Podemos inventar umas quantas coisas, mantê-las durante um certo tempo, com um indice de verosimilhança aceitável. Manter uma vida paralela, inventada e sustentada, durante toda a vida é impossível. Uma coisa é simular um sentimento, outra bem diferente é ter só sentimentos dessimulados, falsos, fabricados, não é humano. Quer-se dizer, eu não me estou a ver nesses fados. Não sei mesmo se alguém o consegue. Sob pena de deixar de ser gente. Acho que temos que ter sempre algo de genuíno, de autêntico. Por vezes temos é que vasculhar bem se queremos descobrir onde reside essa autenticidade. Os actores ao contrário do que muito boa gente pensa, não dissimulam, nem imitam, nem sequer fazem de conta. Tudo o que representam passa por eles, têm que ter algo de semelhante na sua memória afectiva. E o que é isso? É nem mais nem menos que terem em memória os sentimentos que certa realidade suscitou, embora as peripécias estejam por vezes esquecidas ou embutidas entre uma amalgama de "estórias", os sentimentos podem ser reactivados porque estão bem presentes. Sei bem do que falo, fui modestamente actor de teatro amador, e tenho bem presente os mecanismos que me levaram a assumir determinada personagem. As análises que nos levaram à composição de uma personagem, são algo de grande riqueza e intensidade emocional. E essa riqueza recai sobre nós, ficamos seres mais completos. Mas isto é daquelas coisas, só fazendo se pode avaliar disso. Daqui do alto desta valência que sei seguramente sabida, desafio todo vós, estimados leitores, a terem um experiência dramatúrgica e vão ver que se sentirão mais ricos. Não se deixem amedrontar pelas aparências, pelos estatutos que são conferidos aos actores. Isso é o lado falso da questão... Não se deixem enganar.....
António Capucha
Vila Franca de Xira, 7 de Fevereiro de 2013
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