Estou
a assistir a uma reportagem de pessoas que relatam as coisas vividas durante
experiências da chamada “quase morte”. Ouvi e respeito as suas opiniões e a sua
descrição do fenómeno, mas eu que estive nessa situação ao que me dizem por
mais que uma vez, não recordo nada de semelhante. Aliás não recordo coisíssima
nenhuma. O que tenho de memória desse tempo são verdades plausíveis sequências
de acontecimentos extraordinários no entanto plausíveis. Coisas naturalmente
fantasiosas mas muito reais, e como disse passíveis de acontecer, no entanto
improváveis. Estive em Londres, numa filial do hospital de S. Marta, estive no
velhinho Quelhas para onde se teria transferido a enfermaria, estive numa
suposta casa a caminho de Peniche, mais precisamente na Marteleira. Casa das
arábias onde residia o cirurgião chefe de S. Marta, cujo se injectava com
bagaço da sua lavra, numa artéria da perna, e onde ao fim de um tempo que terá
levado a cedência que fiz da minha vez, para operarem uma miúda que padecia não
sei bem de quê. O realismo e a fantasia coseram-se de tal forma que me vejo no
edifício da minha escola secundária a recuperar e recordo negativamente que um
enfermeiro por quem nutria um ódio de estimação, porque era petulante e
arrogante e em suma parvo, e estando á roda com outros doentes estava a contar
uma “estória” em tom jocoso e o parvalhão assenta-me um murro no peito. Terá
sido o desfibrilhador … Ou quê? Pois é, “no sabremo mai”…. De novo a fantasia
plena de realismo fez com que a minha cunhada, pessoa de quem gosto
particularmente me foi visitar e me deu a sopa à boca e a quem mostrei a
costura da operação de peito aberto. Cabe aqui referir que fui compelido a
entrar no hospital para fazer uma operação urgente ao coração, fazer quatro “By
pass”
Em
vez disso fiz quatro semanas de coma…. Não partilho das descrições das pessoas
nesse programa aquela “estória” da luz intensa e bela o sair do corpo e ver-me
a mim próprio, na cama e cheio de tubos por todo o lado. Isso parecesse demais
com as teorias balofas da natureza humana segundo os preceitos da Santa Madre.
Eu ateu que sou, fico-me pela fantasia bem realista e daqui não saio nem que me
matem…. O meu intelecto terá criado toda esta panóplia de fantasias reais, e
acredito que escondida no meio delas, estará
o click, um qualquer factor químico, que não me deixou transpor a linha
para o lado de lá. Seja como fôr, tanto eu como as outras pessoas que foram
trazidas a relatar os seus casos, nada do que nos aconteceu, aconteceu para lá
do nosso intelecto, tudo teve origem e fim determinado pelo nosso
subconsciente, que é uma parte do nosso intelecto. Cada um de nós viveu-o de
acordo com a sua formação cultural, e posição religiosa…. As ”estórias”
resultam diferentes, penso, que devido às diferenças de convicções do “pós
morten”. No meio desta caldeirada de amores e desamores, estará a verdade, cuja,
nunca terá saído das nossas cabeças. E não sei dizer mais….. A questão já é
sobejamente extraordinária, pelo que, se dispensam angelicais figuras, e visões
celestiais, ou tenebrosos diabos e infernos….
Mas
como já disse, respeito as histórias de cada um, só espero que respeitem a
minha…. É que é hábito da cultura prevalecente, impor a sua verdade como única.
António
Capucha
Vila Franca de Xira, 7 de Agosto de 2013
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