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quarta-feira, 27 de junho de 2012

A Carochinha










A carochinha





Habituada que estava a que tudo, ou quase tudo lhe caísse do Céu, Quando lhe falaram em casamento achou que era problema de somenos bastaria umas batidelas de pestanas à janela e um qualquer João Ratão havia de chegar-se à frente. Bem vistas as coisas beleza não lhe faltava era verdade! Mas o jogo da sedução requer sapiências específicas, e isso ela estava longe de saber.

Por isso parece-me bastante arrojado confiar plenamente na estratégia da carochinhaPara assunto tão sério como é este do casório.
Entre as coisas que aparentemente a joaninha – assim era o seu nome- desconhecia avulta por exemplo o facto de ter que saber dar-se e receber em troca uma outra pessoa que por acaso será do sexo diferente do dela e que é bruto peludo e cheira mal, além de que terá de ter um espírito de sacrifício para suportar as futuras agruras da união como por exemplo as mais que prováveis gravidezes e partos que não são flores que se cheirem em matéria de sofrimento. Desconhecia ela os meandros da natureza que conferiam às fêmeas humanas formas arredondadas e belas e uma infinita capacidade de sofrimento para a ter preparada para amissão que a natureza lhe destinou para a idade adulta e que inclui a capacidade da sedução, velha ciência que o ser feminino de qualquer espécie trás inscrito nos genes. Associado á tolerância do ser oposto sexualmente falando, são talvez a principal ensinamento da natureza. Nós é que divergimos e no topo das missões de vida de cada um de nós, colocamos a nossa realização em termos humanos. Às fêmeas humanas, também a sua realização pessoal vem prioritariamente à cabeça dos principais factores de realização. É esta uma conquista da civilização da espécie. E muito bem o é.
Mas a nossa carochinha teve azar. Às pistanadelas ainda que belas à janela,não acorreram joôes ratões, tão só ratões que ora procuravam a satisfação da sua lascívia, ora, uma mãezinha, para substituir a que estava longe, ou, uma criada para todo o serviço, ou ainda , as três coisas num só desejo. A nossa Joaninha era ignorante de muita coisa, mas parva não era. E porque estava tão habituada a que lhe caísse tudo do Céu, ficou para tia, e tinha uns belos e espevitados setenta anos quando me contou esta “estória exemplar”. Eu partilho-a convosco com todo o prazer. Para que não cedam à vulgaridade de ser joaninha ou ratão, porque é nefasto além de indecoroso.


                    António Capucha

       Montijo,26 de junho de 19012

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