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Ao longe ao fundo da rua , não passava de um ponto
escuro no horizonte avermelhado daquele fim de tarde no bairro peiférico da
cidade. O ponto, engrossava, à medida que vinha na nossa direcção. Quando se
abeirou de nós, demos conta do porte da personagem. Um calmeirão p'raí d'um
metro e noventa, com uns bem medidos cento e cinquenta quilos de peso, e uma
alcunha a condizer: Zé Grande!!!! Cumprimentou-me com um aperto de mão e a
minha desapareceu no meio das dele, que mais pareciam raquetes de ping-pong.
Tinha singolarmente uma voz agradável e bem tímbrada,
doce mesmo. Pôs-me o braçalhão por cima do ombro, puxou-me contra si e
pergunta-me, então compadre o que o trás por cá? Nada de especial, respondi,
matar saudades! Saudades de quê? Insiste. Ora sei lá , de tudo e de nada. Sabes
como é? Com esta pergunta afastei um tudo nada, a perturbação de não saber
muito bem, o que de facto fazia ali, Os passos distraídos, levaram-me lá,
quando dei conta já estava quase a chegar. Dali fomos à tasca do Alberto poiso
habitual do Zé, boas tardes saudou, boas tardes, respoderam os clientes do
costume parando de beberricar, um poisou a navalha com que tirava lascas dum
queijinho de ovelha seco e cortava buchas de pão. A navalha recordou-me o
Ramelas o tal fuínha que retratei aqui há uns tempos neste blogue - podem
rememora-lo da seguinte forma, escrevam na barra "pesquizar neste
blogue": o Ramelas -. Perguntei ao Zé Grande o que havia sido feito do
Ramelas. Que tinha ido embora, estava a definhar de dia p'ra dia, cada vez mais
estranho, com um olhar amedrontado de doido e um dia desapareceu, O Zé Bruto
ainda o viu uma vez na cidade, parecia um mendigo, mas depois disso, noticia
nenhuma, eclipsou-se..... Pois, disse eu, não conseguiu ultrapassar aquela cena
de tu lhe teres tirado a naifa e humilhado daquela maneira. Qúé que eu podia
fazer ..... O tipo estava doido varrido ainda acabava por aleijar alguém,
justificou-se o Zé..... Absolutamente anuí...... Estava a ficar fora de
controlo, fizeste muito bem.....Óh Beto dá aí duas bejecas fresquinhas..... E o
Zé tira do bolso do casaco um naco de "muxama"d'atum. E com a naifa
tirada ao ramelas cortou duas pequenas lascas dizendo: toma é p'ra enxugar a
cerveja. Afinal era destas coisas que tinha saudades, concluí.....
António Capucha
Vila Franca de
Xira,20 de Outubro de 2012
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