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domingo, 30 de dezembro de 2012

Luisa...




Luisa, já por diversas vezes aqui referida e contada a sua dura vida, é no entanto uma criatura feliz, que irradia simpatia, mas de convicções muito fortes e por vezes ásperas.... Fruto de levar uma vida de trabalho e luta constante, mais a frugalidade dos seus hábitos, eis as circunstâncias que forjaram não só a silhueta airosa e ágil, elástica, mas também a sua tenacidade e a sua força de carácter. 
Estava sentada ao serão com a sua mãe e a menina que dormia ao colo, e reparou num fiozinho de àgua que escorria da parede da salinha onde assistia a um programa de TV. Era só o que me faltava, não querem lá ver que tenho que fazer obras no telhado. Fica aí por um dinheirão, e o coração apertou-se-lhe. Onde havia de ir arranjar o dinheiro. O magro salário de operária textil, não lhe dava para mandar cantar um cego. Mas estava felizmente enganada. O fiuzinho de água, era fruto da condensaçãoda humidade do ar interior da casa que evaporava e condensava na parede que era mais fria, convertendo-se a humidade em água que escorria. A noite estava extraordinariamente húmida e a casa junto ao rio também não ajudava nada. Ainda bem que assim é, porque senão teria que fazer horas extraordinárias no trabalho, e isso era tempo que lhe roubavam ao convívio da menina. Esses eram os momentos de maior alegria, vê-la crescer assim saudável e risonha, era a luz dos seus olhos. Amanhã tinha que ir falar com o Sr. Alfredo, por via das obras no telhado, assim foi antes de ir para o trabalho foi a casa do pedreiro falar com ele e certar um preço. O Alfredo era felizmente um homem honesto e lá lhe foi dizendo que pelo que ela dizia, aquilo não era nada de errado com o telhado, mas sim da humidade. Mas  que estivesse descançada que ele passava por lá para dar uma vista d'olhos. A noite que passasse por lá que ele logo lhe diria. Foi dali para o trabalho , pensando que conversa havia de fazer ao chefe, para fazer umas horas extras. Que raiva que lhe fazia ter de andar a pedir "batatinhas" aquele burgesso.  ela bem via os olhares gulosos do lorpa, quando a saia subia um pouco acima do joelho, e estava sempre de pasmado a babar-se se o decote deixava ver um pouco de seio.... Porco de merda..... debruçava-se sobre ela sem haver necessidade disso e ela sentia-lhe o hálito avinhado, fétido..... Que nojo.... Mas lembrava-se do telhado e pronto estava decidido. Falava com ele, depois logo se via o que ele grunhia.....
Passou pelo café e deu-lhe um vontade enorme de entrar e beber um, mas lembrou o telhado e engoliu a saliva e pronto, estava feito.... 
O dia passou a correr, não teve ganas de falar com o encarregado, falaria amanhã com o patrão, mal tocou a busa disparou para casa do Sr. Alfredo e chegou lá estavam à mesa a cear, que se sentasse e comesse uma sopinha, enquanto estava quente e lá lhe foi dizendo que afinal não era nada com o telhado, que até estava muito bem. Mas já tinha dito àmãe o que havia a fazer, era abrir uma fresta numa janela e assim, livrava-se da humidade. A Luisa agradeceu o convite mas escusou-se, estava com pressa para ir ter com a sua menina. Bem bonita a sua menina, também tem a quem sair se me dá licença..... A Luisa ficou um tanto embaraçada com o elogio, mas os olhos brilhavam, afinal , não eram preciso obras, e despediu-se educada mas decididamente. E partiu num galope para casa. feliz e contente com o desfecho deste assunto.....

                                      António Capucha

              Vila Franca de Xira, 30 de Dezembro de 2012 

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