Igreja Matriz de Tinalhas
O
meu avô materno, que como já vos disse outras ocasiões, foi um figurão e tudo,
era um bem sucedido empresário rural, na
distante, no tempo e no espaço, Tinalhas.
Gozava
de muito prestígio lá na terra, era tido como honrado e probo para além de
herói nacional por ter combatido em La Lis durante a primeira guerra mundial. Era
muitas vezes ele que era mordomo das festas lá d’aldeia e era também ele que
dava o madeiro para arder no Natal frente à igreja matriz. No seio da família
era o Patriarca sereno e indiscutível .As suas rotinas eram bem vincadas repartiam-se
entre as suas duas funções. A de proprietário era sair todas as manhãs para a
ronda das propriedades, e a de Patriarca era voltar para o almoço ,para a sopa a ferver, deitar –lhe um copo de
vinho tinto para a temperar, e com a sua presença impor disciplina aos netos.
Pelo menos era assim que eu via as coisas, de mistura com outras coisas como
por exemplo a qualidade da fruta e de um modo geral do que saía dos meandros da
cozinha, onde moçoilas de braços nus batiam vigorosamente a massa do pão, que ficava a levedar um dia com uma cruz desenhada à mão sobre a massa Estes pequenos grandes detalhes marcavam a
religiosidade que norteava não só a casa do Patriarca como toda a aldeia. Mas
nós estávamos dispensados desses quid pro quos. Podíamos ser maraus á
vontadinha. E era-mos…..
Para
desgraça minha não fui garoto toda a vida e um belo dia quando estava na tropa
encontrei um moço lá da aldeia e claro pegámo-nos de conversa. Que foi parar
sem que nos tenhamos dado conta ao meu avô. Disse-me então o rapaz, que o meu
avô tinha fama entre os habitantes da aldeia de ser mulherengo, daqueles
praticantes e tudo. Ora sobre tal assunto havia um silêncio tumular em família,
nem era tabu , pura e simplesmente não existia. Fiquei bastante surpreendido,
mas depois pensei: - Que raio de vantagem podia ter o moço em vir-me agora a
inventar uma “estória” dessas. Só podia ser verdade!!!! Também não era nada do
outro mundo.. O que mais p’raí há são casos desses…. Ora o santarrão do meu avô tinha uma doença de
que eu numca ouvira falar, era a mesma que atormentava Sua Santidade o Papa,
que na altura era um tal Pio XII, que de
pio só tinha a alcunha… e que achaque era esse: a A doença dos soluços. Se o
papa a tinha o patriarca só podia tê-la também. Nesta altura é preciso lembrar
que ele tinha três grandes propriedades, a saber: O Vale Covino, a Mingrocha e
a Tapada Nova, que ficava longe já nas faldas da serra da Gardunha onde havia
lobos e tudo.
O
Vale Covino tinha uma vinha de uvas doces como o mel, com as quais o avô Zé Vaz fazia um vinho branco que
todos os anos ganhava o prémio do concurso de vinhos de Castelo Branco, A
generosa Mingrocha ficava um pouco mais longe, e dava-nos a sua água fresquíssima
e boa e a sua fruta docíssima. Quanto à Tapada Nova era a aquisição mais recente, a
maior de todas e tinha um caseiro cuja mulher dava alegadamente umas baldas ao
Zé Vaz, Que isto dizia era o filho da criatura que a troco de uns pirolitos na
tasca da aldeia explicava aos presentes, mImando grotescamente como era o Sr.
Zé Vaz a brincar com a mãe dele.
Dos
anais que relatam a morte do meu avô, consta que: tinha sido acometido por um
ataque de soluços quando estava na Tapada Nova, que ainda montou a égua e
voltou para casa onde veio a falecer. Eu já ouvi chamar-lhe muitas coisas, mas
confesso que: Ataque de soluços è a primeira vez que ouço….
Não
quero de modo algum manchar o nome do meu avô materno, e de forma alguma me
atrevo a julga-lo caso estas conclusões sejam verdadeiras.Também não lhe dou importância
em demasia. Verdade vardadinha é que o avô Zé Vaz era um homem bom, que merece
todo o meu respeito e sob a sua memória me curvo. Solenemente e com amor…..
Só que era um tema demasiado bom para trazer aqui ao blogue.
E pronto cá está ele.
António Capucha
Montijo, 12 de Julho de 2012
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