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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Comer gajas

Pablo Picasso
A pintura nunca é prosa. É poesia que se escreve com versos de rima plástica.

 
Termos e frases feitas, embora pretendam definir um quadro geral do assunto a que se referem, estão normalmente bem longe deste desafio. Nalguns casos, essas formas genéricas de definição de uma situação ou de um acto, é quase exclusivo de um naipe de aborígenes bem determinado e claramente indentificado. Temos então que coisas destas, amiúde não passam de “Jargões” de classes ou grupos bem determinados.
Anda-me este tema a bailar na tola, mas por ser de difícil abordagem, nunca passou de um pensamento retorcido, marafado…. É fácil conotar esta fraseologia com o indecoro, que nem sempre é preconceituoso.
Atenção preparem-se, há dois parágrafos que venho dourando a pílula, Não podem portanto invocar surpresa ou incómodo. Cá vai…. O tema é: Comer gajas!!!!! Porra, custou!!!!
Bom isto sugere e é, obviamente uma terminologia masculina e passado que foi o meu “naiívismo” nestas coisas, posso afirmar que não é de um grupo restrito, estúpido, boçal, alarve e sei lá mais o quê….. A grande maioria, esmagadora maioria mesmo, usa e sente estes termos como justos e esclarecedores das suas relações nem sempre sexuais - e com surpresa o verifiquei. Mesmo aqueles que disfarçando ou não, são esclarecidos e de formação alegadamente superior. Procedem em conformidade com o espírito, ainda  que, não usem os termos em questão….
Portanto estes termos apenas definem uma atitude ou cultura machista, cuja, valha a verdade, assenta no aparente pôr-se a jeito das “gajas em questão. Uma vez que nunca vi, nenhuma mulher que por essa razão esteja amputada de partes, quaisquer que sejam. O comer aqui é obviamente metafórico. E se se diz andar a comer…. Isso configura como primordial o acto de comer, de alimentar-se. Então em vez de super máquinas sexuais, o que são é glutões, para quem o acto de comer é o cúmulo sensorial das suas vidas.
Mas isto é apenas um lado desta intrincada questão. Não me limitei a observar e sentir o que os garanhões pensam e o que os leva a agir assim. Pessoas há, que passam por grandiloquentes criaturas, e que são escravos desta mentalidade…. Apresentam até idiossincrasias a perceito.
Por outro lado, mulheres modernas educadas e capazes, fizeram-me chegar à sensibilidade que; Claro que a sedução é fundamental, a empatia é absolutamente necessária, mas o facto é que estas “gajas” “deixam-se ir no bote” (outro jargão), porque buscam o prazer e é isso sobretudo, que as move. Afinal quem é que aqui come quem????
Claro que este grupo claramente definido, inverte a sua posição. Se nos homens o prazer de “comer” é partilhado pela esmagadora maioria…. Nas “gajas”, estas são uma clara minoria. Porque a maioria serve para perpetuar o machismo predominante baseada na sedução mercantil, a aparência primária e o superficial etc…..
O facto de eu ser macho, não me trás especialmente envergonhado desta menoridade. E o contrário também é verdade: Não posso sentir felicidade nem pensar em sexo como penso em bifes, feijoadas e por aí fora. E a Poesia …. O Amor…. E o ser superior que queremos ser? Se como é evidente o comer, acto de se alimentar resulta, noves fora nada, em excremento…. E se o “comer” metáfora de enganar, pode gerar prazer e vida, então não há dúvida nenhuma sobre qual é humanamente superior.
Uma dúvida no entanto me martiriza….. Como ser nado, custa-me a engolir que na origem da minha vida tenha estado esta estratégia de engano… De seduzir e fingir ter sido seduzida…..
Paciência!!!!!!
    

                    António Capucha

    Vila Franca de Xira, Janeiro de 2011

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