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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Insuspeito do costume

Populares depondo flores nas campas de Alfredo Costa e Manuel Buíça. (Documentos Carvalhão Duarte/Rocha Martins/Fundação Mário Soares)
Manuel Buíça, morto
O insuspeito do costume: João tabefe, personagem já aqui “blogada” revelando ter sido meu “avoengo”, por ter misturado fluidos com a “Capuchinho Vermelho”. Isto depois de a ter salvo das garras e dentuças do lobo mau que, não fora isso, e seria ele e não o “tabefe” o meu avoengo… O acaso tem destas coisas e por vezes lá acontece uma volta surpreendente da “Estória” e as coisas ficam mais asseadinhas, do que os acontecimentos vinham adivinhando.Que ficariam a pensar de mim os caros leitores se eu fosse descendente do lobo mau? Eu bem podia estar p’rá ‘qui, a debitar prosa escorreita e verídica, que a minha credibilidade seria zero…. Olhem só como as coisas nessa eventualidade seriam....Não sei quê…. António Lobo-Mau…. Capucha não, que a Capuchinha teria ficado nas entranhas da fera, e neste momento o que ela seria, eram vestígios orgânicos, (coliformes fecais) no vastíssimo espectro da biodiversidade da mata onde ficava o território do lobo mau, que era ali para as Beiras bem interiores. Quanto muito teria engordado uns escravelhos, moscas e carochas.Valeu-me portanto a intervenção atempada e intrépida, do meu estimado bem-feitor e ancestral, o querido João tabefe. Por via disso quem é hoje vestígio da biodiversidade da mata na beira interior é o lobo, e triunfantes os genes da capuchinho vermelho, ainda hoje fazem parte do meu ADN, que como também já foi objecto de “bloganço”, já terei assegurado a sua continuação em termos de futuro….
Mas voltemos ao meu avoengo. Este figurão, era um caçador e tanto… e tinha uma “telha” especial para fazer coisas que alteraram o rumo provável da História, levando a que os acontecimentos dessem verdadeiros golpes de rins, e apresentassem os contornos fantásticos (estórias) que acabaram por a incorporar. (À História; naturalmente)
Como é sabido ele era o couteiro do morgado das Cardosas, exactamente fruto da sua habilidade como pisteiro e pontaria invulgar.
Ora o Sr. Rei D. Carlos, que como se sabe entre outras coisas era um viciado em caça, não perdia a oportunidade de ser presenteado com bons couteiros. E numa caçada com o referido morgado, ao seu olho clínico não escapou a espantosa aptidão do João para aquela actividade. Então, e sem qualquer sofisma, desatou a pressionar o Morgado das Cardosas, que mal entendeu a ideia, dela tentou tirar partido. Ora durante o almoço e a tarde de ripanço, um estranho negócio correu entre dois bons oficiais de seu ofício. O resultado foi que o joão Tabefe, passou de couteiro da Herdade do Morgado para Couteiro da Casa Real. E em contra-partida o morgado foi autorizado a fazer o Tal Centro Comercial de Vila Franca de Xira que tanto ambicionava.
Volvidos alguns anos de boa e prolífera relação caçadora, El Rei e o Tabefe, passaram a ser inseparáveis. É que O rei apreciava a sua desenvoltura, que não se ficava nas artes de caça. Era um individuo esperto, que aprendia depressa, corajoso, “peitudo e brigão” e era leal como poucos. Assim passou a acompanhar El Rei, para todo o lado e figurão que era, até não se dava por perdido ou achado nas manobras do protocolo, que por vezes até era complicado. E o Rei apreciava essa sua faceta.
Eis como “avant-garde”, foi talvez o primeiro “guarda costas” da História.
Só que naquele dia de 1 de Fevereiro de 1908 pelas 17H20 minutos, hora e dia fatídicos para a monarquia, mas de esperança para a República, não fora o João Tabefe, nesse dia, ter sido enviado por El Rei, à corte de Espanha para combinar os detalhes de uma caçada conjunta ao javali, no Alentejo na zona de Olivença, e, o Manuel dos Reis da Silva Buíça, não tinha tido a oportunidade de matar o Rei e o seu filho, porque o desenvolto João tabefe o teria seguramente impedido.
Como se deixa ver é rara a vocação para estas façanhas, deste meu antepassado. De tal maneira se acentua esta tendência que até por omissão acaba por ser decisivo para o curso da História.
Os longos serões à lareira da casa da Beira Baixa, foram o local onde esta e outras verdades foram sendo transmitidas de geração em geração. Algumas mais épicas, outras menos exuberantes, aquelas mais romanceadas e estas mais relatadas, foram o tema dos serões familiares onde aprendemos o orgulho de ser quem somos. Por certo me perdoarão esta pequena vaidade.


                         António Capucha
  
      Vila Franca de Xira, Dezembro de 2010

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