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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Viuvez

pintura de Graça morais

Da macieza elástica, firme da pele, só a memória. Do leve rubor das faces, uma pálida flacidez. Do tom de delicado marfim, apenas vestígios em ondas pendentes.
É o corpo que não escapa ao rigor do espelho, quando pela manhã se vê, enquanto faz a sua higiene diária, aplica os unguentos, que acredita a favorecem. Mas sem se dar conta, tudo o que faz ou não faz, apenas caracteriza, acentua, cultiva os tons da viuvez, valor “que mais alto se alevanta”, não apenas fruto das vicissitudes da vida que a desancaram desapiedadamente, ou do estado civil, mas mais como opção de vida e valores culturais. Uma verdadeira assunpção de vontade. Que me dói tão fundo quanto o pouco ou nada, que posso fazer para o evitar. Dói-me assistir a esta imolação que vejo expressar-se cada vez mais no seu corpo e nos seus hábitos de vida. Mas muito mais…. Se fosse capaz de transmitir o que sei ser o potencial desta criatura em diversos domínios. Doer-vos-ia igualmente, esta “dor que deveras sinto”.
Porque observador de coisas, pessoas e seres, que desde que me lembro sou, tenho memória de dezenas de pessoas que quase sem lhes saber os pormenores mais comuns, lhes guardo um cantinho na minha Alma e lhes visto uma vida, como as crianças vestem bonecas.
Projecto-lhes vidas e destinos, mas em privado, sem o atrevimento de um grito: É PÁ ACORDA!!! DE QUE TANTO SOFRES QUE ATÉ SE VÊ????  MERECES MAIS E MELHOR QUE ISTO…. E SABES QUE MAIS? NÃO HÁ NADA QUE MEREÇA O TEU DEFINHAR…. ÉS MAIS DO QUE ISSO…. VALES MAIS DO QUE ISSO!!!!!
E quantas são as Almas neste purgatório, a maior parte das vezes não por pecados próprios. Pois não sei responder a isso. Suponho serem muitas, por ventura a maioria. Mas esta é minha…. É do meu circulo de criaturas onde corporizo o meu amor à humanidade….. Não me causes mais dor… Que já me basta a cobardia de só falar e nada fazer….


                                António Capucha

                Vila Franca de Xira, Agosto de 2011

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