tenente:
Tenente Esteves –Pst…Pst….Pst… Óh nosso pronto, então o que é que se faz quando passa por um SUPERIOR???
Maçarico – (perfila-se)  Desculpe meu Tenente não o vi!
Tenente Esteves – Pois devia ter visto! Como castigo Vai mais cinco distraídos da sua laia à água….
Ir à água era uma operação militar de algum perigo. Não raro, a pequena coluna militar em pouco mais de 3 Kms do quartel era emboscada….
O alferes Almeida, o Pinante e o Metralha, estavam a ver aquilo e trocaram uns olhares…. Diz o Pinante:
Pinante – (pegando na G3) Eu vou com eles antes que haja merda….
Tenente Almeida – Ia pedir-te isso mesmo.
Metralha – Vou contigo!!!
Pinante – porquê? ‘Tás com medo q’eu me perca???? Mas ‘tá bem anda lá.
E lá vão. O carro da água, a mula da Companhia, era uma GMC “muita” velha mas que até trepava paredes se fosse preciso, e tinha em cima um enorme depósito onde trazia a água. Ruido de camião a afastar-se.
Entretanto ouve-se uma forte explosão, tiroteio intenso, rajadas de metralhadora e explosões de granadas.
Alferes Almeida – Ninguém sai…. (grita) Peguem nas armas e corram para os abrigos…..
Pouco depois cessa o tiroteio… O pessoal começa a abandonar os abrigos… Os novos completamente aparvalhados.
Nisto entra a correr o Metralha. Em Grande agitação, apenas grita uma palavra…
Metralha – NÃO …. NÃO…. NÃO……
Alferes Almeida –  (sacudindo o metralha) O q’ué que foi???? Q’ué do Pinante?
O Metralha chora convulsivamente. Chegam-se ao pé dele o Capitão Faria E o Salgueiro Maia, outros oficiais, e todos se juntam fazendo uma meia Lua virada para a boca de cena, à volta do rapaz da Chã….
Metralha – O Pinante….. O Pinante…….
Corpo e mente endurecidos pela guerra, a pouco e pouco o Metralha vai retomando o auto-controle….
Caímos numa emboscada logo ali na curva mais à frente. Coitados dos novos ficaram sem cor e todos juntinhos sem saber o que fazer. Então cai uma granada no meio deles e o Pinante saltou para cima dela (soluça de novo) . Ficou todo aos bocadinhos espalhado pelo mato. Depois os “turras”, até parece que por respeito, pararam o ataque.
Capitão Faria – Guerra de merda!!!! É pá, óh Salgueiro Maia, quantos mais será  preciso sacrificar inutilmente para mandarem parar com isto?
Salgueiro Maia – Deixa estar que não perdem pela demora!!!!

FIM DO 3º ACTO     


EPÍLOGO / 4º ACTO
De novo Gare Marítima da rocha do Conde d’Óbidos
Em cena a mãe do André, o pai, e a Rosinha Todos de luto carregado.
O navio encosta lançam a escada e de imediato salta para o cais a soldadesca louca de felicidade ao encontro dos entes queridos….
A família do André está ligeiramente afastada da multidão e mais perto da boca de cena.
O Capitão Faria dirige-se-lhes. E estende para a moça um pequeno embrulho que trazia na mão.
Capitão Faria - Minhas Senhoras, meu caro senhor, (diz perfilado) Em meu nome e em nome da Companhia queria que soubessem que todos sentimos muito a perda do Pi…. Do André. Ele havia de querer que vos entregasse isto. São os “aerogramas” que recebeu de vós. Acho que é o mínimo que posso fazer pela vossa perda. Voltamos menos do que fomos, mas a perda do vosso filho e noivo, no último dia de “mato” e porque era um amigo de todos, é um espinho permanentemente cravado nas nossos corações.
Uniu os calcanhares, dobrou a cerviz, beijou a mão às senhoras e apertou a mão ao pai.
Capitão Faria – Então com vossa licença….
Rodou sobre os calcanhares e foi aos seus afazeres.
Irrompe alto e bom som a cantiga do soldadinho que volta numa caixa de pinho…. – Menina dos olhos tristes.
 Cantada por todos os que estão em cena, enquanto um esquife de pinho tosco é transportado até à família, posto o que dá a volta ao palco.  É pousado em cima de um estrado no centro da boca de cena….. Todos os actores desmancham as respectivas personagens e na boca de cena concluem a cantiga. E incentivam o público a acompanhá-los…..


Composição: José Afonso, Poema Reinaldo Ferreira

Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar


Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar


                                                                                                                                                             
FIM


                                                                                                                                                                              
                                           António Capucha
                             Vila Franca de Xira, Maio de 2010