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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

o Sorriso.





Ela abriu-se num sorriso cândido e belo e ele machão, sedutor, e Ibérico, de cabelos no peito e cheiro a cavalo, ficou desarmado, a contar os segundos que faltavam para normalizar a respiração e a auto-confiança. Quando recuperou a presença d'espírito, virou-se ainda com os olhos em alvo, e de um salto, montou o ruço, que mordiscava umas ervitas ali cerca. O resto do dia andou como que hipnotizado. Olhava o Céu, e só via o sorriso dela, os rolos de nuvens eram um sorriso aberto, as árvores, as fontes, os regatos, tudo tinha os traços do sorriso dela. Cumprimentava toda a gente com quem se cruzava, uma vontade involuntária levava-o a ser gentil com tudo e todos, ao invés da distância que cultivava como sendo parte da personalidade que alardeava como complexa e sedutora, que achava ser a dele. Um simples sorriso, desmoronou toda a árdua construção que erguera desde a adolescência. Galante e bem falante, o "miudame", caía-lhe nos braços, como moscas na sopa, e ele claro, não se fazia rogado. Era um rapaz de sucesso. Um Casanova. S ó que desta feita a coisa correu-lhe às avessas. Fora ele que ficara vidrado, perdido em sonhos estrambólicos. e, coceiras miudinhas. O cavaleiro andante parou numa estalagem para se refrescar e refrescou-se mais que a conta, apanhou um pifo de estalo. Foi dali aos tombos até à casa onde era suposto estar a sua desinquietadora criatura e perdeu-se em loas e toadas galantes, ainda que ébrias. A mãe da moça airosa e sorridente atira-lhe pela janela o fétido conteúdo do vaso de noite. Pobre moço, come se não bastasse, Apaixonado , bêbado e a cheirar a merda. Rás'parta as hóstias..... 


                                António Capucha


                     Montijo,16 de Agosto de 2012

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