Estava muito longe de aceitar publicar neste blogue, um texto de um Ministro de Salazar... Mas por muito estranho que seja, concordo com o que ele diz e até acho o texto exemplar. E é sem complexos de qualquer espécie, que o publico...
Foi-me enviado por e-mail, pelo Mano Velho, obrigado.
António Capucha
O
sacrifício das raízes
por ADRIANO MOREIRA17 setembro 2013, no DN
Nesta perturbada entrada no século XXI, com uma transição articulada
designadamente pelos conflitos militares de inquietantes custos humanos e
materiais, envolvendo o presente e o futuro das pessoas e das comunidades, a
atenção às raízes das comunidades em crise precisa de ser preservada de
debilidades favoráveis a perdas irrecuperáveis, designadamente, se possível,
dos erros de avaliação, mas sempre contra o método de impedir que os povos
vejam a realidade, porque o Estado espetáculo a cobre de nevoeiro
suficientemente opaco.
Poderia servir de exemplo definitivo o caso do Iraque, a respeito do
qual o Presidente Bush seguiu a chamada doutrina do 1% de Cheney que
"justificou a invasão do Iraque na base de que se existe 1% de
possibilidade de que alguma coisa seja uma ameaça, isso requer uma resposta dos
Estados Unidos como se a ameaça fosse certa em 100%" (Naomi Klein).
As dificuldades, ainda não ultrapassadas, que foram causadas aos EUA e
ao povo do Iraque, preencheram o consequencialismo de uma das mais precipitadas
visões da realidade, no que respeita à afirmada existência de uma capacidade
atómica do Governo do Iraque, e acrescentaram a liquidação irrecuperável de
expressões de uma das mais antigas civilizações, por destruições, espoliações,
até pelo simples descontrolo dos envolvidos no combate.
Os analistas que não subscrevem os testemunhos dogmáticos da Escola de
Chicago e da cruzada de Milton Friedman, morto dias antes da derrota dos
republicanos nas eleições a meio do mandato para o Senado em 2006, põem em
evidência, como suportes do seu desamor pela doutrina do famoso economista, o
facto de ter sido seguida, alegadamente, por regimes como o de Pinochet, que
não deixou boa memória.
Esta linha crítica, que também deve ser prudente com o cuidado que é
sempre exigível aos contraditores académicos, não obstante a sua reconhecida
idoneidade, neste caso também a ponderação terá que não diminuir a presença
ativa dos princípios defensores do Estado mínimo, uma orientação que já levou à
legitimação em alguns lugares, da privatização da segurança e dos que foram
chamados os "cães de guerra".
Independentemente de os regimes serem democráticos, e por isso não
exibirem o perigo e o método da violenta submissão das sociedades civis, o
perigo do Estado mínimo parece ter reflexos na onda de privatizações à luz da
crise financeira, europeia, ocidental, mundial e, por isso, portuguesa, que
alarmam visões arreigadas da identidade das sociedades submetidas a essa
terapia de choque.
Não parece indicado ignorar que patrimónios, instituições e funções, -
que uma longa tradição considera não apenas vitórias, de uma longa evolução mas
indispensáveis à confiança no Estado e à própria identidade dos países - não
podem ver anulada a sua natureza pública por imperativo de uma ideologia
orçamental, pela superintendência de funcionários internacionais no exercício de
um protetorado, que deviam falar com funcionários do Estado que possuem igual
ou maior experiência profissional e seguramente maior conhecimento dos países,
porque o lugar dos ministros é no Conselho de Chefes de Estado e de Governo,
para que cada um medite e confronte o que, no seu respetivo país, não pode sair
do sector público, e dispensa multiplicações de comissões, de assessores, de
consultores, adjuntos, escritórios, que afinal substituem o que chamam Estado
excessivo por uma administração paralela, sobretudo orientada por um credo de
mercado e que não costuma, certamente, ler as intervenções do Papa Francisco,
continuador de uma série de papas humanistas que seguiram ao Concílio.
Grande parte das alienações que se vulgarizam tocam nas raízes das comunidades
e, portanto, na sua identidade. Nas crises brutais por que Portugal passou
nestes já longos séculos, foi a segurança da identidade da sociedade civil que
permitiu reconstruir um novo futuro. Não é possível consentir que se afetem as
raízes para obedecer ao credo do mercado.
1 comentário:
Estás a fumar não tarda...
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