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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Guerra Colonial

Guerra Colonial- Evacuação de Heli, Alouett III


E vão cinquenta…. Cinquenta anos da data que nos trouxe boquiabertos a ouvir as noticias da telefonia…. O termo, terroristas entrou no nosso léxico, eu não sabia muito bem o que era isso, mas fui levado a sentir alguma proximidade, porque era o que os adultos me chamavam: Terrorista…. Lembro-me, por exemplo, de o “botas”, com a sua vozinha sumida de somítico, e a sua inexpressiva dicção, própria dos velhacos e cínicos, dizer: Para Angola, rapidamente e em força….
Depois foi a interminável guerra, e embora fosse rapazola dava para entender que nem tudo corria assim tão bem…. Eu, e os rapazes da minha idade, fomos crescendo no terror de lá ir parar…. O tempo passava e a guerra não acabava. Não mentirei se disser que foi ela a principal razão da tomada de consciência da situação em termos políticos. E que resultou naturalmente, na politização da nossa geração. Invulgar, diga-se, sobretudo se tivermos em consideração que acontecia em pleno fascismo, e a sua infame repressão dessas coisas. Tudo o que cheirasse a organização era imediatamente investigada, não fosse conter a propósito fosse do que fosse, as sementes da subversão. Sobretudo se se tratava de iniciativas de jovens pré- militares, ou estudantes. Era uma autêntica fobia persecutória. Bastava usar o termo: Colonial, para ser considerado subversivo. O Regime e o provinciano beirão, (o botas) tinham acabado de inventar que aqueles territórios se chamavam: Províncias Ultramarinas. Eufemismo ardiloso…. Aquilo era como se os comunistas nos estivessem a roubar o Minho ou o Algarve…..
A politização trouxe a busca da razão. Era aliás a sua primeira questão. E o Estado português era efectivamente culpado daquilo, que foram as guerras coloniais.  
A maioria dos povos colonizadores da Europa, terão passado por algo semelhante ou antes ou logo após a segunda Grande Guerra Mundial. Para além da sua injustiça esta nossa demanda guerreira era como os comboios da CP da altura: sempre atrasados.  
Este anacronismo Histórico, granjeou-nos animosidades internacionais, e o consequente isolamento nesse termos. Tornou-se imagem também gerada nos neurónios do cavalheiro de Santa Comba: O orgulhosamente sós!!!
Ele parvo não era, este tipo de imagens, colava na perfeição no sentimento muito Nacional do: Portuguezito valente, do pobrezinho mas asseado, do povo de brandos costumes…. Etc….etc… Quer dizer, todo este arrazoado de conceitos era sabiamente utilizado para a perpetuação do regime. E assim, a Nação suportava o esforço da guerra como parte disso, ao jeito de última coluna, da reserva, dos Guardiões da História e valores, da Civilização Ocidental. Ridiculo!!!
Embora para nós, a maioria dos potenciais combatentes dessa guerra, ela, não passasse de um monstruoso equívoco Nacional.
E assim se veio a revelar. Até os profissionais da guerra (os militares de Carreira) estavam contra ela, ou os seus desenvolvimentos. O oficiais do exército, sobretudo, viram os suas profissões  em perigo. E organizaram-se. Claro que rapidamente as razões desse descontentamento passaram a objectivos políticos, pois realizaram que, o problema era global. E o primeiro passo seria acabar rapidamente com aquela guerra sem sentido e sem fim à vista. E que se derrubassem o governo, se resolveriam esse, e outros problemas de que o País sofria.
A guerra foi portanto a mola real do derrube do “Facho” e das suas “capelinhas“. E como é evidente, uma das primeiras medidas foi acabar com a guerra. Foram acordados cessar fogos, entre as organizações combatentes, e depois a coisa foi evoluindo com a lisura possível. Havia questões de quem é quem, acerca das organizações interlocutoras com Portugal. E a descolonização foi muito mais complicada que a independência das Ex- Colónias. Muita gente foi apanhada no meio desta urgência da independência dos novos Países, mas isso são contas doutro rosário. Essa questão não foi tão mal resolvida, como ainda hoje alguns pretendem, porque apesar de tudo não travou a nossa marcha para a Democracia política. Desenvolvimentos posteriores dão razão quer a um, quer ao outro lado, mas do que não restam dúvidas é de que a independência é um direito absoluto dos povos…
Hoje, e de há muito tempo para cá, os jovens têm menos razões para se sentirem inseguros e a verdade é que denotam índices de auto confiança superiores aos nossos, isto apesar do desemprego e da texpansão tentacular deste polvo, (a crise e os seus sacerdotes, acólitos e servitas),  que agora nos ameaça esganar….
Pessoalmente gostaria de ter deixado, como herança à juventude actual, um céu mais desanuviado. Mas valha a verdade que esta é incomparavelmente melhor que a que vivi, se é que estar sob aquele terror, era vida…..

                                 António Capucha

                Vila Franca de Xira, Fevereiro de 2011

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