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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Óh Franciú, queres vender o espingardú

Duas das três linhas de defesa do Oeste

Aquando das invasões francesas, é seguro afirmar-se que o conceito hoje muito disseminado de Pátria, que em tudo, e por tudo e por nada se afirma, o mais das vezes em aspectos mais “patrioteiros” que patrióticos.
Bom.... Parece que apesar de tudo a população portuguesa terá reagido ao invasor não  deixando que as razões de espalhar por toda a Europa as ideias da Revolução Francesa, assim ao estilo de : Levas tantas no toutiço até que sejas mais livre, mais igualitário e mais fraterno. E esta coisa de levar a guerra usando-a como apuramento civilizacional é uma metodologia que foi ficando até hoje…. Mais ou menos ao jeito de guerras santas, despontam um pouco por todo o lado. Mais cirúrgicas, e na aparência mais limpas são em boa verdade mais devastadoras. Se dantes, nas guerras românticas havia mais equilíbrio entre os contendores. Isto é: Eram ambos o povo das suas Pátrias, de resto pouco os fazia diferir um do outro quando as primeiras linhas davam assim o peito às balas. E só com o desenrolar da batalha, é que vinham os factores que faziam de uns vencedores e dos outros vencidos. Factores tais como número de combatentes, escolha do campo de batalha, inteligência do Comando, qualidade do treino militar dos combatentes etc….etc…. A vitória só era conseguida após imensa baixas de um lado e de outro.
Hoje em dia não é nada disto. O exército agressor ou invasor, desse-lhe as voltas que se quiser é assim!!!! Usando sobretudo a superioridade tecnológica, ataca não só militares, mas tudo a eito, numa guerra que não requer nem coragem nem razão nem coisa alguma que a humanize. (aqui humanize, é no sentido de que é interpretada por humanos).
Nem vale a pena pensar muito no assunto para se verificar que é mesmo assim….
Mas dantes a ausência de uma comunicação eficaz, levava a que o universo dos combatentes fosse pouco mais que o seu quintal, isso conduzia invariavelmente a que as razões para que os homens combatessem com ardor, tinham que ser imagens  e conceitos tão simples quanto fortes, caso contrário, arriscava-se a que não tendo sido encontradas as razoes no seu universo restrito, o seu empenhamento seria também reduzido. Daí à derrota ia um passo…..
Mas hoje a comunicação está super desenvolvida, só que, faz parte dos meios bélicos…. Utilizando os mais primários sistemas de mistificação, cabe à comunicação social o papel de levar as populações, a ideia de guerra limpa sem contacto, sem sangueira, sem morte visível. O que é verdade é que os países atacados ficam devastados, Com baixas civis enormes, militarmente subjugados e economicamente destruídos…. É limpinho!!!! E da parte do agressor não há mortes a registar..... Parece batota!!
A primeira das três invasões Francesas, (Junot) parou apenas em Lisboa. No entanto e apesar das diferenças evidentes entre ambos os exércitos, com maior pendor para os "francius do espirgardu", a vitória, nem após a terceira leva invasora foi total. Apesar da enorme vantagem, militarmente falando, nunca foi possível a vitoria total. As mortes de parte a parte eram astronómicas. Porque os portugueses e ingleses comandados por um inglês(o Duque de Wellington) morriam aos magotes, tal como os franceses, em tenazes contendas...    
Era esta a defesa montada pelos nossos, em três linhas, As famosas "Linhas de Torres".
1ª Linha – 46 km. Desde Alhandra até à foz do Sizandro, passando por Torres Vedras.
2ª Linha – 13 Km. Desde a Póvoa de Santa Iria até Ribamar, passando por Mafra.
3ª Linha – 3 Km. Perímetro compreendido pelo Forte de São Julião da Barra.
Isto para que se veja bem a dimensão das batalhas.....
Os Ingleses que nos vieram alegadamente ajudar e claro comandar, que é o que melhor fazem…. Um passarinho no entanto disse-me que estavam era a proteger os seus interesses económicos e hegemónicos, pois do outro lado estavam os seus dois arqui-Inimigos: França e Espanha….. A nossas reais cabeças coroadas, bem como toda a governação e chefias militares, fugiram “estrategicamente” para o Brasil…. E Ficou em Portugal um regente com ordens para não resistir…. E de Vileza em vileza se descobre que fruto de negociações e tratados o Comandante Junot, tinha ao seu serviço tropas de elite portuguesas….  A Legião Portuguesa ao serviço de Napoleão. Um espanto…
 Não se julgue no entanto que isto foi um passeio até à capital. Para além das batalhas militares, os "francius" foram amiúde atacados, emboscados, e maltratados pela população entre as grandes batalhas…. Nalguns sítios o exército invasor deixou mesmo guarnição em diversos pontos estratégicos. Como foi o caso de Peniche e o seu estratégico porto de mar…. com a defesa tripla  dos três fortes virados ao mar. O da vila e o da S. João Baptista da Berlenga e o da Consolação. E neste caso a guarnição ocupava uma posição estratégica, mas sítios houve onde tiveram que deixar fortes contingentes para conter a população aguerrida e assim proteger a sua retaguarda. 
Ao fim de algum tempo e o facto de ambos os exércitos serem algo distantes dos altos desígnios “intelecto-politico-culturais”, o mais das vezes o que fizeram os Franceses, foi o que fariam se estivessem em casa. Coziam as suas "meletes" faziam as suas omeletes.e coletavam as sobras afectivas das "mezeles" nacionais....
Ora acontece que um cidadão francês, deu a palmada nuns candelabros e assim,de uma igreja da  entãoVila, de Peniche(foi Vila desde meados do Século XV) e a população moveu-lhe uma perseguição sem quartel. Dominique, assim se chamava o larápio, escondeu-se numa gruta à boca do mar e de muito difícil acesso. Mas vencido pela solidão ao fim de uns meses, em vez de vender o “espingardu”, entregou-se à populaça…. Não lhe hão-de ter dado beijinhos mas ao lugar deram o seu nome. E é assim que entre nomes, uns Históricos outros marítimos, ainda lá está hoje: a Cova de Dominique…… Um sítio cujo acesso foi “aplainado”e é facilmente visitável hoje em dia. E onde se pode deixar penetrar pelas peripécias desta História e ao mesmo tempo deixar-se invadir pela beleza brutal do lugar….
Resta acrescentar que esse sítio é um dos meus eleitos para pescar “Grades”, Coisa que o Dominique não pode ter feito, porque assim teria morrido de inanição. O que seria um contra-censo, no meio dos maiores viveiros naturais de Percêbes, Navalheiras e peixe, daquela costa…. Eis como e em conclusão, estão ligados pelo mesmíssimo facto Histórico, Vila Franca de Xira e Peniche…..

                        António Capucha

      Vila Franca de Xira, Novembro de 2010

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