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domingo, 21 de outubro de 2012

O zé Grande.



mucxama de atum
Ao longe ao fundo da rua , não passava de um ponto escuro no horizonte avermelhado daquele fim de tarde no bairro periférico da cidade. O ponto, engrossava, à medida que vinha na nossa direcção. Quando se abeirou de nós, demos conta do porte da personagem. Um calmeirão p'raí d'um metro e noventa, com uns bem medidos cento e cinquenta quilos de peso, e uma alcunha a condizer: Zé Grande!!!! Cumprimentou-me com um aperto de mão e a minha desapareceu no meio das dele, que mais pareciam raquetes de ping-pong.
Tinha singolarmente uma voz agradável e bem tímbrada, doce mesmo. Pôs-me o braçalhão por cima do ombro,  puxou-me contra si e pergunta-me, então compadre o que o trás por cá? Nada de especial, respondi, matar saudades! Saudades de quê? Insiste. Ora sei lá , de tudo e de nada. Sabes como é? Com esta pergunta afastei um tudo nada, a perturbação de não saber muito bem, o que de facto fazia ali, Os passos distraídos, levaram-me lá, quando dei conta já estava quase a chegar. Dali fomos à tasca do Alberto poiso habitual do Zé, boas tardes saudou, boas tardes, respoderam os clientes do costume parando de beberricar, um poisou a navalha com que tirava lascas dum queijinho de ovelha seco e cortava buchas de pão. A navalha recordou-me o Ramelas o tal fuínha que retratei aqui há uns tempos neste blogue - podem rememora-lo da seguinte forma, escrevam na barra "pesquizar neste blogue": o Ramelas -. Perguntei ao Zé Grande o que havia sido feito do Ramelas. Que tinha ido embora, estava a definhar de dia p'ra dia, cada vez mais estranho, com um olhar amedrontado de doido e um dia desapareceu, O Zé Bruto ainda o viu uma vez na cidade, parecia um mendigo, mas depois disso, noticia nenhuma, eclipsou-se..... Pois, disse eu, não conseguiu ultrapassar aquela cena de tu lhe teres tirado a naifa e humilhado daquela maneira. Qúé que eu podia fazer ..... O tipo estava doido varrido ainda acabava por aleijar alguém, justificou-se o Zé..... Absolutamente anuí...... Estava a ficar fora de controlo, fizeste muito bem.....Óh Beto dá aí duas bejecas fresquinhas..... E o Zé tira do bolso do casaco um naco de "muxama"d'atum. E com a naifa tirada ao ramelas cortou duas pequenas lascas dizendo: toma é p'ra enxugar a cerveja. Afinal era destas coisas que tinha saudades, concluí.....

                               António Capucha

          Vila Franca de Xira,20 de Outubro de 2012   

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