Não vejo forma de evitar falar no assunto que desde ontem me mantém ocupado em emoções díspares e contraditórias entre si. Primeiro desejo esclarecer que penso que é meu dever de autor usar da mais completa honestidade para com os que fazem o favor de ler o que escrevo aqui. E que oportunidade é mais oportuna, passe a redundância, que revelar-mo-nos através das reacções que temos quando a vida nos pinta a cores fortes, acontecimentos marcantes. A nossa reacção a eles, define-nos sem margem para grandes erros. Revela-nos.... E embora isso possa parecer um abuso, é para mim um mecanismo através do qual expresso a minha honestidade enquanto autor. Trata-se de facto de um assunto particular. Mas não hesito em tornar público porque as reacções que desencadeou,percebo-o, revelam-me.....
Entremos na matéria! ontem a meio da tarde, o meu irmão Chinoca, telefonou-me, a dizer que o nosso pai tinha morrido. Desde então que a minha cabeça não pára, numa confusão de sentimentos que só visto. O meu lado racional dizia-me que era a ordem natural das coisas, que já era esperado, nada de novo! por outro lado comecei a rememorar o meu pai desde a minha infãncia até à fase aguda do cancro que o levou à morte. Por outro lado reflecti muito sobre os mistérios da vida e cheguei à conclusão Que o pobre desgraçado, embora tivesse o privilégio de ter tido condições únicas para ter um vidão, digamos assim, os seus muitos defeitos determinaram, tropeções constantes e infelicidade notória. Toda a vida foi um infeliz. Um homem cuja única meta era juntar dinheiro, de forma que refuto de anormal. Pois que não o juntava para comprar coisas que lhe dessem prazer. O prazer era só tê-lo, contemplá-lo. Saber-se senhor dele. Doentio ! Não concordam? Uma atitude sensata, inteligente, seria a do dinheiro servir para comprar coisas que nos fazem falta e/ou nos dão prazer. Essa perspectiva de fazer falta ou dar prazer era inexistente nele. Uma vida sem objectivos que fossem algo mais que juntar dinheiro. No entanto devemos considera-lo uma pessoa culta. Devorava livros. Mas parece que o enriquecimento humano esperado por causa disso, não se dava. Tratar-se ia de um simples passatempo? Pois quem souber que responda!
Passou ao lado da vida. sacrificou tudo ao seu maldito objectivo. Até a nós os seus próprios filhos, esposa e ele mesmo.
Quando era mais novo, testemunhei que o meu pai teria preparado "ene" jovens e menos jovens para o antigo exame de admissão aos antigos liçeus. Há inúmeras provas da sua inteligência superior. No entanto esbanjou todo este mérito, a troco de quase nada.
Pobre pai, penso constantemente. Muitos dariam o braço direito para possuir o que ele tinha à partida. Pequenas vilezas e várias minudências, fizeram com que se perdesse nos caminhos da vida.
Bem se pode dizer: Eis o homem que ao invés de superar os obstáculos da vida, foi atropelado por ela.
Morreu o meu pobre Pai.......Paz à sua alma.....
António Capucha
Montijo, 2 de Agosto de 2012
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