Endereço do blogue........peroracao.blogspot.com

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O adufe...




Várias coisas se entrecruzam nas lembranças recentes da minha mãe. Entre elas uma mágua sem remissão de nunca a ter levado à senhora do Almortão. Estive tantas vezes lá perto que não encontro perdão. A Senhora do Almortão, é um pequeno santuário ao pé de Idanha-a-Nova, na região de origem da minha mãe. E ela nunca lá foi, embora fosse sua vontade lá ir. mas por isto ou por aquilo, nunca lá foi. Acredito que tivesse sacrificado esse desejo, em nome de nos atender aos nossos. A minha mãe era assim, uma vida inteira dedicada aos outros, Sobretudo à família. E eu não fui capaz de a levar até as suas raizes.... Tenho sempre a ressoar a cantiga da Senhora do Almortão e o seu troar de adufes. Das suas coisas, coube-me entre outras o seu próprio adufe. Basta-me olha-lo para sentir um aperto no coração, e rememorar mil uma "estórias" de encantar. O adufe é um instrumento de percurssão tocado pelas mulheres, que assim acompanhavam as modas que cantavam em grupo ou a solo. É de facto dificil de tocar bem, requer mãos habituadas a bordar. As armas do meu adufe /são de pau de laranjeira / quem quiser tocar com ele / há-de ter a mão ligeira / há-de ter a mão ligeira.......
Era uma alegria ver  o contentamento dela  a cantar e troar o seu adufe, fosse uma moda brejeira à Santa da sua aldeia, a Raínha Santa Isabel, ou os cânticos de Natal, que alegria, até os olhos se lhe riam. Hoje os meus olhos choram, não tanto de tristeza, mas de saudade, numa mistura com remorso de coisas que me esqueci de fazer, em vida dela. É uma mistura tal que por muito sovada que seja jamais será massa de filhós. Que pena, que tristeza......

                                              António Capucha

                           Vila Franca de Xira, 28 de Fevereiro de "013  

Sem comentários: