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domingo, 4 de setembro de 2011

Guerra é guerra

galos de luta

Três pedras no bolso. Um arco de flechas em cana da Índia aparelhada com fio de côco, comprada ali na venda do….. Varreu-se-me! As flechas eram P´raí umas dez por cada guerreiro, pacientemente feitas em caninha muito fina e verde com os nós bem limados e uma pena de peru ou pato atrás e presa numa ranhura sobre o comprido com um atilho em guita, que solidificava a haste para que não ficasse presa no fio de côco quando o arco era retesado. Bom…… Aquilo era uma arma bem perigosa, letal até, se as flechas tivessem na ponta uma farpa em ferro. Felizmente os conhecimentos e domínio da tecnologia não deram para tanto.
Ambos os exércitos tinham o seu castelo, armado no que desse jeito e por ali aparecesse. Todo este cenário e os demais adereços levaram bem, uns dois dias a arrebanhar e instalar no quintal, zona do pomar, da avó Rita. Os exércitos também eram bizarros. Tinham ambos um elemento apenas, que para além de Soldado, era General, Porta voz e emissário, Parlamentar para lá de tudo o que viesse a revelar-se util.
Eu e o meu primo Zé Tó, éramos os titulares destas forças militares. “Maráus” de estalo, não durou muito que estoirasse bronca da grossa. E não foi a guerra que a despoletou… Não! Foi exactamente um tratado de paz. Cansados de trocar pedradas e depois de várias salvas de flechadas, a que se seguiam lutas de espadas de pau de vassoura, intermináveis e infrutíferas, pois nem um nem outro dava sinais de rendição. Enviaram os parlamentares e estes entenderam-se numa paz duradoira…. Estavam eles a parlamentar quando uma galinha saltou para cima de um dos castelos. O parlamentar respectivo acusa a invasão e armando o arco desfere um tiro que vira o boneco ao galinácio. Correram para o inimigo comum e lá estava ela a espernear do outro lado do tronco que fazia de muralha, com a flecha espetada e bem espetada. Aquilo sim…. Aquilo é que era guerra…. Até o Sol fechar o cenário, voltou-se à guerra. Perus, patos, galos, galinhas e pavões andou tudo num badanal. Ele era calhoada e flechada de meia –noite, o mais natural é que mais dois ou três daqueles emplumados inimigos, tivesse levado o  correctivo merecido e apresentassem efeitos colaterais da refrega.
Quando a criadita recolheu a criação, deu por falta da poedeira e constatou o estranho coxear dalguns deles. Daí à avó Rita ficar a saber da coisa e descer ao quintal para ver com os seus olhos a devastação. E dessa observação à conclusão de quem teria sido o autor ou autores da coisa, foi um ápice… Resultado: Os exércitos foram presos à mesa da cozinha com uma linha de coser. Ainda tentamos argumentar que aquilo era a guerra e tal…… Mas aquilo era gente que não entendia nada de tácticas de guerras e assim…
Enquanto o conclave decidia o que fazer aos infaustos detidos… Estes sabedores de que partir a linha era a morte certa, ficaram mudos e quedos e embora não recorde muito bem, estou em condições de assegurar que cumpriram galhardamente os castigos, que não hão-de ter sido assim tão duros, porque nem na memória ficaram.                                        


                                      António Capucha
                      Vila Franca de Xira, Setembro de 2011

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