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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Zé “Trabalho” e a “Bomba”

Vénus de Willendorf ou a"Bomba"
Zé (povinho, moiro de) "Trabalho"














José Manuel, figura mitológica da Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira, nos anos sessenta do Século XX, era-o sobretudo devido à sua contagiante boa disposição, e pela alcunha que ostentava orgulhosamente. Não sei como é que vou descalçar esta bota….. Mas é indispensável que partilhemos de que se trata esta alcunha, não só porque, embora isto se trate de uma ficção, o apego à verdade, ainda que traiçoeira ou embaraçosa, é sempre o sal destas coisas…. Tal como nunca se consegue ser convincente se apenas se contarem as coisas como elas são factualmente e em carreirinha cronológica. Também não se faz boa ficção, sem que seja o melhor espelho da realidade….     
Bom…. Deixemo-nos de filosofias antes que dê um passo para além da perna, e depois não sei como é que hei-de sair dessa. Adiante:
Pois o nosso Herói, tinha por alcunha Zé Trabalho…. E onde é que está o embaraço, perguntarão, e eu faço-o por vós. Sim …. Onde é que está o embaraço?
Está exactamente no facto de ele não ser: tal tal….. Trabalho….  Era mais: Tal….Tal…. Rima com trabalho, é masculino, tubiforme, tem tendência para se esticar. E é símbolo de várias coisas e por si só define um sem número de outras, que o são com’ó ………. A tal coisa……. Zé “trabalho”, era para os “stoures” e p´rás flausinas…. Para mim, esta e outras bizarrias linguísticas, era uma carta d’alforria do mamã chi- chi, mamã Có-có.
Pronto já está….. Estou a suar…. Espero que tenham entendido, se sim, valeu o esforço. Se não, ficamos assim que isto é um blogue decente….
Ele não era assim tão rapagão como isso, embora lhe sobrassem uns bons palmos para além de mim. Mas acontece que eu também era um tanto a atirar para o pequenote, é portanto natural que usando-me a mim como bitola, o Zé “Trabalho”…. É melhor começar a usar aspas…. Era portanto o que se chama um calmeirão. O sorriso estampado na cara vermelhusca, os olhos claros  e a mandíbula ligeiramente saliente, dar-lhe-ia o ar de um “Bulldog” se ele não fosse seco de carnes. Pelo contrário a sua “partenaire” símbolo sexual das raparigas eleita pelos rapazes, já se deixa ver, era a “Bomba”…. Uma rebolona irremediável, de farto “coxame”, nádegas opinativas e um pisar elástico, de uma leveza inimaginável em tanta carne.  A bata escondia a maioria dos seus encantos, mas a maltosa Zé “trabalho” á cabeça lá descobriu uma forma de lhe espreitar os segredos. A fértil imaginação mais as ganas que eram naturalmente muitas. E de tal forma que de um palminho de coxas, o mais das vezes apenas uma mão travessa, desnudávamo-las por completo. E aquela escadaria que ia do pátio das traseiras, ao terceiro andar do edifício era a “passerelle” para os voyeurs  (ou seria o segundo andar??? Vá lá, em que é que isso altera a autenticidade da ficção????) Onde é que eu ia???? Áh pois a escadaria, nós os pinantes, fazíamos-lhes uma guarda de honra entre os quais elas tinham que passar e cá do fundo da escada tirávamos as medidas devidas à nossa curiosidade enquanto elas subiam. As que seguravam os vestidos é porque eram “frascos”, e por isso, que não pelo pudor do acto, não suscitavam curiosidade alguma. E aqui para nós que ninguém nos ouve, a sua virtude era a mesma das outras…..
Está bom de ver que o Zé “trabalho” e a “Bomba”, eram os reis do Carnaval que era a nossa vida… Um eterno Carnaval!
O bom do Director, o prof. Serra, também conhecido por: TIM TIM, terá reunido o tenebroso conclave e mandou construir ao fundo das escadas um muro de uma altura de uns dois metros, e pôs lá de plantão um continuo, que era o gajo da mocidade portuguesa, o Sr. Moreira, para impedir que os rapazes parassem embasbacados nas imediações. O muro estupidamente alvo e bruto, qual Adamastor branco, foi de imediato baptizado de: MURO DA VERGONHA….. E um coro de assobios presenteava a pudica edificação… E os conflitos fronteiriços davam-se amiúde e cada vez mais violentos…. Castigos exemplares, que chegaram à expulsão da Escola só porque estávamos na idade de ter as hormonas aos saltos….
Uns anos após ter saído da Escola, as coisas agudizaram-se até ao absurdo…. A coisa meteu policia, PIDE e tudo…. Uma vergonha.
O edifício pertence agora à Misericórdia e não sei se mantiveram o muro como monumento à estupidez, à pequenez e ao puritanismo hipócrita. Não me parece, no entanto, que fosse o tipo de atitude passível de ser tomada por esta instituição….  Estou a vê-los mais a rezar pela remissão dos pecados dos malvados rapazes e relapsas raparigas, de permeio com a salvação dos aflitos, a conversão da Rússia……etc….etc…
Pois ….. A “Bomba” engravidou ainda aluna da Escola. E outras se lhe seguiram. Não se provou, no entanto, que o Zé “Trabalho” tenha metido p’raí, prego nem estopa…. Mas que alguém meteu…. Áh lá isso meteu…..

                            António Capucha

          Vila Franca de Xira, Novembro de 2010    

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