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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O vinho, ou a estranha dança

                      

  O vinho, ou a estranha dança
O título dizendo o que diz, fica bem equívoco. E é assim que eu gosto! Quando se espera que eu vá perorar sobre o vinho, bebida nacional de imerecida má fama, que tem servido a toda a casta de moralistas oportunistas e outros espertalhaços para apontarem o dedo - desporto nacional – aos incautos e cultores do bom beber e em simultâneo chamar a atenção para a sua própria virtude, geralmente falsa, mas que lhes faz um jeitão….. Alguns há, que até disso fazem vida….
Mas não!!!! Fiquem descansados que não vou fazer concorrência aos expert’s que deambulam portuguesmente sobre a matéria, e alguns até muito bem….. E já que não vou falar da bebida densa e ancestral podem também contar com o facto de a: Estranha dança, não ser dança nenhuma, nem ser motivada pelo vinho. Não vou também entrar em delírios concorrentes com a RTP ou a SIC que apostam na dança Para nos secarem as meninges…..
A verdade, verdadinha toda, é que felizmente tenho uma memória à prova de quase tudo e também não cultivo muito a distracção… De modo que….  eles nem sabem o mal que fizeram em sacrificar a nossa geração ao terror da guerra que aliás se cumpria desde o primeiro dia de tropa e estendia-se até ao último….. O que lhes terá escapado é que a coisa acabou por ser como, acho que já o disse noutra ocasião, uma montra da nossa sociedade, um museu vivo. Basta abrir a pestana e mantê-la aberta para enriquecermos mais, diria que exponencialmente, a nossa vida….. E isso sim era uma arma apontada ao coração - se é que o tinham - da nomenclatura do facho, e seus derivados….
O Vinho, era pois, em setenta e um, setenta e dois do Século passado, um garboso mancebo, que recebera essa alcunha obviamente por ser anti- abstémio militante. Lembro-o um mocetão largo e forte sem ser gordo e sem ser também muito alto. Vermelhusco nas faces e incrivelmente fogoso tipo Obelix…. Parco de palavras era no entanto alegre sem ser brilhante, mas agradável de um modo geral, devido à espontaneidade das suas reacções, a sua  alegria era quase infantil de tão autêntica.
Ora o Sr. Major Efectivamente, já nosso conhecido vem até à nossa companhia e entre outras coisas disse-me:
- Efectivamente a tropa anda ociosa e isso não é bom para ninguém!
Veja lá nas NEPES qual é instrução para os prontos e durante uns dias vamos fazer qualquer coisa que os ponha a mexer. E eu pensei cá para comigo: a mexer põem-se eles e mais depressa do que dá para ver….. Mas claro que não aduzi coisa alguma….. A não ser que iria tratar imediatamente disso. Obrigado, disse em resposta o Major.
Ora o que é que dizia o manual acerca de treino para aqueles mariolas! Tão só jogos! Disto e daquilo mas jogos…. Armado desses argumentos falei lá com os “Opinian macker’s” da rapaziada. Que sim senhor o homem até pediu….. É pá temos que fazer o que ele diz senão vem “p’ráí” um “Chico da merda” e estamos feitos…. Vá vejam lá se amanhã não batem todos a asa e ficam aí na formatura uns quantos para fazermos umas jogatanas…..
E assim se fez que na tropa a velhice é um posto. Os mais velhos seguraram os outros e lá fomos em formatura e tudo até ao campo de jogos. Fizemos questão de passar pelo Nosso Major Em continência a que ele correspondeu visivelmente satisfeito….
Uma vez no campo de jogos consultamos os folhetos e o que dava assim para fazer, dada a falta de material era a corda humana metade para cada lado a puxar…. a puxar….. até que uma equipa cedesse. E pronto….
Vamos começar…. quem escolhe primeiro é o Furriel mais velho…. Era eu e escolhi logo o Vinho…. Para além da sua força descomunal ele era também um dos indivíduos mais populares do regimento…. Os maçaricos olhavam para ele num misto de admiração e enjoo. E porquê? Porque aquela alma às refeições batia-se com o seu quinhão e ainda comia o que os vizinhos dispensavam. De modo que à mesa do Vinho estavam sempre éne terrinas de comida de qualidade duvidosa, mas que para ele não oferecia dúvida nenhuma! E todo o vinho que fosse possível arrebanhar. Vinho…. quer dizer!  Aquilo parecia mais decapante que outra coisa…. nada que o demovesse de o empinar todo….. Glu----glu.-----glu  cá vai à nossa….
Bom garantido o concurso do Vinho para o meu lado sabia ter as minhas chances. O que nem eu nem ninguém esperava foi o que se desenrolou na sequência disto. A coisa foi assim, ainda hoje sou capaz de rir a rever acena….
Eu e o outro furriel no topo da corda agarrávamo-nos firmemente pelos braços. E os restantes atrás começavam a puxar em direcções opostas.  Pois não senhor. O vinho fila-me pela cintura levanta-me como um boneco e abana-me e puxa enquanto dizia: ÁH CABRÕES … QUEREM GUERRA É? De dentes cerrados e olhar furibundo, que eu me lembre não cheguei a por os pés no chão e andava ali num virote feito uma marionete com as articulações todas a articularem furiosamente numa estranha dança ( estão a ver… é esta a dança a que me refiro no título). Claro que toda a gente se atirou para o chão agarrados à barriga a rir perdidamente e foi uma vitória fácil…..
Quando ele me largou caí redomdinho no chão a rir . Mas ainda deu para ouvir o meu manipulador dizer:
- “Atão”…. Querem mais????? E mostrava uma fiada de dentes brancos no meio das bochechas de tomate saloio, abertas num sorriso de rapazola maroto.
Já nem jogámos à bola…..
Esta cena esteve na ordem do dia durante mais de um Mês…. Para mim durará até que o tal  Sr. Alemão  um tal Alzheimer tome conta de mim, o que espero nunca venha a acontecer. Valha-me o vinho  que segundo parece é boa prevenção contra  o Alzheimer….    
E tu amigo vinho, espero que não te tenham proibido de comer frugalmente e de beber jarradas…..
                                 António Capucha
                   Peniche, Setembro de 2010

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