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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

o mito de Sísifo



O mito de Sísifo

Os nossos sentimentos, sobretudo aqueles de que se fazem as paixões e os nossos sonhos acordados, são tempestades tropicais pela sua violência e transitoriedade. O que me vale é que sou um navio de costado largo.
Conhecem a teoria do Caos? Aquela da borboleta que bate as asas no Japão e desencadeia uma tempestade nas Caraíbas.
Pois com estes dois seres, passa-se algo semelhante. Manuel e Joaquina, um pequeno nada deita tudo a perder. São porém, seres compatíveis quase que em justaposição. No entanto nunca foi possível que se entendessem nem nisto assim!!! Ambos são “low profile”e inteligentes. Ambos possuem a rara capacidade de se porem no lugar dos outros. Ambos se dão às mais diversas causas com generosidade e competência. Ambos partilham os amores e desamores em politica. Ambos têm as mesma malha de valores sociais e educacionais perante a vida e a religião etc….etc. Ambos gravitam à volta um do outro. Ambos recusam de forma sustentada serem o Sol seja de quem, e do que for. São porém e seguramente o Sol um do Outro. Atrevo-me eu a dizer que os conheço como as minhas mãos. Ele já acredita nisso vai para uns anos. Os homens são, apesar de menos atreitos ao romantismo de cordel, ou se calhar justamente por isso, são mais capazes de acções romanescas…. Lancinantes…. Arrebatadas. Ela pelo contrário, onde ele vê janelas de oportunidade, para a realização dos seus destinos paralelos, ela vê não se sabe bem, se passagens secretas de demónios ou  o buraco negro por onde se esvai a decência… Ele faz tudo ou quase tudo, menos o que provavelmente faria variar as coisas…. Ela simplesmente se esquiva assim sem cânticos de vitória, ao invés sobra-lhe sempre algum amargo de boca pela dor que adivinha causar-lhe.
Só que ele, parte de mim e eu próprio, por inteiro, atesto o que ficou dito e que sei ser a verdade emergente desta coisa, não perfaz a razão para que assim seja. Eu de fora, a este distância toda, o apenas eu, suponho, apercebo-me da dor de ambos, e nisso estou só, já que não tenho a certeza de que o Manuel saiba do sofrimento da Joaquina… Se bem que de sinal diferente, de dor não passa. E até a mim me dói estar a contá-la. É uma dor que transporto por mim e por ele, às costas como Sísifo transportava a pedra até ou cume do monte, para no final o ver regredir até ao princípio…. Quem a isso obriga (ela) escolhe suportar a consciência pesada…. O final funesto. E quem isso cumpre (Ele e eu) suporta a frustração constante e permanente. Quem isto observa, ou seja: Eu! Sofro por estar a ver a que tudo não passa de uma presunção absurda e que a solução está ali pujante e evidente à espera de ser tomada às colheradas. Farto de ver a pedra no cume e outras tantas vezes vê-la rebolar por ali abaixo…. Que desperdício….. Penso nisso muitas vezes. Onde há tanta coisa em comum, só se pode esperar cumplicidade, fusão, harmonia.
Acho eu mísero escriba desta tragédia grega, que só uma grande maldade justificará tantas penas e danos, tanto ranger de dentes, tanto sofrimento de ambos. Ainda se fosse só de um? Isso já seria normal….. É chato, mas o Mundo está cheio de chatices… É a vida!!!! Que como é sabido dá muitas voltas e quantas voltas deu!!!! E eu atento, à coca, das voltas da vida, à espera de um rasgo de felicidade, permaneço no meu posto de observador atento das coisas e mistérios…. Destes e de todos os seres humanos que trago espiados….. É um hábito que tenho desde muito novo, observar pessoas, adivinhando-lhes os jeitos e trejeitos. Rejubilar-me com as suas alegrias e vitórias e partilhar-lhes as tristezas, numa espécie de voyeurismo inocentado da coscuvilhiçe…. Estes dois: o Manuel e a Joaquina não são apenas mais dois…. Mas dão-me água p’la barba acho que terei perdido a esperança, de tantas vezes que o pedregulho rebolou do cume até ao sopé da montanha… Quando parecia que enfim lá ia ficar em cima…. Seria mais uma estaca espetada a direito no buraco negro e dos seus acólitos cinzentos. Porquê estes: Ora, porque sim. Aliás não sou eu que os escolho, são eles que escolhem meter-se-me pelos olhos adentro. Para os ter guardados aqui bem junto ao coração, só faço uma exigência: Tem que ser gente boa e inteligente…. Não perco tempo nem gasto neurónios com merdosos e chafurdas…… Lamento mas nisso sou irredutível…..

                                 António Capucha
                  Vila Franca de Xira, Outubro de 2010  

  

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