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quarta-feira, 9 de março de 2011

Chambres, Room’s , Zimmer’s….

Câmara Municipal de Peniche
Chambres, Room’s , Zimmer’s….
É o primeiro grito ouvido de Peniche, gritado por pequenos cartazes que umas criaturas trazem e agitam como espantalhos, na Avenida que das portas da Cidade leva até à Ribeira Velha e ao Forte. Ocupam  locais estratégicos e quase nos entram pelo carro dentro… Estas rapaces, gaivotas de arribação, podiam ser um quadro típico das gentes penicheiras…. Mas não! Os seus vestidos de mil saias coloridas e outros tantos saiotes, aventais bordados camisas brancas e mantilhas pretas, denuncia tratar-se de mulheres do povo, sem instrução escolar, de olhar ávido e astuto tão oportonista como a das gaivotas…. Por vezes trazem uma jovem da família à ilharga, que ajuda na abordagem ao “terista”.
Se se ficassem pelas vestes ainda podiam ser um cartaz turístico a considerar, mas a avidez do olhar denuncia a voracidade pelo dinheiro e apenas isso….
O ouro que pendurado do pescoço destas aves, algum peso faz… É alarde do sucesso desta iniciativa industrial…. Economia paralela, de logros e a roçar a indignidade.
Conheço bem aquilo de que estou a falar. Peregrino de Peniche que sou, de há mais de vinte e oito anos, aconteceu-me mais que uma vez, fruto de equívocos vários, falhar o pouso que habitualmente tinha, e  daí ter que recorrer e estas “industriais” espontâneas.
E sempre para além da incomodidade das circunstâncias, havia que somar o incómodo da observação da natureza do negócio…..
Ora, as pessoas nos cediam a troco de dinheiro a sua casa, e retiravam alegremente para um anexo vetusto e sem luz e dessa manobra resultava normalmente a partilha da cozinha ou da casa de banho. Ou a partilha da casa com uma enfermeira ou professora ou sei lá o quê, mas sempre muito sossegadinha, tão sossegadinha que os senhores nem dão por ela….. Ou ao contrário impingem-nos pela módica quantia a combinar, isto é: Numa breve conversa vão-nos avaliando.... Considerados que foram a necessidade do “terista”, e as posses que ostentam, determinam quanto vão extorquir aos incautos, que a proximidade da noite trás mais inseguros…. Nunca fizemos negócio porque a sordidez da situação foi sempre tão excessivamente gritante, que nunca se sobrepôs à necessidade e urgência sentida….
O que vi, em termos de qualidade da oferta e desfaçatez, se fosse uma experiência muitas vezes vivida trar-me-ia um ódio de morte a esta terra.
O que vale é que como bom “habitué” procuro e tenho conseguido encontrar nesta selva, solução de continuidade, que tem vindo em crescendo. A tal ponto que hoje somos uma família integradíssima e empenhada na evolução desta população que somos nós…. Coração penichense, como a minha mulher disse aquando da apresentação de um quadro seu na inauguração de uma exposição de arte moderna em Peniche… E como tal, o coração sofre:
- Sofre com o sangria a que sujeitaram a frota da pesca….
- Sofre com o definhar lento mas constante da Cooperativa dos Pescadores, e da proliferação e “desemerdanço” das grandes superfícies comerciais….
- Sofre com a substituição dos bairros de pescadores em correntinha de casas como contas de um terço, pelos edifícios típicos do “Portugal Sur le Mer” de gosto “burguesote”….
- Sofre com a localização da “ETAR”…. Embora talvez ali à volta de Peniche, não haja locais que se possam dizer de menor nobreza…. Mas aquele, junto ao cabo é seguramente mais nobre que o Salão Nobre da Câmara Municipal….
- Sofre quando vejo que a praça de Peniche, consegue vender o peixe mais caro que em qualquer outro lado. Inexplicável!!!!!
Mas rejubila por mil e uma coisas…. Sigularmente as mesmas, mas vistas de outro ângulo:
- O prazer sempre renovado de ver os barcos a sair para o mar….
- O prazer de ir à mercearia de bairro comprar a melhor fruta e os bolinhos caseiros e levar de borla os sorrisos da proprietária…..
- Dá-me prazer serpentear pela urbe central e as suas casas despretensiosas na beleza austera das suas grossas paredes e ombrais de pedra trabalhada a traços simples, e a clarabóia por cima da porta de entrada, com vidros e cercadura de pedra.
- Adoro passear ao longo de todo o Promontório do Cabo Carvoeiro….
- Não me cansa ver a Papôa…. E Por trás a ilha do Baleal…. 
- A sardinha de Peniche e todo o seu peixe de uma forma geral, tem um não sei quê…. Um cheiro diferente do dos outros lados….
- Diabos me levem!!!!! Mas até à “Marie Elisabeth”, perdoo o cheiro, por ser uma actividade genuína da terra…. (marie elizabeth portuguese sardines 100% pure olive oil)  E claro, pelo bem que sabem….
- Gosto do sitio onde moro e dos vizinhos e vizinhas…. Pessoas com a capacidade de doseamento de intimidade, que não enjeitam nem impõem. Rara virtude!
 É verdade!!!!!
Por todas estas, e mais as razões que se quiserem ter em conta, é um feio quadro, esse das criaturas a venderem logros em forma de alojamentos…. Deve haver uma forma de sonegar isto aos nossos visitantes…. E simultâneamente, proporcionar ao turista apanhado com as calças na mão, um alojamento alternativo de proximidade e de qualidade e dignidade assegurada….


                             António Capucha

              Vila Franca de Xira, Março de 2011

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