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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

“Estória” duma “Play Station” que se foi por uma Mariana.

Ceifeiras
O “tónho” endireitou as costas, puxou o boné para a nuca e passou o lenço pelo rosto e pescoço e este ficou ensopado no seu suor. À sua roda a seara a perder de vista ondulava ao de leve ao sabor da “arage” que não refrescava, era cálida. Para trás ficou o trigo ceifado aos molhos e o restolho curto dos caniços agarrados à terra, ao seu lado, aliás, de ambos os lados: o rancho de mulheres e raparigas ceifeiras à jorna, como ele. O capataz diz-lhe lá de longe da sombra da “azinhêra”:  Àh Tónho bebe “áuga” moço dum raio!!!! O patrão “nâ queri”  problemas “co’sindicate”…. Bebe “auga” moço dum cabrão…. O capataz era, melhor…. É, seu tio. E contratou-o por mor da cunhada, que lhe pedira muito para o deixar fazer umas jornas, que o rapaz queria comprar uma “Play Satation”. E que “nâ” se tivesse de cuidados que o rapaz já “amandava” corpo. Passou a rapariga co’cântaro e com o caço deu-lhe a beber  fresquinha da “ribêra”a regeneradora água, Trocaram olhares de “teenager’s” com a limpidez dos seus olhos que revelavam tudo o que se quisesse adivinhar. A voz da mocinha, argentina e doce pergunta: Queres mais tónho? Ele devolveu-lhe um olhar que dizia textualmente: Quero…. Mas não é “auga”!!! Ela assim abordada, corou e baixando os olhos diz: Áh tónho… Tónho…Doido….”Nâ” estás vendo ali a “nhã” mãe”?
Ele toca-lhe a barra da saia quando ele rodopiou para zarpar, e fez rodar ondulantes saia e saiote e tudo… Ele sorriu…
Pôs o lenço lavado em água sobre a cabeça, enroscou-lhe o boné, pega na foice e deita a mão a um punhado de pés de trigo, cega-os por baixo bem rente ao chão e junta-o ao molho que  atrás de si jaz…. Dá mais um pequeno passo e repete os gestos…. E assim por aí adiante, até que o Sol deixa de queimar e declina por detrás do monte. Junta-se aos poucos homens que ali vão, e ala que se faz tarde p’rá taberna do “enjoado” beber umas “mines”….
A conversa ganha corpo à medida que as “mines” se vão goela abaixo…. Áh tónho “tavas” a “boêr” muita “auga”hoje. Todos riram…. Menos o tónho que responde: “Atão, tava calori”….
 A zefa é que te dá o calor se te vê a rondar a filha! E o rapaz, mariola, ri-se e despeja o resto da garrafa.
Quando saiu dali para casa, a rua já era toda dele  e confessava ao “ti manel” que quando via a Mariana (assim se chamava a moça), lhe “ássobia” uma coisa por ele acima, que se tivesse tampa lhe “havera” de saltar a tal ponto  lhe fervia o sangue….
Acredito rapaz, acredito, dizia o homem para o animar. Mas olha “ca” zefa é brava….. Cuida-te….
“Qué” lá saber…. “Nã” há-de ser mais brava, que eu sou apaixonado e o amor ganha sempre.
Hei-de trabalhar tanto, tanto, que lhe vou comprar uma medalhinha em ouro "co" "retrate" da Catarina Eufémia e um fio d’ouro para ela pôr ao pescoço… Qu’é p’ra ver o que diz a velha….
‘Atão rapaz, dizia-me o ti zé do “monti”, que "tavas" no rancho para juntar dinheiro para uma “Plê-esteixon”…. E agora já te ficas pr’um fio d’ouro????
“Nâ”quero saber…. Há-de ser minha por força…. "Ê" "hoji" até lhe “toquê” a barra da saia….. Oh senhores!! E ela riu-se…. Quer mais ti manel????
O homem riu com prazer…. Aquilo é qu’ele estava vidrado hein….
Bom, moço, estás em casa…. Óh ti Ana …. Tá aqui o seu tónho, deite-lhe uma açorda com muito coentro e “dête-o”, qu’ele “amanhin” tá fino!!!!

                         António Capucha

        Vila Franca de Xira, Janeiro de 2011

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