Endereço do blogue........peroracao.blogspot.com

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

OUTONO

salpicado das pétalas brancas da roseira de S. Teresinha

O Sol a custo rompia o tecto de nuvens espesso, negro, ameaçador. Cada “negrume”, trazia consigo um badanal de vento trovões poderosos e bátegas de chuva que num ápice enchiam as ruas e caminhos. Depois vinha o Sol amarelo e sem calor, enquanto as nuvens no horizonte prometiam uma chegada em estilo. No jardim da D. Lénia, estas faziam-se anunciar com rajadas de vento que abanando furiosamente a enorme araucária, que tinha os seus últimos rebentos a seguramente, uma vintena de metros do chão. O enorme pinheiro manso maneta, uivava de dor. E o loureiro, redondo e denso, sacudia as folhas mais secas enchendo o chão à sua volta, aqui e ali salpicado das pétalas brancas da roseira de S. Teresinha, fronteira à esplanada que lembravam flocos de neve que lentamente tombavam nas lajes de pedra cinzenta, pedra do cabo, do tempo em que ainda era permitido apanha-las. Mais ali ao lado dois marmeleiros ainda com alguns frutos pendurados em estertores de morte deixavam cair os enormes marmelos e as videiras de folhas avermelhadas seguras pelas suas gavinhas, pouco cediam à vontade do vento mas as suas folhas desmaiavam dos braços quase nus. O limoeiro agarrado ao muro como lapa, alienava um ou outro fruto que acabava rebolando no passadiço acimentado, até à terra molhada da horta fronteira. 
Bordejando a casa grande, de portadas vermelho vivo, e paredes brancas, o canteiro de hortênsias de pétalas verdes descoloridas e folhas de forma cardióide, saracoteiam como vizinhas à conversa.    
O chá príncipe ondula como erva que é, e a enorme latada de vide brava de garras fincadas na parede aventura-se pela parede da casa que já fora adega. O musgo no toco de árvore, nem mexe de tão curto que parece o cabelo de um recruta. Muito sofre a frondosa romãzeira… com os ramos recobertos de imensa folhagem miúda, atirados de um lado para o outro, revelando as rolas que nela se abrigaram.
O pé de salsa ali à porta, abrigado pela pedra do canteiro medra a olhos vistos. E debaixo do pinheiro A árvore do diabo com as suas flores a lembrarem enormes campânulas de “abat-jours” penduradas, brancas umas, outras caídas, mortas e castanhas juncam o canteiro, fronteiro. Ainda debaixo do pinheiro, melhor, meio pinheiro!!! Duas redondas e bonitas cameleiras parecem árvores dos beijinhos, com as camélias vermelhas a sugerir beijos, de lábios de sevilhanas, de carmesim pintados. E as sardinheiras de mil e uma cores um tanto por aqui, outra ali. E para acompanhar o uivo do vento as castanholas das folhas duras e grandes das magnólias, a entrechocarem-se…..

                         António Capucha

      Vila Franca de Xira, Dezembro de 2010

Sem comentários: