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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Mário, o canalizador

canalizador

O Mário, era um rapaz vulgar, não era o Super Mário da Nintendo, mas era igualmente canalizador….
E isso que tem? Deve haver pr’aí mais que muitos Mários que são canalizadores de profissão, que não de estado de Alma. O que há de diferente é que com este, passavam-se coisas do “arco da velha” e que faziam dele uma personagem digna de registo….
A sua particularidade era a de parecer ter surripiado aos carroceiros o seu grandiloquente léxico “jargonístico”. Não se tratava de um vulgar asneirento. Era mais um erudito da arte do Jargão, do “praguejismo” e do palavrão mais vernáculo e expressivo…. Ora isso não desdizia da qualidade do seu trabalho. Profissional competente como poucos era naturalmente o chefe da equipe que fazia com o Alberto, o Beto, para os amigos….
….. Chama de dentro do gabinete o patrão, o Sr. Ezequiel:
- Óh Mário, vão depressa à rua do Moinho nª 37, que há lá uma inundação na casa de jantar da freguesa!
É p’ra já Sr. Ezequiel,,,, Óh Beto,,,, pega na trouxa e acompanha-me….
Montam no teço-teco: aqueles carrinhos que não precisam de carta para ser guiados, a ala que se faz tarde.
A D. Lurdes esperava por eles á porta e já tinha fechado a água. Áh…. Obrigada por terem vindo tão depressa… A coisa é ali no andar de cima para a casa de jantar do andar de baixo…. Ora o competente do nosso Mário realizou logo que mais fácil que partir o chão de cima, era rasgar o “estafe” do tecto de baixo…. E assim se fez. A casa era antiga, “Pombalina”, e no princípio do Século vinte, acrescentaram-lhe a canalização e electrificação por dentro dos tabiques recobertos por “estafe”. (Uma mistura de gesso com esparto ou sisal em placas de pouco mais de dois centímetros de espessura).
Rasgado que foi o tecto no ponto em que ainda evidenciava pingo,  o tubo de chumbo roto ficou logo à mostra. E o Beto acende o maçarico de petróleo, e com a barra de estearina e uma tira de chumbo, sobe até ao tubo, o Mário ficou em baixo estivando com os pés o escadote para não deslizar. Soldado o rasgão do tubo e sustido o pingo, repararam o “estafe com um pouco de gesso e voltaram para a oficina.
Lá chegados, estava o Ezequiel de mão na anca e com cara de poucos amigos.
Então oh Mário, que raio de regabofe foi esse que a freguesa telefonou p´raí num despautério…. E que nos ia processar e não pagava…. Que isto não há direito…. Ordinários….. sou uma mulher decente…. Isto é uma casa de gente séria…..
Sei lá, foi o diabo. Ela diz que vocês se fartaram de dizer ordinarices…..
Hó Sr. Ezequiel…. Olhe que não foi nada disso…. Isto foi assim:
- O Beto estava em cima do escadote a soldar o cano…. E eu estava cá em baixo a segurar o escadote. E “apenasmente” disse:
- ÓH BETO…. TEM LÁ MAIS CUIDADO, QUE JÁ ME DEIXASTE CAIR DOIS PINGOS DE SOLDA QUENTE NOS OLHOS!!!!
                      António Capucha

    Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2911

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