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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O sacrifício das raízes



Estava muito longe de aceitar publicar neste blogue, um  texto de um Ministro de Salazar... Mas por muito estranho que seja, concordo com o que ele diz e até acho o texto exemplar. E é sem complexos de qualquer espécie, que o publico...
Foi-me enviado por e-mail, pelo Mano Velho, obrigado.
                        António Capucha

O sacrifício das raízes
por ADRIANO MOREIRA17 setembro 2013, no DN
Nesta perturbada entrada no século XXI, com uma transição articulada designadamente pelos conflitos militares de inquietantes custos humanos e materiais, envolvendo o presente e o futuro das pessoas e das comunidades, a atenção às raízes das comunidades em crise precisa de ser preservada de debilidades favoráveis a perdas irrecuperáveis, designadamente, se possível, dos erros de avaliação, mas sempre contra o método de impedir que os povos vejam a realidade, porque o Estado espetáculo a cobre de nevoeiro suficientemente opaco.
Poderia servir de exemplo definitivo o caso do Iraque, a respeito do qual o Presidente Bush seguiu a chamada doutrina do 1% de Cheney que "justificou a invasão do Iraque na base de que se existe 1% de possibilidade de que alguma coisa seja uma ameaça, isso requer uma resposta dos Estados Unidos como se a ameaça fosse certa em 100%" (Naomi Klein).
As dificuldades, ainda não ultrapassadas, que foram causadas aos EUA e ao povo do Iraque, preencheram o consequencialismo de uma das mais precipitadas visões da realidade, no que respeita à afirmada existência de uma capacidade atómica do Governo do Iraque, e acrescentaram a liquidação irrecuperável de expressões de uma das mais antigas civilizações, por destruições, espoliações, até pelo simples descontrolo dos envolvidos no combate.
Os analistas que não subscrevem os testemunhos dogmáticos da Escola de Chicago e da cruzada de Milton Friedman, morto dias antes da derrota dos republicanos nas eleições a meio do mandato para o Senado em 2006, põem em evidência, como suportes do seu desamor pela doutrina do famoso economista, o facto de ter sido seguida, alegadamente, por regimes como o de Pinochet, que não deixou boa memória.
Esta linha crítica, que também deve ser prudente com o cuidado que é sempre exigível aos contraditores académicos, não obstante a sua reconhecida idoneidade, neste caso também a ponderação terá que não diminuir a presença ativa dos princípios defensores do Estado mínimo, uma orientação que já levou à legitimação em alguns lugares, da privatização da segurança e dos que foram chamados os "cães de guerra".
Independentemente de os regimes serem democráticos, e por isso não exibirem o perigo e o método da violenta submissão das sociedades civis, o perigo do Estado mínimo parece ter reflexos na onda de privatizações à luz da crise financeira, europeia, ocidental, mundial e, por isso, portuguesa, que alarmam visões arreigadas da identidade das sociedades submetidas a essa terapia de choque.
Não parece indicado ignorar que patrimónios, instituições e funções, - que uma longa tradição considera não apenas vitórias, de uma longa evolução mas indispensáveis à confiança no Estado e à própria identidade dos países - não podem ver anulada a sua natureza pública por imperativo de uma ideologia orçamental, pela superintendência de funcionários internacionais no exercício de um protetorado, que deviam falar com funcionários do Estado que possuem igual ou maior experiência profissional e seguramente maior conhecimento dos países, porque o lugar dos ministros é no Conselho de Chefes de Estado e de Governo, para que cada um medite e confronte o que, no seu respetivo país, não pode sair do sector público, e dispensa multiplicações de comissões, de assessores, de consultores, adjuntos, escritórios, que afinal substituem o que chamam Estado excessivo por uma administração paralela, sobretudo orientada por um credo de mercado e que não costuma, certamente, ler as intervenções do Papa Francisco, continuador de uma série de papas humanistas que seguiram ao Concílio.
Grande parte das alienações que se vulgarizam tocam nas raízes das comunidades e, portanto, na sua identidade. Nas crises brutais por que Portugal passou nestes já longos séculos, foi a segurança da identidade da sociedade civil que permitiu reconstruir um novo futuro. Não é possível consentir que se afetem as raízes para obedecer ao credo do mercado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estás a fumar não tarda...