Naifa de pont'e mola |
O “ramelas” era um gajo de facas. Toda a gente lá do bairro contava até muitos antes de se meter com ele. A figura dizia quase tudo o que havia para dizer dele. Um fuinha encartado. Magro como um cão sarnoso. Pernas finíssimas e arqueadas sapatinho bicudo de matar barata ao canto da sala. De andar bamboleante de um lado para o outro, marcado pelo toque-toque do tacão à espanhola. No cimo da cabeça uns cabelos loiros, escorridos e sebosos assomavam parcos do chapéu de feltro castanho. O rosto era magro de rótulas encovadas, escuras, maçãs do rosto salientes. Caracterizando a palidez, um bigodinho ridículo e uma pêra talhada à Iago. Tudo nele inspirava velhacaria e ausência de valores. A sua “baubina” era uma navalha de “pont’e mola” que rebolava entre os dedos no interior do bolso do “Kispo”. A sua vozinha, várias oitavas acima do que é normal num homem quando contava uma graçola, ria numa careta e estridência histérica. A sua “baubina”, demasiado opiniosa amiúde saía do bolso de lãmina exposta para um corte punitivo que o mau do “ramelas” infringia por sadismo a quem quer que fosse, Muita gente, lá na rua, apresentava cicatrizes ou uma camisa às tiras, fruto dos volteios da “baubina”. Mas sempre assim pela surra, em guerras não declaradas e brincadeiras d’homem, que como se sabe são como os beijos de burro. Se a coisa fosse a sério ninguém via o “ramelas”. Desaparecia por detrás do cenário, fazendo uma aparição em jeitos e gestos “jedais”, apenas quando tudo já estava serenado. Cobardolas, portanto!!!! É o que há a juntar á colecção de cognomes do “ramelas”…
Um belo dia um outro fanfarrão lá do bairro estava à mesa da Tasca do Galo a beberricar um fino e na sua frente o “ramelas” brincava com a “baubina” espalmando a mão no tampo da mesa e picando no intervalo dos dedos cada vez mais depressa. O mocetão de voz grave e sonora, diz: Óh “ramelas” essa merda está-me a enervar… Ainda um dia te enfio a “baubina” pelo olho do cu acima..... Malandro…. Riposta o interpelado… Como um raio o mocetão dispara uma palmada na mão do “ramelas” e a “naifa” deu umas quantas voltas no ar. Acto contínuo deitou o faquir em cima da mesa e puxa-lhe as calças para baixo. O “ramelas” chorava baba e ranho de todo o tamanho enquanto berrava : Não…. Não…. Não
Objecto da risota geral a coisa só parou depois de estar assegurada uma boa dose de Justa humilhação, que não deixou ao “ramelas” outra coisa, senão mudar de esquina….
António Capucha
Vila Franca de Xira, Setembro de 2011
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