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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

LET THE SUNSHINE IN….

Esplanada da casa de Peniche
Dantes o Sol, era entre outras coisas, uma grande chatice que só se ultrapassava com doses astronómicas de cervejas, sem que fique perfeitamente claro, se era por causa do calor deste, ou se era pelo prazer da bebida.
Hoje, vedado que está o recurso à cevada fermentada e outros refrescos, tornei-me adorador do Sol…. Não por motivos religiosos, ou políticos, isto é: não por ele ser tido como o Astro Rei, e eu numa real dependência dele, seu súbdito, incondicional, nem consumidor da Chicha: a cerveja Inca para quem o Sol era Deus…. Andavam bem mais perto da verdade, que por exemplo os seus invasores e conquistadores, A recém-tida-e-havida Espanha Católica….
Seja lá pelo que for, a verdade é que consumo tanto quanto posso, das delicias do ardor da pele da cara e dos olhos fechados em contemplação interior e do quentinho temperado pela suave aragem que ulula no pinheiro maneta e na alta aroucária á entrada junto à cancela de ferro, pintada a vermelho Ferrari.
Os olhos fechados devem-se a que não consigo suportar  a luz do dia e ajuda a dormitar, que é o excelente complemento ao conforto e prazer que por volta deste mês, todos os anos, a season trás…. São os primeiros fins de semana do ano em que o Sol passa por cima das ramadas do pinheiro e banham durante quase todo o dia a esplanada frente à casa de Peniche….. Tendo todo o jardim nos ouvidos, os olhos efectivamente são só para fechar, que para o resto são um sentido excessivo para estender a ponte entre mim e o que sei de cor e salteado estar ali à volta. Nem o cheiro se distrai da caldeirada que apura na cozinha…. Os primeiros banhos de Sol do ano são uma liturgia que não dispenso….. O restante Inverno dá-me duas horitas diárias de calor quando o frio, o vento e a chuva o permitem….. Mas assim até fartar, só mesmo a partir de meio de Fevereiro…. No Verão, isto é impossível é insuportável, mas agora e nos restantes meses até Junho é puro prazer. Que agora que está descoberto, não dispensamos, eu a minha mulher e os cães…. Tudo a ver quem mais “lagarta”…..
È naturalmente pecado…. E qual é ele? Segundo os entendidos nestas coisas de roubar aos outros os prazeres, é o da preguiça. Pois se o é, que seja…… E eu ralado…..
Será preciso bem mais que isso para perturbar o usufruto deste maná que tal como o sexo são os únicos prazeres ao alcance dos pobres e deserdados da vida….
O resto é conversa fiada…. O chocolate, por exemplo, o seu lóbie diz e assevera ser melhor que sexo, e tal como este há-o de todos os géneros e sabores….
Um e outro, podem ser comprados, só que desse modo um fica legitimamente nosso e o outro ao invés nunca o será…..
Por outro lado se for roubado, invertem-se os dados, o que era legitimamente nosso passa a ser impropriamente nosso e o outro é legitimado….
Para que ambos estejam em consonância só dados por um terceiro….Isto é: Alguém tem que o dar, nem um nem outro se dão a si próprios….
Pelo contrário o Sol dá-se a si mesmo…. Entrega-se a quem o quiser e souber aproveitar sempre que assoma por entre as nuvens, ou de Céu às escancaras….
É isso que o torna o afrodisíaco mais popular….. E é simultaneamente a melhor forma de estabelecer a ponte entre nós e a natureza de que fazemos parte e de que nos temos afastado sem remissão, e orgulhosamente, sem remorsos….
Usemo-lo….. Cantemos irmãos:  
- LET THE SUNSHINE
  LET THE SUNSHINE IN….

                           António Capucha

        Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

PPD-PSD


O PSD, parece um grupo de reflexão e intervenção social e sexual dos anjos SARL, de paroquianos , duma paróquia do Interior obscuro....O que vem a ser isso de contrato verbal de trabalho???? Os simpáticos leigos estarão à espera que o patronato possa usufruir dos incentivos legais para a criação de emprego, com base no "trinta e um de boca"?????Ou que por ser verbal, é como se não existisse e portanto acabar com ele é o mais fácil.... Uma vez que antes de começar já terá acabado.... Contratoalmente falando.... Claro...
Os senhores não param de inventar..... Já tinham inventado a oposição apoiante! O estar contra, vociferar cobras e bichos e votar ao contrário.... Ah .... 'Tá bem.... É alto sentido de responsabilidade.... É no interesse Nacional..... Pois.... Morde aqui a ver se eu deixo!?!?!?
Não é porque os senhores não querem arriscar ser governo no estado em que as coisas estão e sem qualquer hipótese de as alterar  porque as políticas que podem efectivamente alterar este rumo das coisas, não está ao alcance deste ou de qualquer governo que se viesse a formar. (Não!?!?!?.... Não!?!?....) Muito menos a aturar as trapalhadas do inefável Presidente da República, o único Presidente que terá casado e dorme na mesma cama que os propalados "mercados", um amor antigo, não os da Ribeira ou do Bulhão .... Mas os internacionais.... Aqueles que podem mais .... (Para rimar, que não para bater certo). Portanto que sejam outros: O PS, a fazer as despesas da corrida.... Que é o mesmo que dizer.: fazer figuras tristes.... Figura d'urso.....
Ou estou muito confundido, ou há aqui uma séria de equívocos cruzados, de nós pouco complexos, mas muitos, o que os torna dificeis de desatar.....
Dispensávamos portanto o disparate!!!!
Tenham lá paciência e segurem lá os vossos cavalos que ao cheirar a palha já aqui tão perto, escoicinham como pilecas histéricas.....

                António Capucha

Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2011


Gracinha bonita


Imagem de: ventonortept.blogspot.com

Da primeira vez, quase não deu conta. Teve apenas a sensação de ter acordado de um sono profundo, com a vaga percepção de que tinha alguma coisa por entre as suas pernas ao nível do pi-pi…. Qualquer coisa que mexia de uma forma que ela não sabe explicar, mas que sentia dentro de si…. E criava uma incomodidade e confusão ao seu estado letárgico…. Acordou com a cabeça em desalinho, e percebeu um movimento ao seu lado de uma sombra que se esgueirava por entre as camas adjacentes…. Sentia-se suja e um desconforto que não sabia explicar fê-la chorar baixinho…. Esteve um bom par de horas acordada sem se atrever a mexer, os braços ao longo do corpo e os olhos no tecto de madeira pintada de branco e a reprimir a vontade de fazer có-có….
A bênção da manhã irrompeu pela camarata através da grande janela que ficava no topo da grande sala. Deixou-se ficar um pouco mais para que as suas amigas não vissem as roupas íntimas que haviam de estar sujas mais a camisa de dormir que tinha o seu nome bordado: Graça!!!!. Quando a primeira vaga de raparigas já se estava a vestir e a casa de banho começou a ficar desocupada, levantou-se de um salto e de soslaio mirou os lençóis, não estavam sujos, teria sonhado???? Foi para a casa de banho. Então fechou-se num “cabinete” com sanita e bidé e tirou as cuecas que estavam coladas aos parcos cabelitos pélvicos dos seus doze anos. Que raio de coisa seria aquela???? O rabito ardia-lhe um pouco mas não conseguia fazer có-có…. Lavou-se furiosamente, se tivesse uma escova usava-a…. A tal ponto se sentia, que queria lavar-se até à Alma esfregava-se quase até sangrar e aquela sensação de sujidade não passava… As lágrimas assomaram-lhe aos olhos… Chorava sem saber porquê e do que chorava ela, uma parte do seu cérebro projectava um manto negro e recusava-se a saber o que era aquilo…. Enxugou as lágrimas, vestiu cuecas lavadas, saiu para a área dos lavatórios, lavou os dentes e chapinhou água abundante sobre a cara até salpicar a camisola interior branca que cobria os seus incipientes seios….
Foi dali com as outras para a forma de onde iam ordeiramente para o refeitório para o pequeno-almoço…. Esforçou-se por tagarelar como sempre fazia, não fossem as outras perceber que havia seja o que for. A verdade é que uma sensação de vergonha vinda não sabe de onde e porquê, confundia-lhe o espírito juntamente com a sensação de estar suja…. Que não passava….
O dia de aulas correu aparentemente como sempre corria…. No seu ritual de campainhas e bons dias Sr. Professor…. Menina Graça! Leia o sumário de ontem….
O padre Celso, um ser pequeno e “rebolão” na sua enxúndia que tremelicava a cada passo que dava  por entre as carteiras… Sempre de preto, parecia um pinguim gordo, até no andar…. E quando se debruçava sobre ela, empestava o ar com o seu hálito fétido de papa-hóstias… E devia mastigar alhos crus para aprimorar o cheirete….
À medida que a noite se aproximava um estranho pavor ia tomando conta dela. Disfarçou quanto pôde, para manter a coloquialidade das sua conversas com as suas amigas… Coisas de raparigas…..
Até que a hora de dormir chegou fazendo-se anunciar com a invariável campainha, e as ordens gritadas pela preceptora, uma aluna finalista…. Apagou-se a luz rolou na cana até à sua posição preferida, de lado em posição fectal. E, era como se estivesse no cadafalso à espera da machadada derradeira…. A sua cabeça fervia-lhe, galopavam pensamentos dos mais atrozes, estaria a passar-se? A realidade confundia-se com o sono que não vinha e o sonho que o não era. E então noite alta, sentiu, ou achou que sentiu qualquer coisa a deslizar-lhe por entre os lençóis. Um par de mãos sapudas tocaram-na puxaram-lhe a roupa para baixo e a camisa para cima…. Queria gritar e não saía som nenhum. Um cheiro a alho e azeite empestou o ar que respirava , sentiu na nuca um bafo quente e pesado. Uma dor no rabo, completava o negro quadro. Primeiro aguda, depois pesada e insistente e uma coisa meio dura meio mole ia e vinha…. Ela chorava baixinho sem sons, apenas as lágrimas e uma expressão de profundo sofrimento e os olhos arregalados…. Depois uma torrente de enxúndia emporcalhou tudo. E quando ele tirou aquela coisa, escorreu para as cuecas empapando-as. Sentiu-o sair da cama deslizar por entre as camas e deixou-a em lágrimas nos seus doze anitos…..
Não esperou pela manhã…. Foi para a casa de banho e chorou não tanto da dor, mas da vergonha e de novo aquela sensação de sujidade, de impureza. Ela não conseguia erradicar de si a culpa que sentia…. Pois se era ela e não outra que ali estava suja e culpada!!!! Lavou-se e enxugou as lágrimas. Saiu com o corpo limpo. Apenas a Alma estava negra e sorumbática, e isso começou a ser notado pelas amigas mais próximas…..
Quanto aos ataques nocturnos, continuaram…. “Aprimoraram-se” em criatividades doentias e devaneios sabujos do abusador….Ela, pobre pequena, por seu lado, fingia sempre dormir chorava em silêncio e esperava o fim…. Era a sua forma de não aceitar os acontecimentos.
E fez-se quase adulta assim sem conhecer nem rapazes, muito menos o amor…. A indiferença acabou por substituir o nojo….. E quando deixou a Casa Pia, estava pronta para ser mais uma Alma penada a vaguear pela vida.
E já é esperar muito…. Que referências é que ela tem? Não conheceu pai nem mãe. O abuso sexual ocupa o espaço que devia ser o do êxtase dos sentidos.
FILHOS DE PUTA. Roubaram-lhe a vida…..  

                           António Capucha
 
         Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2011   

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O avô Zé Vaz

José Vaz Antunes
O inefável João tabefe, homem façanhudo de bravata fácil, e sorriso pronto, co-fundador da nossa estirpe, conjuntamente com a Capuchinho vermelho, de quem herdamos o nome. Personagem já atrás "blogada", revelou-se com uma aptidão para figura “estórica”  fora do comum, protagonizando inúmeras peripécias que por pouco não mudaram o rumo da grande História. Não sei exactamente porque portas travessas, um seu sobrinho-neto veio a herdar-lhe o jeito de ser, bonacheirão, desbragado e valentão. Quase que sem de tal se dar conta, acaba este, por repetir ao ancestral, a vocação para fazer "Estória" incógnito, ou quase. Pese embora o facto de a História o mais das vezes o ter esquecido, tal como já tinha feito ao seu parente de antanho, por vício de sistema, ou ignorância dos seus autores autorizados. Fica-nos de ambos, valha-nos isso, flamejante, a "Estória" quase sempre mais verdadeira que a oficial.  Porque “ficou escrita no vento” que sempre sopra a “destempo”, quando não completamente contra a corrente oficial…..
Chegou a vez de este último, o sobrinho-neto, saltar para a ribalta....Era apanhador e processador de “sumagre”, uma espécie de acelga ácida, que antes do limão chegar à Europa, era usada desde os romanos para temperar saladas. E não só.... Dela também se extraía um pó vermelho usado em tinturaria, e segundo reza a sabedoria popular, (A voz do povo , é a voz de Deus) ,  esta planta de montanha, tem igualmente, propriedades medicinais…..
O José Vaz Antunes, assim se chamava o nosso herói, Passou a sua infância e adolescência na terra dita dos “sumagreiros”: Tinalhas…. De onde foi arrancado pelo serviço militar. Não se lhe deu acusar o toque. Imperturbável foi industriado nas artes e aprumo militares. E também foi com serenidade que foi mobilizado para a guerra na longínqua França, isto na  anciã, Primeira República Portuguêsa….. (como se escrevia na altura). Não consta que fosse fervoroso republicano, mas monárquico também não o seria, penso.... Destemido era-o por certo. Andou a fintar as balas e canhoadas dos obuses dos Boches, na batalha de LA LYS, onde muitos portugueses deixaram a pele durante a I Grande Guerra Mundial, reeditando o mito do portuguezinho valente e comedor de Castelhanos e mouros ao pequeno almoço. 
Pois o nosso avô, sobrinho-neto do Tabefe, Não se deixando impressionar pelos horrores da guerra, era no entanto rapaz astuto e observador das gentes e suas coisas. E os franceses, que ele nunca vira mais gordos, tinham jeitos e trejeitos diferentes dos seus e formas diversas de fazer coisas, como o vinho por exemplo. E as mulheres não tinham a alma tão cercada pela “burka” do preconceito. O nosso Zé bebeu de ambos…. E aprendeu-lhe o truque dos vinhos e do resto….  E se de uma lhe valeu a argucia de saber entender as coisas que observava.... Da outra, valeu-se da perdição das francesas pelos seus olhos escuros e risonhos....
De tal forma sorveu as diferentes formas de fazer e ser, que quando regressou à Pátria, ganhou o concurso regional de vinhos e  Arranjou noiva.... Nunca mais passou a bola a ninguém….
O truque parece-me agora ter sido o mesmo para ambos: O amor…. Coisa que para ele, era de aplicação comum a mulheres e pelos vistos: ao vinho. Isto porque na fase critica da sua fermentação dormia na adega fazendo amor com o mosto, controlando a sua passagem do açúcar para o álcool. Como um amante controla e doseia o fruir do prazer que "prodigamente" se cede às companheiras …Como é que eu sei disso? É que eu provei o vinho…. E como felizmente conheço o amor, posso dizer que têm um trajecto comum…. É  feito da mesma massa….


      António Vaz Antunes Capucha

Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2011

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Mário, o canalizador

canalizador

O Mário, era um rapaz vulgar, não era o Super Mário da Nintendo, mas era igualmente canalizador….
E isso que tem? Deve haver pr’aí mais que muitos Mários que são canalizadores de profissão, que não de estado de Alma. O que há de diferente é que com este, passavam-se coisas do “arco da velha” e que faziam dele uma personagem digna de registo….
A sua particularidade era a de parecer ter surripiado aos carroceiros o seu grandiloquente léxico “jargonístico”. Não se tratava de um vulgar asneirento. Era mais um erudito da arte do Jargão, do “praguejismo” e do palavrão mais vernáculo e expressivo…. Ora isso não desdizia da qualidade do seu trabalho. Profissional competente como poucos era naturalmente o chefe da equipe que fazia com o Alberto, o Beto, para os amigos….
….. Chama de dentro do gabinete o patrão, o Sr. Ezequiel:
- Óh Mário, vão depressa à rua do Moinho nª 37, que há lá uma inundação na casa de jantar da freguesa!
É p’ra já Sr. Ezequiel,,,, Óh Beto,,,, pega na trouxa e acompanha-me….
Montam no teço-teco: aqueles carrinhos que não precisam de carta para ser guiados, a ala que se faz tarde.
A D. Lurdes esperava por eles á porta e já tinha fechado a água. Áh…. Obrigada por terem vindo tão depressa… A coisa é ali no andar de cima para a casa de jantar do andar de baixo…. Ora o competente do nosso Mário realizou logo que mais fácil que partir o chão de cima, era rasgar o “estafe” do tecto de baixo…. E assim se fez. A casa era antiga, “Pombalina”, e no princípio do Século vinte, acrescentaram-lhe a canalização e electrificação por dentro dos tabiques recobertos por “estafe”. (Uma mistura de gesso com esparto ou sisal em placas de pouco mais de dois centímetros de espessura).
Rasgado que foi o tecto no ponto em que ainda evidenciava pingo,  o tubo de chumbo roto ficou logo à mostra. E o Beto acende o maçarico de petróleo, e com a barra de estearina e uma tira de chumbo, sobe até ao tubo, o Mário ficou em baixo estivando com os pés o escadote para não deslizar. Soldado o rasgão do tubo e sustido o pingo, repararam o “estafe com um pouco de gesso e voltaram para a oficina.
Lá chegados, estava o Ezequiel de mão na anca e com cara de poucos amigos.
Então oh Mário, que raio de regabofe foi esse que a freguesa telefonou p´raí num despautério…. E que nos ia processar e não pagava…. Que isto não há direito…. Ordinários….. sou uma mulher decente…. Isto é uma casa de gente séria…..
Sei lá, foi o diabo. Ela diz que vocês se fartaram de dizer ordinarices…..
Hó Sr. Ezequiel…. Olhe que não foi nada disso…. Isto foi assim:
- O Beto estava em cima do escadote a soldar o cano…. E eu estava cá em baixo a segurar o escadote. E “apenasmente” disse:
- ÓH BETO…. TEM LÁ MAIS CUIDADO, QUE JÁ ME DEIXASTE CAIR DOIS PINGOS DE SOLDA QUENTE NOS OLHOS!!!!
                      António Capucha

    Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2911

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

FL e PP, a que se juntam: JS e PC

É rosa.... É? Ou qué frô!!!

A FL, e PP, juntam-se agora mais o JS (Jerónimo de Sousa) e PC (Passos Coelho). Bom…. Muitas cabeças pensam melhor que duas apenas, seria de esperar que em resultado disso aumentasse o nível de inteligibilidade dos discursos entre políticos e cidadãos. Parece que esperei inglória e inocentemente que se desse esse caso… Mas não…. A posta restante trazia o mesmo veneno e vacuidade das anteriores perorações…. Que ao invés de uma peroração que se preze, recorre aos “clichés” autorizados pelo colégio de prosti…. Ai perdão….. de sábios, de sábios é que é!
JS, acaba por ser o que, sempre igual a si próprio, não tenta jogar as cartas que tem na manga. E por isso nunca chega a lado nenhum, nem a ninguém. E isto não é um elogio…. Longe disso….  
Entre estas duas ultimas personagens, o outro, o PC, com incomparavelmente mais   responsabilidade dada a posição que para si próprio reivindica, de líder da oposição. Estranhissimo conceito de que se usa e abusa nos “mentideros“ da política. Para mim líder, seja do que for, - uma vez que o termo foi oficialmente aceite no léxico Português -, é uma pessoa cuja autoridade é respeitada, por correlegionários e adversários e que naturalmente o é, por razões humanas, intelectuais, políticas e Históricas. É de facto e não de “farol”. A distorção deste conceito, tem origem no espírito de seguidismo dos parceiros de partido, e não raro, na venalidade da nossa imprensa. Basta portanto um artista completo, fazer-se eleger pelos seus correlegionários, e por via disso, o partido, eleger mais representantes no parlamento que a restante oposição… Mas que não teve arte ou sabedoria para destronar o partido “majoritário”, como dizia do seu PS o seu primeiro chefe: Mário Soares, nas primeiras eleições livres em Portugal. E este sim…. Era do tempo em que havia verdadeiros lideres, que teorizavam a política e a transformavam em doutrina, e depois quem aderia sabia a que o fazia….. Os lideres actuais funcionam por imagens, monstruosas e hiperbólicas construções dos quais ficam escravos e são mantidas por um grupo de zeladores. Isto é: Não são lideres…. São funcionários do sistema como os actores de sucesso o são dos seus “boss’s”.   
Claro que isso perturba e de que maneira o discurso…. Parecem futebolistas a falar para a imprensa boloqueira…. Não sei quê…. É preciso levantar a cabeça…. Vou tentar fazer o meu melhor…. E por aí fora….
E foi o que aconteceu na sequência do anúncio da apresentação da moção de censura pelo BE. O PP já se tinha confessado. E os restantes não se fizeram esperar, mais os seus discursos zigue-zagueantes, onde se pode dizer quase tudo desde que não caia na patetice de dizer das verdadeiras razões que os levam a decidir o que decidiram, dizem!!!! Criando uma realidade virtual e subjectiva que tem vindo a ser propalada pelos empregados do sistema….
Esta monstruosidade é de tal monta que até o SR. Presidente da República, Também é eleito utilizando, diria: Abusando desta forma travessa de fazer politica. (Desenganem-se os que pensavam que eu alinhava no primarismo anti-política…. Agora destes políticos…. Àh isso contem comigo…. Para mim a politica é das mais nobres formas de  estudo e conhecimento humano) Até na Europa, ou sobretudo na Europa, a qualidade das lideranças “anda pela hora da morte” E estas coisas não só parecem como são…. Lembram-se das trapalhadas, dos argumentos utilizados, pelo Durão Barroso para ir para a liderança da Europa? Nem que ele fizesse mil e uma “profissões de fé” enganaria fosse quem fosse. No entanto continua com o seu arzinho de “anjo papudo”…. E o pior é que o que decide é para se cumprir. A verdade é que não passa dum empregado…. Como aliás se deixa ver.
Devem, os que assim procedem, julgar que nos comem por tolos. Os meus caros amigos farão como entenderem….
Eu por mim, detesto ser comido por parvo!!!!! 
Que mas hão-de pagar.... Hão-de.....

                             António Capucha

           Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2011

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

FL - PP

Francisco Louçã
Paulo Portas
                                          

Quando alguém tem como missão dizer coisas sobre seja o que for, o problema por vezes é encontrar um tema. Ora como Deus é grande, Alá Akba e Buda tem as costas largas, há uma fonte inesgotável de contornos tais, que o mesmo facto dá para compor um “dramalhão de faca e alguidar”, ou esgalhar a mais repenicada brejeirice….. Ou fazer rir até às lágrimas…. E que coisa é essa assim tão versátil???? A POLÍTICA….. É claro….Exemplo disso foi a mais que referida “Moção de censura”, que o BL, (Bloco de Esquerda) diz…. Irá apresentar na Assembleia da República. (AR).
Para os que estão menos familiarizados com estas coisas explico que se uma moção destas, a ser votada com maioria qualificada (absoluta), implica de imediato a queda do Governo. Não há portanto nada de mais grave ou poderoso que se possa usar na AR. Não vou questionar as razões do BE…. Vou apenas realçar alguns desenvolvimentos.
Por se tratar da bomba atómica parlamentar, o sua utilização é parcimoniosa, naturalmente…. Não deve ser usada para, por exemplo, descolar do PS (Partido Socialista) e do seu governo, por causa da anterior parceria na coligação pelo Manuel Alegre. Lógico, que também não colhe, apresentá-la antes que outro se lembre de o fazer e assim marcar posição como fazíamos em putos: Primeiros!!!
Bom!!!!! Como se não bastasse um arrivismo, para equilibrar, o CDS-PP2 (Centro Democrático Social- Partido Popular do Paulo Portas) este último o arrivista dos arrivistas, o homem que a cada intervenção, se deslumbra…. Inventa a pólvora sem fumo e o tiro sem PUM…. Veio a correr, nem esperou pela abertura dos trabalhos na AR, e antes que alguém se lembrasse, antes de todos: primeiros!!!! Vem a terreiro sossegar a tudo e a todos. Que eles salvam a situação…. Não que lhes convenha ou para dar cumprimento ao velho hábito de se por em bicos dos pés…. Não!!! É do interesse Nacional, que a virgem de Fátima ditou ao ditoso líder: PP. Aparecendo-lhe em sonhos e dizendo-lhe como se fora o anjo Gabriel: Paulinho!!!!! Safa lá esta merda….Sossega o povo e diz-lhe da minha parte que no interesse Nacional, seja lá isso o que for?!? Não queremos agora moções de qualidade nenhuma…..Vai-te e não expilas gafanhotos a falar que te salta a placa…..
Isto parece mesmo coisa de rapazes pequenos….
Mas não é. É a política à séria. Feita por gente grande… Doutores, os mais deles.  

                             António Capucha

            Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2011

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Vasco, o amansador de cavalos


Naquela mesinha ao cantinho enquadrada por prateleiras de vinho e garrafões bordejando-as no chão, concentrado no prato de grão com mão-de-vaca, e cenouras às rodelas. Está um sujeito de fato azul de corte rudimentar, que me cumprimenta educadamente quando entrei e saudei os presentes. Perguntei só para meter conversa: a mão-de-vaca, está boa? Era evidente que estava. O que dispensava a pergunta. E disse o interpelado que sim senhor …. Estava muito boa…. Prosseguindo esta estratégia que queria dizer lacto senso: quer ser meu amigo, é?
Óh sr. António, disse, traga-me aí uma mão-de-vaca, um jarrinho de tinto…. Isto disse eu, quando ele já vinha a caminho com o prato fumegante. E diz ele para dentro: Óh Paula então trás lá o talher p’ró sr. Capucha…. A Paulinha com os seus olhos melancólicos, relanceando-os no seu característico maneio de cabeça, põe a mesa e recoloca o prato que o pai havia deixado na mesa ao lado. E dali se vai para outro freguês…
Ora isto dia após dia, mudando apenas o prato de substância. Mas nunca de forma muito radical…. Eram sempre coisas dietéticas, levezinhas digamos assim…. Feijoadas,  cozidos à portuguesa, Bacalhauzadas, normalmente à Segunda-Feira…. Esparguete com boi etc…etc….
Era uma delicia, que se batia em qualidade com a comida, as brincadeiras entre o sr. António - o dono - e o sr. Vasco, o tal do fato azul… Óh Tónho tens cabeça de carneiro? Tenho …. Mas “p’rámanhã”. Comes inteira ou queres que te parta os cornos? E trazia já na mão um pratinho com um queijo duríssimo como o sr. Vasco gostava…. Enquanto ele rilhava o queijo íamos afiando o conhecimento e confiança mútuo. Não tardava, estávamos a comer juntos e a partilharmos quês e porquês da nossa vida.
D’hoje p’rá manhã passou de sr. Vasco a Vasco e o sr. António para tónho, ou Tonecas….
O Tonho era um Beirão, que novo veio para a Capital e que se estabelecera ali ao lado da Academia das Ciências com uma mercearia. E como tinha espaço e a mulher cozinhava a preceito, dividiu uma sala e fez uma cozinha e na outra pôs um balcão frigorífico e a máquina da café e o expositor de bolos. Estabelecimento que há-de ter um nome, sim senhor, mas se alguém o conhecia era por acidente. Era o Tónho e mais nada. Restaurante, pastelaria, frutaria e mercearias finas….
Os almoços com o Vasco passaram a ser um tertúlia de conhecimento, de tudo e mais que houvesse. Ele tinha como profissão motorista, melhor: “chauffeur” do Visconde que morava ao lado da Emissora na rua de S. Marçal. Já havia sido condutor da “charrette” no tempo dela, mas tinha começado nas campinas da Golegã, como amansador de bestas-Capucha…. Percebi o remoque, claro, e não me dei por achado e retorqui: Ãh…? Bestas-Vasco?... Então não se diz domador de cavalos? Não senhor… Os bichos nunca se domam… Aprendem é a ser menos bravios…. Mais mansos…. Amansador de cavalos é que é…. Eu mais uns quantos com jeito para aquilo, olhe que é preciso gostar dos bichos ãh…. Malhei tantas vezes com os ossos no chão, áh rapazes….. Primeiro há que andar com eles à roda com uma corda comprida…. Depois vai-se encurtando a corda até estar mesmo juntinho dele. Fazê-los aceitar o cabeção depois o freio…. Mas “óspois” disso tudo têm que ser montados e aí é que é o bonito….Não havia dia nenhum que não fosse um para o Hospital com uma mazela qualquer. Por via disso agora tenho que ser operado à coluna, foram tantos malhos que eu nem sei…. Mas tenho saudades, p’ra já porque era novo! E depois, porque aquilo é que era vida, ao ar livre…. Beber água do cântaro, comer torricado, acender a fogueira com bosta de animais seca…. Namorar as moças do rancho….  
Um belo dia, tive que voltar para o Quelhas e dali para as Amoreiras e perdi-lhe o Norte.  Ao “toneca” ainda o vi um par de vezes, mas onde os vejo amiúde, é a revolver as memórias. Que é o melhor sitio de todos, onde todos incluindo eu, temos menos quinze ou vinte anos. E já tentei explicar isso a não sei quem, e não me fiz entender cabalmente, mas prefiro as minhas memórias à confrontação com a "factoalidade" com a qual raramente me identifico. Muito ao invés, não raro, decepciona-me!!!!


                             António Capucha

            Vila franca de Xira, Fevereiro de 2011

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A verdade e a velocidade da luz.

Telescópio Hubble
O mistério da velocidade da luz, é a melhor maneira de tomarmos consciência da nossa ínfima pequenez. Números exactos e no vácuo, são 299 792 458 metros /segundo. Mas é mais frequente usa-lo na versão aproximada de  300 000 000 m/s, é obra heim….. A ciência, para além de ter vindo, desde o inicio dos tempos do conhecimento, a destruir paulatinamente os mitos e falsidades, de que alguns se servem para controlar e em suma: mandar e manter mandados e quedos, os pobres destituídos de sorte, para fazer deles as suas “bestas de nora”
como dizia “Guerra Junqueiro” in “”Pátria” de 1896….
 Imaginem uma nebulosa de estrelas, como a nossa” via láctea” à distância de 13.2  biliões de Anos luz. Como descobriu o Hubble recentemente, a nossa pequenez no Universo resulta de contas simples…. Basta saber quantos segundos há em 13,2 biliões de anos, e ainda multiplicá-lo por trezentos. E ficamos a saber a quantos quilómetros está a tal nebulosa…. O que também quer dizer que se, e por hipótese, pudéssemos viajar à velocidade da luz (300.000 kilómetros por segundo) levávamos 13.2 biliões de anos para lá chegar… O que para nós, pachorrentas bestas de nora, nem dá para imaginar…. Mas ainda assim é com estas coisas, simples verdades que vamos desmontando as “verdades ancestrais” que mais não são que habilidades e passes de mágica. Ainda não se sabia exactamente como era a nossa terra e já havia muitos que afirmavam ser ela redonda, e por esse simples facto foram assassinados pelo poder de então, que ao tempo era dividido entre a religião e os senhores da terra… Agora que quase todos os mistérios da fé, estão completamente desacreditados. Como é que ainda persistem, o poder estúpido e brutal e sem razão de ser?  E as bestas continuam agarrados à nora, como “Sísifos”
E os chefes das igrejas, continuam com o ar de quem está de posse dum segredo a que nós, as bestas, apenas podemos saber que, vagamente existem, mas nem um pozinho da sua substância nos é facultada…..   
Uma coisa que nunca entendi muito bem, é como é que a igreja católica, se abespinha tanto contra as bruxarias e feiticismos?
Dá a impressão de que ela, a igreja, segue e assenta a sua doutrina na verdade cientificamente provada… E é sustentado por essa realidade que se constituiu em autoridade plenipotenciária. e à sua sombra se afirmaram as mais ferozes e despóticas perseguições….
Outra coisa que me custa a engolir, é que os praticantes da fé em Cristo, sejam activos e místicos defensores de Israel, quando toda a História demonstra que os judeus roeram a corda ao Cristo e nem o reconhecem como personagem Deificada.
Para fazerem juz a sua História, este grupo religioso, com a sua doutrina desbaratada pela lógica e a razão da ciência, só pode mesmo basear-se na arrogância e soberba para terem tantas certezas assim.
Mas vá lá…. Se ainda assim fossem apenas pessoas que acreditam seja no que for… É um direito que lhes assiste…. Agora se persistem em cimentar e alargar o seu poder mesmo sabendo que o fazem mantendo os outros irmãos em Cristo no estatuto de “bestas de nora”…… Então isso não difere muito da bênção, que a seu tempo deram, à escravatura , ou à perseguição dos judeus.... Por exemplo.
Agora são voluntários sociais…. E o que é que fazem?  Tal como, não há muito tempo, só matam a fome a quem foi à missa????….
Desculpem, mas é preciso fazer muito mais, para me convencerem que me merecem outro respeito. Com outras metodologias também a IURD e outros grupos estão no terreno. Basta olhar para a apetência pelo património, que as Misericórdias têm, para dizer com toda a clareza que: Está por provar a diferença da Apostólica Romana, para estas outras, que são venais até ao obsceno.  


                             António Capucha
   
           Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2011

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Guerra Colonial

Guerra Colonial- Evacuação de Heli, Alouett III


E vão cinquenta…. Cinquenta anos da data que nos trouxe boquiabertos a ouvir as noticias da telefonia…. O termo, terroristas entrou no nosso léxico, eu não sabia muito bem o que era isso, mas fui levado a sentir alguma proximidade, porque era o que os adultos me chamavam: Terrorista…. Lembro-me, por exemplo, de o “botas”, com a sua vozinha sumida de somítico, e a sua inexpressiva dicção, própria dos velhacos e cínicos, dizer: Para Angola, rapidamente e em força….
Depois foi a interminável guerra, e embora fosse rapazola dava para entender que nem tudo corria assim tão bem…. Eu, e os rapazes da minha idade, fomos crescendo no terror de lá ir parar…. O tempo passava e a guerra não acabava. Não mentirei se disser que foi ela a principal razão da tomada de consciência da situação em termos políticos. E que resultou naturalmente, na politização da nossa geração. Invulgar, diga-se, sobretudo se tivermos em consideração que acontecia em pleno fascismo, e a sua infame repressão dessas coisas. Tudo o que cheirasse a organização era imediatamente investigada, não fosse conter a propósito fosse do que fosse, as sementes da subversão. Sobretudo se se tratava de iniciativas de jovens pré- militares, ou estudantes. Era uma autêntica fobia persecutória. Bastava usar o termo: Colonial, para ser considerado subversivo. O Regime e o provinciano beirão, (o botas) tinham acabado de inventar que aqueles territórios se chamavam: Províncias Ultramarinas. Eufemismo ardiloso…. Aquilo era como se os comunistas nos estivessem a roubar o Minho ou o Algarve…..
A politização trouxe a busca da razão. Era aliás a sua primeira questão. E o Estado português era efectivamente culpado daquilo, que foram as guerras coloniais.  
A maioria dos povos colonizadores da Europa, terão passado por algo semelhante ou antes ou logo após a segunda Grande Guerra Mundial. Para além da sua injustiça esta nossa demanda guerreira era como os comboios da CP da altura: sempre atrasados.  
Este anacronismo Histórico, granjeou-nos animosidades internacionais, e o consequente isolamento nesse termos. Tornou-se imagem também gerada nos neurónios do cavalheiro de Santa Comba: O orgulhosamente sós!!!
Ele parvo não era, este tipo de imagens, colava na perfeição no sentimento muito Nacional do: Portuguezito valente, do pobrezinho mas asseado, do povo de brandos costumes…. Etc….etc… Quer dizer, todo este arrazoado de conceitos era sabiamente utilizado para a perpetuação do regime. E assim, a Nação suportava o esforço da guerra como parte disso, ao jeito de última coluna, da reserva, dos Guardiões da História e valores, da Civilização Ocidental. Ridiculo!!!
Embora para nós, a maioria dos potenciais combatentes dessa guerra, ela, não passasse de um monstruoso equívoco Nacional.
E assim se veio a revelar. Até os profissionais da guerra (os militares de Carreira) estavam contra ela, ou os seus desenvolvimentos. O oficiais do exército, sobretudo, viram os suas profissões  em perigo. E organizaram-se. Claro que rapidamente as razões desse descontentamento passaram a objectivos políticos, pois realizaram que, o problema era global. E o primeiro passo seria acabar rapidamente com aquela guerra sem sentido e sem fim à vista. E que se derrubassem o governo, se resolveriam esse, e outros problemas de que o País sofria.
A guerra foi portanto a mola real do derrube do “Facho” e das suas “capelinhas“. E como é evidente, uma das primeiras medidas foi acabar com a guerra. Foram acordados cessar fogos, entre as organizações combatentes, e depois a coisa foi evoluindo com a lisura possível. Havia questões de quem é quem, acerca das organizações interlocutoras com Portugal. E a descolonização foi muito mais complicada que a independência das Ex- Colónias. Muita gente foi apanhada no meio desta urgência da independência dos novos Países, mas isso são contas doutro rosário. Essa questão não foi tão mal resolvida, como ainda hoje alguns pretendem, porque apesar de tudo não travou a nossa marcha para a Democracia política. Desenvolvimentos posteriores dão razão quer a um, quer ao outro lado, mas do que não restam dúvidas é de que a independência é um direito absoluto dos povos…
Hoje, e de há muito tempo para cá, os jovens têm menos razões para se sentirem inseguros e a verdade é que denotam índices de auto confiança superiores aos nossos, isto apesar do desemprego e da texpansão tentacular deste polvo, (a crise e os seus sacerdotes, acólitos e servitas),  que agora nos ameaça esganar….
Pessoalmente gostaria de ter deixado, como herança à juventude actual, um céu mais desanuviado. Mas valha a verdade que esta é incomparavelmente melhor que a que vivi, se é que estar sob aquele terror, era vida…..

                                 António Capucha

                Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2011

Viva a Musica - Afonso Dias

Este espectáculo em devido tempo aqui referido agora disponível no You Tube....
Para mim é dose dupla. É que duma assentada revejo dois amigos: O Afonso Dias e o Armando Carvalheda. Um parceiro de jornada a caminho da eterna revolução. O outro, companheiro da Rádio e não só, amigo e camarada....

Já está on-line!


               
                  António Capucha

Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Treze horas e dois minutos

Sala de aula
Ele saía de casa todas as manhãs para o emprego e era de uma regularidade tal, que dava para acertar o relógio pela sua passagem…. Aliás os vizinhos dividiam a manhã entre o professor já ter passado ou ainda não.
Pendularmente entrava na sala d’aula, dois minutos antes da hora de entrada. Com os mesmos gestos de sempre pousava a mala na secretária, dirigia-se ao ultimo estore da sala e subia-o, repetia os gestos na janela do meio e na outra que ficava mais perto do estrado e do quadro na frente do qual se sentava, atrás da secretária. Tirava o chapéu e o cachecol de lã que pousava sobre o tampo da secretária e volvia o olhar para a entrada da porta no exacto momento em que a campaínha soava a dar a entrada. 
A “catraiada” entrava ordeiramente e ficava de pé ao lado da carteira até  estarem todos e então diziam em coro: Bom dia senhor Professor. Ao que o professor olhando por cima dos óculos respondia: Bom dia meninos…..  
Abram os vossos livros de leitura na página vinte e cinco!
Óh Ernesto…. Lê o primeiro parágrafo. O “arnésto”, para os amigos, lê so-le-te-ran-do, e tropeçando amiúde nas palavras difíceis (lembrando aquela cena do “Aniki bó-bó” em que um rapazola (o menino Eduardo) lia a mando do professor:
- < O joão “ Parvu”….. Como? Interpela o prof.  O João “parvu” repete o moço….
E corta o professor: “parvu” és tu.  Óh menino Pompeu, mostre lá como se lê….>
O Menino Ernesto não estudou a lição! A voz do professor Afonso, condizia com a sua figura: Seco, magro mesmo, enfiado dentro de um fato invariavelmente negro, camisa de colarinho engomado e laço.  O chapéu também preto atarraxado na cabeça, a tal ponto que lhe deixava nos cabelos, - baços, escorridos e penteados para trás - vincos.
Celibatário militante, muitíssimo cumprimenteiro, gentil até à “melosísse”  escorrente a cada curvatura vertebral, como diria Camilo… Atrelado à mão esquerda, uma pasta de cabedal, já se vê, preto…. Onde levava os projectos de aula da classe, os livros e tabuadas e, num compartimento apropriado um papo-seco com manteiga comprada ali na “Palmeira” que lhe ficava em caminho, e que mastigava sincupadamente de permeio com um copo de água,  durante o intervalo. Sentado no seu trono em cima do estrado de onde dominava toda a sala de aula. Testemunhas mudas, por cima do quadro um crucifixo em madeira com o Cristo cromado e os retratos de dimensões consideráveis de dois senhores de ar sisudo. Um por cima e do lado esquerdo do quadro com um senhor fardado, muito importante e do outro lado, direito do quadro, esquerdo nosso, e à mesma altura um outro senhor vestido como o professor e com ar de enfado tolerante….
Uma tremenda alegria!!!! Diria, sem medo de me enganar….
O chilreio das crianças cessava antes da porta de entrada. Aliás, as escada já eram subidas em sentido e aos pares, assim como as descidas…..
A tabuada dos oito cantada a preceito e uma leitura em grupo, esta mais polifónica, completaram a aula.  Aos dois minutos para as treze horas, os dois minutos de sempre e sempre guardados em silêncio, eram o preâmbulo da estridência da campainha accionada pelo Sr. Silva. O Professor Afonso, vigia a ordem de saída da “pardalada”, que só no pátio rompia em chilreios e devassa….. 
O professor passou a mão pela testa. Gesto demasiado exuberante para ele…. Hoje não se sentia muito bem…. O papo-seco caiu-lhe mal…. Arrotava sem destino… Bom…. A ver vamos dizia de si para si…. Pôs o cachecol ao pescoço atarraxou cônscio o chapéu, pegou na pasta e saiu.
Tropeçou nas escadas e caiu estatelando-se no patamar do meio e já não se levantou. Morreu inopinadamente pelas treze horas e dois minutos daquela Quarta-Feira parda e feia….Tinha partido o pescoço que, e ainda não o tinha dito, era alto e esguio....


                           António Capucha

           Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2011

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A República

A República
A república não é como a vida de outras coisas, que nascem, crescem e morrem.
É que ela desde a sua Génese em mil novecentos e dez, tem ao longo dos anos, morrido várias vezes para renascer mais à frente de esperanças renovadas…. Sempre renovadas…. Já vamos aí na décima quinta República….
Nasci com ela morta, duma morte que me parecia irredutível, final! Foram cerca de quarenta anos em estado terminal. Mas eis que num Abril que trouxe mais que “águas mil”, renasceu e em sua glória se cantaram mil e uma trovas, glorificando-a….
Mas quarenta anos a desaprender, foram muitas gerações, que quase se esqueceu como e porquê se trata de tão delicada criança. O desmame foi terrível, mas ainda assim não tanto como a sua adolescência. O período, já de si difícil, não contou com todas as nossas energias. E de então para cá tem vindo a morrer e a renascer, o mais das vezes apenas sobre a forma de esperança. Sei lá!!! Relembrem a História recente e verão que não ando longe da verdade….. Agora mesmo há minutos, morreu de síncope…. Quando este desgraçado e esquecido povo, permitiu a eleição do Cavaco Silva. Um “Mandrake” dos números…. Um aldrabão compulsivo….. Assustador militante de criancinhas…. Se aquilo é quem nos representa, devemos ser atrasadinhos, coitados!!!!…..
Mas ontem, nem há um minuto, renasceu a república em todo a seu esplendor. Num insuspeito, vetusto mesmo, programa de TV da RTP N, num lançamento de dois livros seus, a República renasceu, como disse, numa notável intervenção de António Arnaut…
Recarreguei as baterias e restabeleci o orgulho na Nação que somos, no povo que sou e em quem acredito, desde sempre.
VIVA A REPÚBLICA….

                António Capucha

 Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2011