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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O “Baldemar”

Bangalô

Durante uns tempos fincou-se-me uma mania de passar uns tempos em Idanha-a- Nova, mais precisamente nuns “bangalôs” do Parque de Campismo Municipal, junto à Barragem Marechal Carmona de má memória, mas quis a vicissitude destas coisas que o sítio, ao contrário do tenebroso Marechal (ex Presidente da República de governos fascistas de Salazar) fosse de uma beleza excepcional e transmitisse uma paz de espírito que muito apreciava. Perto ficava a Senhora do Almortão, local de peregrinação, cantada e recantada, desde a sua beleza, aos cheiros de que a vossa capela cheira!!!  (Cheira a cravos, cheira a rosas, cheira a flor de laranjeira…. Olha a laranjinha que caiu, caiu, num regato d’água, nunca mais se viu!!!!) Toda aquela região ressoava a “adufes”, tamborilada por mãos ágeis. Tum….Ca-ta–tum-tum….Ca-ta-tum-tum……
A Noroeste e em ultimo plano, a majestade do maciço central da Serra de Estrela tendo em primeiro plano a serena albufeira orlada por pinheiros, sobreiros, azinhos e restante flora da Charneca, Era nesse quadrante  - Oeste - obviamente o pôr do Sol que entrava pela alma a dentro sem pedir licença. A Nordest recortava-se o cimo altaneiro do castelo da aldeia de Monsanto, iluminada durante a noite…. Fantasmagórico!!!
Para além deste enquadramento, a unidade turística, tinha, destacando-se do restante equipamento típico destas estruturas, uma muito boa, bonita e bem cuidada piscina adjacente ao Restaurante.
A excursão detinha-se, após uma longa viagem por estradas nacionais, (ainda não haviam auto-estradas) bem no centro da vila onde nos abastecíamos de quase tudo o que nos iria fazer falta nessa semana. Devo realçar as prioridades dadas aos queijos uns três ou quatro comprados na Cooperativa. Eram do melhor, a ombrear sem favor com os da Serra. Os rachados, eram os melhores. Paragem seguinte era no talho onde, 

Albufeira
os borregos e vitelas penduradas, fresquíssimas chamavam por nós. Metade de um presunto desossado e uma quantidade apreciável de morcelas cheirosas, completavam as mercas.
Depois descíamos a Alcafozes, onde fica o Santuário da Senhora do Loreto, padroeira dos pilotos e restante pessoal de voo.  E subiamos à esquerda para a serra do Almortão.
A minha tarefa diária durante a semana seguinte, era tomar conta do meu rapazola, o Francisco, que ainda não ia à escola e assim nos permitia fazer férias fora de época, o que era muito bom. A minha filha mais velha, a Rita, Já não alinhava muito nestas coisas e ficava com a tia, ou com a avó…. Todo o Santo dia aquela alma ficava de molho na piscina…. E eu controlava à distância enquanto do outro lado a  minha amantíssima esposa curtia o Sol e serenamente devorava os livros que havia levado.
Os dias pachorrentos arrastavam-se lânguidos numa cadência “modorrada”, neste frenesim que estais a adivinhar… Duas vezes por dia voltávamos a casa para encher as peles dos mimos que haviam sido feitos de véspera , à noite para não colidirem com alguma actividade mais importante…. O mais do tempo, era passado na enorme varanda a curtir o vozerio da passarada e a tentar capturar os enormes lagartos que habitavam debaixo da cabana, metendo bocadinhos de presunto dentro de um laço de cordel. Pois … ‘Tá bem deixa!!!!
Lá por cima também não se me dava apreciar as rondas das rapaces, em círculos largos elegantes…
Apesar de ser fora de época estival, aquilo estava suficientemente lotado sobretudo por gente do Norte. E um belo dia entre as lambidelas no gelado e a pachorra recostada na relva, grito para o meu miúdo que estava a olhar com muita insistência para a zona de separação crianças/adultos da piscina: Pra trás Oh Bal-de-Massa…. Era a alcunha afectuosa que lhe pus e que lhe assentava como uma luva ao seu feitio pacholas. Acto continuo um garoto enpertigou-se, olhou-me interrogativamente e dispara a correr direito ao pai que estava perto da Nita (minha mulher), cuja desatou a rir e levantando-se vem direita a mim. Ainda a rir…. Olha lá. Tu arranjas cada uma…. Disse… Então não é que o miúdo todo esbaforido chega ao pai e diz: Hó Pai… Hó pai…. Esta ali um menino que se chama Bal-de-massa!!! Não é nada…  Oubiste mal com certeza….Ele deve ser é : Baldemar (Waldemar)…..  Estava ganho o dia à conta dos morcões, pai e filho….. Durante o resto da nossa estadia foi motivo de sadia brincadeira….
Piscina



E ía muito bem com os queijos o presunto e as morcelas honradas pela companhia das bicas, uma espécie de pão de azeite quase sem miolo, saborosíssimo…. E vinho “pedra d’urso”….
E disto se fez uma “estória” porque de verdade feita. E tão verdadinha é, que ainda sinto os sabores e sou capaz de rir dos morcões….

                             António Capucha
     
              Vila Franca de Xira, Janeiro de 2011

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