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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Abril, águas mil....



Lá fora o escuro da noite envolve os contornos familiares do jardim. O pinheiro manso recorta-se contra o Céu estrelado e o silêncio é apenas cortado pelo grasnar de uma gaivota que perdeu o último autocarro para a Berlenga, e, o bategar de chuva nas folhas opulentas das "orelhas de mula",uma espécie de planta marciana, porque primeiro rebentam as flores, lindas, e grandes entre o vermelho e o laranja, que emergem da terra vindas do nada, isto por volta de Novembro, e só depois rebentam as folhas verdes e descomunais, em forma que não em tamanho, das orelhas de uma mula, ou de um jumento... Há um ninho no loureiro, ouço ruidos inconfundíveis, mas não vejo nada, de tão densa que é a folhagem, o lagedo está molhado e o ar cheira a terra molhada, um cheiro que nos recorda não sei o quê, mas tão familiar... Abril, águas mil.... Diz o povo, parece que com razão. Durante o fascismo, o Estado novo, velhacos e toscos, elegram Abril como a época do ano mais bonita para os "camones" visitarem Portugal, até fizeram uma cantiga roubando a música ao Fado de Coimbra do choupal /ainda és Capital/ do amor em Portugal, ainda..... E por aí fora.... E colaram-lhe a letra do Abril em Portugal..... E o que a malta gozava... "Chuvia, que Deus a dava"..... Andavam moçoilas em trajos regionais, à minhota, madeirense, nazarena e tal a correr a baixa de Lisboa a entregar às turistas, flores. Uma campanha levada muito a sério e com sombrinhas abertas, Mas..... "Da violeteira, hoje já ninguém tem esperança, deixou saudades, foi-se embora e à tardinha, está o Chiado carregado de mil tranças, mas tranças pretas, ninguém tem como ela as tinha..... Àh fadista.... 

                                       António Capucha

                                Peniche, 3 de Abril de 2013

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