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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Na praia da Nazaré… Ninguém pode andar em pé

praia da Nazaré


Uma imagem que gravei, e peguei, com cola que pega cientistas ao tecto, e cá ficou, e ficará, até que o Sr. Alemão (Alzeimer) tome conta de mim. Ou quando a energia for desligada e os neurónios se forem apagando progressivamente, como as luzes de uma árvore de Natal. Ficará esta presente com toda a informação que pude reter com os meus sentidos poderosíssimos de criança com pouco mais de quatro, cinco anos.
Estava eu de férias com a família na Nazaré. Uma praia como não há outra. Uma verdadeira escola de coisas, desde os naufrágios de “bateiras” de pesca, ao puxar das redes à mão até ao retirar dos barcos que rolavam para terra em cima de troncos redondos que iam sendo postos adiante dele e por debaixo da quilha, até terra seca. Esta tarefa era feita por juntas de bois. De tudo isto assisti, ao longo dos anos em número apreciável. Mas Aquela coisa supera tudo…. Mesmo a impressionante imagem das mulheres de xailes negros pela cabeça, num berreiro desesperado pelos seus maridos, pais e irmãos joguetes das ondas e do mar cruel e vingativo, como um Deus Grego, por terem logrado tirar-lhe a sua prata (as sardinhas) e outros tesouros.  E o regabofe de puxar as redes. Só estando lá…. As vozes de comando dos homens: Hei-Hô…. Hei-Hô…. Hei-Hô…. Numa espécie de jogo da corda com o mar…. O segredo era vir um pouco mais cá, quando o mar vinha. E resistir de pés fincados quando ele ia p’ra lá. O peso das redes era sempre um bom presságio ainda que dificultasse tudo….

Juntas de bois a puxarem uma embarcação
Puxar as redes




Muitas coisas fui sorvendo do lugar, pese embora a pouca idade. Mas esta, que vos vou contar, é que me encheu as medidas: Foi a queda de um avião mesmo à frente dos olhos a poucos metros da rebentação do mar. Um espanto. Só mesmo na Nazaré….
A praia estava cheia de banhistas, quando vindo de Norte, do Sitio,(onde a tal Senhora gosta que lhe façam festas  dos Círios. Sabem o que são? Informen-se...) 
O ruído de um motor foi crescendo e quando apareceu imponente como um grifo, todos vimos a asa  direita bater num varão de ferro do miradouro do Sitio, e estilhaçar-se toda. A aeronave descreveu um mergulho curvo em pirueta sobre o seu lado direito e mergulhou na água do mar imenso. Juntem a isto tudo os efeitos sonoros e o quadro começa a compor-se.
O avião (ou o que restava dele) estava nos dias seguintes nas areias finas cercado por uma corda e guardado por militares… Tratava-se de um herança  dos amigos alemães do António, o outro, e com a sua chapa ondulada e pintura verde azeitona.

 
Junkers W 34

Sem a cruz que a amostra ostenta e numa amalgama disforme, que nunca associei a desastre e morte (que é evidente ocorreram). Aquilo para mim passou a ser a estética associada ao barulho de ferros torcidos do embater de asa e a sequente queda e o ruído típico de aceleração do motor a percorrer a fatal elipse direita ao oceano e o enorme Shuááaá do mergulho…. Ali tão perto… Então à coca ouvia os comentários dos adultos muito preocupados com a eventualidade de o avião bater com a outra asa, porque assim em vez de mergulhar no mar caía na praia e então seria pior para todos… Esta mania dos adultos virem sempre com eventualidades… E eu que até era uma criança espantadiça, nunca a coisa me impressionou negativamente… Para mim foi o filme perfeito um perfeito acordo entre sons e imagens… Irrepreensivel, o choque, a elipse e o mergulho fisicamente perfeitos  e os restos do avião eram um monumento a esse espectáculo….. Simples, não é????

                       António Capucha

    Vila Franca de Xira, Dezembro de 2010

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