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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O palácio do Sr. D. Miguel

Palácio do Sr. D. Miguel

O palácio do Sr. D. Miguel, Príncipe Real da casa de Bragança. Foi abaixo nos idos de mil novecentos e setenta em plena Primavera Marcelista do antanho fascista. Mas como se deixa ver de primavera só tinha o nome que a invernia era a mesma. É que sob a capa já muito remendada da sisudez e respeito pela tradição (valores alardeados pela direita mais reaccionária ainda hoje), a realidade é que a venalidade era a norma nesta como noutras coisas….  Associado como era timbre na altura, à estupidez, ignorância e desrespeito pelo património colectivo que é a nossa Historia…Aliás daqueles tempos espera-se quase tudo. O pior é que parece que o vício pegou e tornou-se quase norma sacrificar valores históricos ou culturais, em nome de eventuais factores de progresso mais que duvidosos. E atenção.... Embora pareça, não foi uma invenção dos vilafranquenses.ou dos portugueses. É mais fruto da arrogância intelectual da fase civilizacional que estamos a atravessar.  Quem manda pode e os que podem mandam que tudo seja descartável face ao que eles decidem ser o progresso ou outra qualquer manobra para encobrir as canalhices que nem me dou ao trabalho de descrever. E isto já vem muito de trás como adiante se verá.....
Voltando ao palácio….. Não sou especialista mas algo me diz que ele não era um primor arquitectónico. Mas o seu valor Histórico era  inegável.
Quando o D. Miguel se juntou às tropas absolutistas que escolheram Vila franca para sediar, é natural que tenha pernoitado no casarão, e lá tenha reunido com os generais dos revoltosos. Com certeza que não terá sido no 14 e 8, ou no Cabeça de Toiro de permeio com uns “tintois” de respeito e umas pataniscas de bacalhau que se conspirou....….
Embora pelas piores razões A chamada Vilafrancada, que é o único facto que mete Vila Franca na História de Portugal sem que tenha havido a necessidade de o Prof. José Hermano Saraiva, desenterrar factos duvidosos como quem colhe grelos na horta. Temos o nosso lugar garantido na História e como disse, embora não seja pelas boas razões: Porque se a revolta absolutista triunfasse significaria um retrocesso Histórico de monta. Que não se deu porque os absolutistas e o infante levaram para "tabaco" das tropas constitucionais que se lhe opunham. E por essa razão Vila Franca, passou a ser chamada de Vila Franca da Restauração.... Isto Século e meio antes de abrir o "Zé dos Frangos" que inaugurou outra fase de real progresso económico mas não só, assente no florescimento Também da restauração (esta outra de faca e garfo) vilafranquense.... 
Essa razão não é porém de tal monta a que o edifício em causa fosse descartável. Os mamarrachos que hoje ocupam o seu lugar podiam ser feitos em qualquer outro lugar, só que, as casas ficavam a ter valor diverso – inferior – porque aquele sítio é que é central…. Em pleno Martir Santo exactamente em frente à igreja. 
Mais tarde na primeira república nas greves do principio do Seculo XX, aquela Estória dos operários de Alhandra e dos “cagaréus” os Vila-Franquenses, ou está mal contada ou também não abona muito em nosso favor. Parece existir a forte tendência para fazer tudo errado e estar sempre do lado errado das coisas, Julgo no entanto que estas ultimas se devem mais à rivalidade entre ambas as Vilas, expressas mais recentemente na disputa da verdadeira sede natural e Histórica do Neo-Realismo. Coisas deste tipo são para derrimir no futebol, já o foi no Remo e na Vela, mas ao que parece nem uma nem a outra vila têm economias capazes de sustentar uma equipa de futebol, suficientemente vingadora das afrontas dos seus vizinhos….
Noutro lado, na rua do Jardim , por cima do CASI e em frente ao Ateneu, existia uma correnteza de casas pequenas, modestas e iguais, que terão sido, digo eu, uma vila operária  e mais à frente de Sul para Norte do mesmo lado existiu um pátio tradicional com equipamento colectivo – os tanques de lavar a roupa estendal etc. Hoje é um altaneiro bairro de apartamentos caros onde aceitando entre a seu “porte” ostensivo  e pedante, a Junta de Freguesia do burgo) nesse pátio  morou um maioral a sério…  A cujo garbo equestre eu rapazola assistia da minha janela todas as tardes. Estas casas e o pátio que já teriam sido construídas em cima de um jardim e do sítio também desapareceu uma Igreja gótica.   
Um tudo nada mais abaixo onde hoje é rua ou calçada da Fonte Nova Que desemboca no largo do Adro  da igreja Matriz tudo isso era um cemitério e desse facto possuo a prova pois umas obras aí havidas em meados de cinquenta do Século passado revelou um sem número de ossadas humanas.com restos dos caixões. Claro que foi um acontecimento no bairro e uma festa para a rapaziada....                                        
Continuando para Norte, idos da rua do Jardim,  havia uma vila operária, num plano elevado em relação à rua e que ia quase até à quinta onde morava o Dr. Luis. Sensivelmente a meio tinha um arco que ligava a vila a um baldio nas traseiras onde faziam umas hortas. Nesse bairro morava uma personagem que me mantinha pendurado da janela com gosto… Era um antigo operário ao tempo reformado, que vestia ainda e sempre o seu fato de macaco. E nesse preparo ia de casa, uma ou duas vezes por dia, com um pequeno canito atrelado a uma carroça pintada a preceito e com campainhas e guizos, e à giza de condutor levava empoleirado um galito có-có. Linda procissão…. Que se detinha ali na rua direita na tasca do pai da Júlia Que tinha uns tonéis que “amandavam ventarolas” À porta da tasca com dois degraus estava uma velhota com um fogareiro aceso e um cesto de verga com ostras apanhadas nesse dia ali abaixo no Tejo. Ora o mau Habito que se cultivava na tasca ( como é sabido nas tascas só se adquirem maus Hábitos) era comprar à velhota uma ostra que ela punha a abrir sobre o carvão, pulvilhar com um pouco de sal e pimenta preta que a senhora fornecia e espremer umas gotas de meio limão. Assim munidos entravam na taberna e pediam um copo de vinho e estava feita a boca para o almoço ou o jantar…. Não sei se o Sr. D. Miguel sabia disto ou mesmo se as tropas da vergonha absolutista cá estivessem por esta razão. Isso já atenuava a ignomínia de nos terem escolhido para base da revolta. 

O Infante D. miguel junta-se às tropas absolutistas em Vila Franca de Xira
                                                 


Não sei que tipo de apoio receberam da população. Agora da parte da nobreza é seguro que recolheram os entusiastas “vivós” e foguetórios. Ao que parece, embora nem todos os nobres fossem absolutistas, uma boa parte sê-lo-ia... Quando os  Filipes de Espanha tomaram conta disto tiveram mais apoio da nobreza de Portugal do que seria decente e patriótico esperar. A nobreza preferia a monarquia espanhola que era mais tradicionalista e bem mais rica e por isso distribuiria por eles mais bens e honrarias que a casa real portuguesa, bem mais parca de recursos e com menos com que  partilhar com esta gente supostamente patriótica… Bem adiante…
Também parece que apostaram no cavalo errado porque os reis de Espanha eram mais magnânimos, sim senhor,  mas com os fidalgos espanhóis e os nosso ficaram a torcer a orelha e a chuchar no dedo: Salvo raras excepções a nossa nobreza efectivamente era para além de venal, sumamente estúpida. Porque é que nós os vila-franquenses, havíamos de ser perfeitos e menos abéculas quando se tratava de escolher um lado das coisas que é de regra terem sempre dois lados. As ostras têm muito Fósforo (P) mas não o suficiente para transformar um bando de cagaréus “incultos” - é melhor dizer iletrados, que cultura tinham-na, e bem vincada.– em cidadãos clarividentes….  
Por último espero não ter que assistir aquilo que em jeito de profecia vou fazer. Mas a expansão do lobie do cimento é tal, que tem levado à cegueira, não já da destruição patrimonial, mas, e pasme-se, da duvidosa segurança do que é construído. A urbe de Vila Franca está prestes a abraçar o Monte Gordo e aquele terreno até ao maciço calcário é de terra não muito firme…. (eu próprio testemunhei deslizamentos de terras em todos os Invernos de muita chuva.) Ora isso associado ao peso do parque construído fará um belo

Vila Franca de Xira inicio do século XX .Ainda não havia a pedreira do António Maria .  é bem visível a natureza do solo abaixo do maciço calcário

”skate”…. Se ao terreno empapado e demasiado pesado lhe juntarmos umas abanadelas telúricas então o desastre parece-me inevitável…. O mesmo lóbie aposta espraiar-se para a Lezíria, por enquanto apenas na margem Norte… Mas até essa já parece excessiva.  Há que trava-los, se não vão deitar abaixo a capela da Senhora d’Alcamé para construírem um “ressort” de luxo onde a senhora é substituída pela de Fatima e vendida em pernoitas abençoadas e orgias com campinos autênticos de pampilho tudo…. É claro que é barrete……. O que trarão na cabeça… Os cavalos serão alados!!! 
Vá lá senhores importantes, que decidem destas coisas. Travem enquanto é tempo…..  Já se fizeram asneiras de mais. As referências que faço ao longo  deste texto, se pecam, é por defeito. Não se defende, não está dito em lado nenhum, que dantes é que era… É evidente que não era, casas vetustas e sem qualidade. Agora o que foi feito em seu lugar é excessivo e de beleza duvidosa… E sobretudo o seu volume, que impede linhas de vista que outrora faziam a alma e o ser da  nossa vila. Façam um favor a vós próprios e estudem bem a forma de consolidar os prédios da encosta do Monte Gordo…. E não permitam o desvirtuamento da Lezíria… Mais caixotes de cimento com mais ou menos cromados, fó-fós e luzinhas, mas caixotes… Não!!!!!
E o Cais senhores….. Devia ser tratado como uma pérola…. Não só por ter sido o berço da urbe, mas porque é efectivamente bonito… Não se trata só do que se vê de perto… Como na foto, é vista do rio que o cais e Vila Franca ganham relevo. É só mudarmos de perspectiva e descobrimos sempre algo novo e surpreendente. Agora encham aquilo de carros estacionados! E vão querer sair dali a sete pés. É do interesse público preservar as belezas herdadas, valoriza-las. E não permitir que como na rua direita o trânsito continue a devassá-la,  à  pala da falácia de alguns comerciantes que afrontam o interesse público com desculpas esfarrapadas. Sabem o que é autoridade democrática????…. Então o que é que se passa. Não são suficientemente autoritários ou não sentem o legado da autoridade que o povo lhes conferiu. Ou não são suficientemente democratas?
Também se pode dar o caso de não serem suficientemente esclarecidos para entender o que é de interesse público.... Mas é para isso mesmo que há especialistas. O que eu não sei é se será preciso a opinião de um especialista para realizar que um "ressort" de luxo Com campos de golf e tudo, vai na Lezíria ou nos Mouxões do Tejo tão bem, como uma viola num enterro....

 
Cais de Vila Franca de Xira
                          
                           António Capucha
         Vila franca de Xira, Setembro de 2010

PS - Esta peroração teve o inestimável apoio do Ex.º Mestre em História Zé Costa, que faz o favor de ser meu amigo. Quero deixar público o meu agradecimento que já fiz em privado.....

1 comentário:

Unknown disse...

Obrigado pelo texto. Pela valia histórica e pelo prazer da leitura.
De um alverquense. FNC