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terça-feira, 17 de maio de 2011

Pinheiro Bravo

caravela portuguesa

A chaga aberta no seu tronco, uma “lascadela” enorme, e com golpes oblíquos descendentes, de ambos os lados, convergentes no eixo do seu corpo, a menos de um metro do chão, e com uma chapa de ferro dobrada em “vê” espetada na parte inferior com o vértice para baixo a colectar as excrescências da frondosa árvore, de onde escorrem as grossas lágrimas de seiva que pastosa e lenta como um glaciar. Não se dá por que escorra, mas escorre, para um pucarinho de barro apoiado por uma tranquinha de madeira espetada na casca do pinheiro, sem o ferir.
O cheiro inconfundível e penetrante da resina (o nome das lágrimas dos pinheiros), começam também elas a ser uma recordação de infância. Primeiro porque já arderam quase todos. E em seu lugar plantam outras árvores, nem sempre autóctones, diga-se…. O pinho está na nossa terra desde sempre e desde muito cedo foi utilizada nas zonas litorais para suster o avanço das dunas… O intuito era o de proteger e criar novas áreas de cultivo. E rezam as crónicas que as nossas Caravelas incorporavam muita da sua madeira, que enquanto verde, se molda com alguma facilidade correspondendo aos caprichos da arquitectura naval, que por sua vez tem que respeitar as leis da hidrodinâmica… Mas não ficava por aqui a contribuição dos pinheiros para a desenvoltura das nossas embarcações. Da chamada resina fazia-se o “Pez”, que em determinado ponto de consistência, embebia um braçado de estopa e calafetava as juntas das pranchas que constituíam os cascos dos navios e lhe conferiam a estanticidade necessária à flutuação, ao mesmo tempo que contribuía para a solidez estrural do conjunto…. Numa outra consistência, bem mais fuida, o pez era usado para pintar toda a madeira, impermeabilizando-a…. O Pinheiro, estava para a construção naval, e a economia desses tempos idos, como o Porco está, ainda hoje, para a culinária: Aproveita-se tudo! Até a caruma!!! Que é nem mais nem menos que as suas folhas em forma de agulhas secas. Eram as acendalhas de então, e os inúmeros “trancos” que iam secando, tombados no chão atapetado de caruma, eram o combustivel dos pobres, chegando mesmo a estar postulado em “Lei”, o Direito das populações a apanha-la…. Por fim, o ambiente que na prevalência dos pinheiros era gerado, pululavam as espécies de caça mais cobiçadas. Sendo que a lei também tinha a mão pesada para os colectores de lenha, que não resistissem ao pular dos coelhitos que havia aos magotes, e que sempre daria para uma família matar a malvada…. Enfim….. Estes tempos de glória e progresso, fizeram-se também de permeio com a miséria da maioria da população… Então como agora, os limites eram extremos…. Os seres privilegiados, nobres de condição os mais deles, enriqueciam despudoradamente sem se importarem com a humilde árvore que lhes deu essa oportunidade de crescer e exercer o poder. E os apanhadores de lenha e caruma, resineiros e os pobres em geral, era vê-los manetas por terem morto um coelhito, na mata Real. Porque se tivesse sido um Gamo….  Não era só a mão, não…Pagava-o com a vida….
Reparem só o que está escrito num pinhal, como a mata Real de Leiria…. Os sossurros do vento nas agulhas dizem coisas, contam coisas, Ai jesus... Valha-me Deus....( poema do Fado dos búzios/Coimbra) O porte altivo dos pinheiros, furando o ar a caminho do Céu, chiando sob a canícula e fazendo estalar as pinhas, seus frutos lenhosos, contam-nos “estórias”, de glória e de morte, de Invernos agrestes, que ajudaram a temperar…. E outras estórias” mais arrepiantes, de bruxas e duendes, de feitiços e “maus olhados”, de lobos e Capuchinhos, de fogos descomunais, Fogo.... Esse bailarino diabólico dos nossos dias....será a factura a pagar por termos sido grandes no passado?  De termos sido navegadores destemidos e hábeis... será???…. Ou será por termos construido também, os melhores navios da época…. E a vela latina para navegar à bolina!!! E porque fomos, seguramente os descobridores de uma nova tecnologia e cultura associada a um conhecimento científico e sistematizado… Que nos tornou os grandes reveladores do Mundo: outro, ao Mundo: este. Que arregalando o olhar lorpa, apenas puderam deixar crescer a inveja e a voracidade rapinante dos corsários... Quiçá, é ainda o mobile desta cruzada rapinante do FMI, da senhora Merkel, Do Pim-Pam -Pum d'ópera bufa do Sarkozy, e outros Bárbaros. A cheirar a after shave....


                                   António Capucha

                     Vila Franca de Xira, Maio de 2011

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