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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Barbie


                                                                     BARBIE
Era uma vez uma menina que queria ser barbie. Digo querer, mas este querer era mais que a conta devida ao querer seja o que for. A criancinha queria tanto e com tal intensidade o queria, que se deveria dizer antes que tinha a obsessão de ser barbie. Sem desfalecimentos nem fraquezas, mantinha ao longo das horas; dias; meses; anos este lume a arder sempre à mesma altura.
Sem que se desse conta, as pernas já de si esguias como as da barbie, começaram a transformar-se em cloreto de poli-vinilo – o vulgar plástico. O seu desejo doentiamente sustentado começava a ultrapassar as leis da Física. O cabelo apresentava a consistência do nylon, e as pestanas reviradas e opulentas emolduravam os seus olhos de um azul celestial. Mas que serviam apenas para ser vistos…., assim deixaram de ver Ora a menina estava tão satisfeita de se estar a transformar em barbie que nem reparava que tinha deixado de sentir apetite, sede ou sono; calor ou frio etc…  e deixara de ver, ouvir e falar.…. são tudo sensações que deixou de sentir. Umas para seu alívio, por exemplo ela deixar de ouvir era um alívio porque nunca foi muito de dar ouvidos ao que lhe diziam, desde que continuasse a ouvir aquela voz dentro dela que repetia como o espelho mágico, sim és a mais bela sim tens o direito de fazeres só o que queres….. Outras para seu desgosto como o de ter deixado de ver a inveja estampada no rosto das outras raparigas que iam ficando adultas,  com as suas tetas descomunais e os seus quadris que pareciam uma praça de toiros…. De onde saíam  umas “pernonas” roliças, que mais pareciam carne pendurada num talho.  
Mas isso eram coisas que procurava não deixar que vencessem o seu prazer de ser barbie. Mas até as dúvidas em relação ao ser melhor ou pior que dantes, se começam a desvanecer.  Porque o cérebro que começou a plastificar-se, deixou também e progressivamente, de trabalhar e produzir fosse que pensamento fosse…. O seu último pensamento terá sido: Ora ….vou deixar de vir a ser velha e feia. O tempo passava inexorável e ela nem precisava de ter o seu retrato a envelhecer por ela no sótão como o Dorian Gray…. Pois ele que passasse e repassasse, que isso é que havia de lhe dar cá uns abalos! A sua juventude é total e absoluta.... uma flor sem tempo!!!!
Porém a ausência da consciência de ser, deu lugar a uma enorme confusão a que o seu feitio obstinado procurava ainda assim ordenar e organizar…. Em vão naturalmente. Até as sensações derivadas de se ter transformado em barbie deixaram de estar presentes. E daí até ao “click”  do disjuntor, após o qual deixou de todo de ter alguma consciência de ser ou ter sido algo, ser ou coisa…..
E é melhor ficar por aqui, porque o que é em rigor impossível, é escrever sobre nada….
ÁH!!!! Esta “Estória” é verdadeira….. Ou não será? Quantas meninas embarcam na vã senda de ser em Barbies para sempre, e se deixam escorregar até ao click final do qual não há regresso..... E ken's? também os há! Portanto também dava para começar assim:
-  Era uma vez um menino, que queria muito ser Ronaldo..... 
Meninas e meninos..... Atenção! Referencias  sedutoras que exijam total e exclusiva  dedicação, levam invariavelmente ao click final e sem retorno.....                        


                          António Capucha
                   Peniche, Outubro de 2010

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