Endereço do blogue........peroracao.blogspot.com

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Cabo Avelar Pessoa


O Cabo Avelar Pessoa não é só o nome da embarcação que faz o transporte de pessoas e bens de Peniche para a Berlenga.
O legítimo proprietário desse nome foi um militar, suponho que da marinha de guerra portuguesa que viveu em mil seiscentos e pouco. E foi Comandante da guarnição do forte de S.João Baptista da Ilha da Berlenga Grande.
Passe a inflação destas coisas, (hoje em dia, um Cabo nem de sí próprio é comandante), mas o termo de: Cabo, deriva do latim que ao contrário do que muita gente pensa, não é a língua dos Cristãos, mas sim dos Romanos. Daí ser também a língua em que se expressa o nosso direito, que como se sabe vai beber a sua inspiração ao direito latino. Assim o termo: Cabo, resulta de séculos de abastardamento do termo original que é Caput, (os italianos ainda hoje usam o termo: Capo, para designar chefe) que significa cabeça, de qualquer coisa. Ex. Caput Mundi significa: Capital do Mundo.
Cabo é portanto a cabeça o comando, neste caso de tropas… No caso do António Avelar Pessoa, ele era o chefe de vinte e seis soldados que com ele constituíam a guarda e guarnição do Forte da Berlenga. Que já fora Convento de frades, ali estabelecidos diziam, para socorrer os náufragos que amíude iam ao charco naquelas perigosas águas entre o cabo Carvoeiro e o arquipélago. E sabe-se de tanta coisa acerca deste Cabo Porquê? Porque este homem e os seus subalternos com poucas perdas do seu lado deram um arrepio de monta a uma Armada Espanhola de cerca de vinte barcos, Tendo afundado um e avariado irremediavelmente outros dois e resistiu até ter munições para os seus fuzis e pólvora para os “canhangulos”. Ainda assim só foi vencido após a pouco edificante, melhor…. A torpe traição de um dos seus soldados.
Esta façanha, teve honras de passar para a Grande História e é assim que hoje o Barco que faz a viagem entre o continente e a Berlenga, tenha o seu nome.
O antigo, pois já se contam dois com o mesmo nome, Foi aquele,a daptado de uma traineira de pesca a que adicionaram uma cabine para os viajantes terem um pouco mais de conforto. Mas os locais e os visitantes mais costumeiros viajavam sempre cá fora à proa, ou à ré ao vento e aos salpicos de mar. Tanto quanto sei, este barco teve apenas um percalço. E de uma estranheza impressionante. 
A zona é muito ventosa, pouco propícia portanto, à formação de nevoeiros, no entanto quando os há, são de uma densidade leitosa. Pois os diabo os tece…. Um “habitué” ia sentado à proa e displicentemente, com um braço de fora pendurado da amurada, na cavaqueira com  amigos e o nevoeiro cerra-se ali à entrada da barra. Buzinando furiosamente  tudo quanto eram barcos ao mar, assinalavam a sua presença, mas então uma traineira roça levemente pelo Cabo Avelar, proa de bombordo de um com proa de estibordo do outro e o pobre rapaz viu o seu braço decepado. Mito ou verdade, foi assim que eu a comprei e é assim que eu a vendo….
Por motivos turísticos, que não por causa deste caso, foi mandado construir uma nova embarcação, como é evidente a traça é a de uma traineira, só que foi feita de raiz para barco de passageiros e tem portanto mais lugares e o seu conforto e níveis de segurança foram ampliados. Para herdar o nome do destemido Cabo Avelar, foi preciso destruir o outro. E é Assim que hoje em dia entre Maio e Setembro se pode ver o Cabo Avelar Pessoa que parece um cacilheiro de proa mais altaneira a furar as ondas para lá e para cá, no pino do verão, umas duas vezes por dia, Tão destemido como o “Caput”, António Avelar Pessoa a galgar as onze milhas marítimas entre Peniche e o Cais do Carreiro do Mosteiro da Berlenga grande….. 
Hoje em dia os Castelhanos podem estar descansados que em vez de levarem para tabaco, se fumarem, é melhor levarem eles o tabaco que nós apenas fornecemos a beleza indescritível das ilhas e os escaldões… Esses são à borla.
Uma das coisas mais curiosas quando se chega à Berlenga, é que, olhamos para de onde viemos e quase não se vê terra. O mais das vezes confunde-se de tal maneira com a neblina que até faz confusão … Porque de terra se vê clara e perfeitamente a ilha até de muito longe. De tão longe que, a curvatura da terra tem destas coisas, e cria a ilusão d’óptica de estar o arquipélago  num plano superior ao nosso.  Visto do Alto Veríssimo, por exemplo, parece que a cidade de Peniche se afunda no mar e lavanta a ilha da Berlenga Grande, como um Hino à coragem de um Cabo, que pela sua valentia, é capaz de fazer corar de inveja, muito Almirante de águas turvas…..    

                                   António Capucha
           
                Vila Franca de Xira, Novembro de 2010
Avelar Pessoa, actual




                                                                                                             




 













Cabo Avelar Pessoa , antigo

2 comentários:

Oceano Pacífico disse...

É com saudade, que me recordo de ter viajado várias vezes na primeira embarcação designada como Cabo Avelar Pessoa.
E é com tristeza que me lembro do seu triste fim,
incendiado e abandonado,
na Praia da Areia Branca, quase em frente ao parque de campismo.
Tinha ali sido depositado,
segundo ouvi dizer,
para continuar como Memória Viva, acolhendo carinhosamente, como era seu hábito, todos os "passageiros" que se dignassem homenageá-lo, sentando-se a uma mesa para tomar uma refeição ou uma refrescante bebida.
_Infelizmente, como se tornou apanágio dos crescentes maus hábitos que proliferam neste país moribundo, foi destruído!
C. Willar

António Capucha disse...

Obrigado pelo esclarecimento. Estava convencido de que tinha sido destruído, para ser possível dar o mesmo nome à nova embarcação. Desconhecia o seu triste destino. Tal como as dezenas, melhor, centenas de traineiras condenadas à morte, por aquele génio, que é agora nosso Presidente.
Obrigado
António Capucha