A Luisa, Mãe solteira, operária fabril, rapariga despachada e vigorosa, não deixa por isso de ser bela. Fisicamente bem lançada, a sua farta cabeleira escura e brilhante, um olhar negro e vivo que fusila, interroga, o corpo elástico, disciplinado, o andar dançante, as ancas, não opulentas mas rebolonas, numa cadência de xula. Mesmo de indumentária singela, simples e pobre é um regalo p'rá os olhares gulosos dos "galarós" pulidores de esquinas e calçadas da Vilas. Por duas vezes cruza a Vila , uma vez para ir para a fábrica , outra para voltar da fábrica para casa, p'ra junto da sua menina. De cabeça bem erguida numa pose de raínha, não petulante, natural, Arrasta os olhares, uns descarados, outros disfarçados de casuais. todos eles eivados de gula incontida. Os importantes lá do burgo, proprietários rurais e outros que tais, bem se lhe fizeram ao piso, ofereciam-lhe mundos e fundos, juravam-lhe amores canalhas, rescendiam enxúndia libidiminosa. Mas o seu coração tinha dono, pertencia ao seu Manel, pai da sua menina e que se finara na guerra, lá longe em África dum tiro canalha. Nada se intrepunha entre ela a sua memória desse amor. estava tão vivo como quando rebolando no palheiro, tinham feito amor e a sua menina, por entre trocas de gemidos e grunhidos e caricias tantas. Juras mais que muitas foram feitas e são mantidas até hoje. E agora é o sustento da família, constituída por ela própria sua mãe já alquebrada, um mapa repleto de arterites e maselas várias e os seus olhos : a menina!
Com os seus imensos olhos verde-mar, onde todos os dias naufragava.
Desejo ardentemente, que um belo dia tropece em alguém que a saiba amar e estimar e respeitar. Alguém que tenha o dom de polarizar e dar vazão à sua enorme capacidade de se dar, e que a saiba merecer. A humanidade não pode desperdiçar tanto assim!!!!
António Capucha
Vila Franca de Xira, 8 de Dezembro de 2012
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