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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sortelha




Por laxismo, acho eu, nunca vos contei a "estória" da minha estadia em Sortelha, que dizem ter sido Aldeia de bruxas. Estive por lá quase uma semana e não esgotei o manancial de eventuais descobertas possíveis, naquela aldeia da Beira interior. Tive um contacto telefónico com uma operadora turística local, fizemos assim como que uma pré-reserva e partimos. Chegámos às suas imediações pouco depois da hora de almoço, e os restaurantes já não serviam. De modo que foi mesmo ali, numa pizaria que matamos a fome. Bebi um vinho da região o "pedra d'urso". De barriguinha aconchegada, fizemos os restantes dez quilómetros que nos separavam do destino. Demos com a casa e conhecemos a sua dona, Uma senhora espanhola de origem nobre e simpatiqíssima. Tinha adquirido umas casas que recuperou dentro das muralhas e montou e geria o negócio com mestria a sabedoria. Deu-nos bastante literatura sobre a terra e vendeu-me um livro sobre a terra do Ferro. E mandou uma empregada tratar de nós, lá fomos com ela e mal entrámos o arco de entrada principal abrimos a boca de espanto e só a fechamos quando nos viémos embora. A casa onde ficámos era um espanto, Junto ao largo do pelourinho, e da Junta de freguesia, toda em pedra granítica e com uma janela no piso térreo e duas mais pequenas no piso superior. O quarto principal que ficou para a Nita e os meninos, tinha como parede interior um rochedo. assim em bruto, e, um pequeno poial ante a janelinha que mais parecia um postigo. Eu fiquei a dormir no piso debaixo, numa coisa que mais parecia um nicho funerário esculpido na rocha, que outra coisa. Mas dormi bem.... Naquele tempo não havia muita coisa que me pudesse tirar o sono... Cozinhávamos , isto é, eu cozinhava, numa cozinha embutida num móvel rústico da sala, mas poucas vezes, o mais delas íamos, a um restaurante na Aldeia fora das muralhas. Uma vez eles, não quiseram jantar, comeram umas sandes em casa, só eu é que não prescindi de uma refeição em regra. e fui sozinho à parte baixa da Aldeia, e bati-me com um belo bife e voltei para cima, a cantar o tiro-liro, e a fazer mais curvas que as que tinha o caminho. O nosso dia-a-dia era dar grandes passeios pela serra o carro parado. Primeiro fazendo o reconhecimento dentro das muralhas  do Castelo. que era magnífico.Outras a explorar a serra. Lembro-me de um passeio em que demos com umas silvas enormes que tinham umas amoras docissímas e muito grandes, apanhámos umas quantas e levámos para casa onde eu fiz um compota de amora que ficou de se lamber os beiços. Nunca tinha visto amoras tão grandes. Mas o verdadeiro acontecimento. Aquele que passou a ser o acontecimento ligado a Sortelha e que não seria possível noutro sítio, foi quando o Francisco, na altura um batatinha pequeno e ladino, saiu da cama bem cedo e Foi ao quintal das traseiras da casa que davam para a muralha e desatou num berreiro a acordar a mãe, que estava tudo a arder. Óh mãe, óh mãe, está tudo a arder... A Nita esbaforida, foi ver de que se tratava espreitou pela porta envidraçada do quintal viu o que era e foi acordar-me para eu não perder o espectáculo. Uma neblina densíssima e leitosa galgava por cima da muralha e escorria para o quintal onde aí sim, se expandia e dessipava. Num tal "havera" visto, que coisa explendorosa. A quietude do ar, era a razão do fenómeno. Abaixo da muralha não se via um boi. O vale uns cem metros abaixo era um mar de branco ligeiramente ondulante. Que coisa, que magnífico. Durou antes de se dissipar uma boa meia hora. Foi o tempo que durou a hipnose. O Francisco voltou a lutar com os sacanas dos Mouros que queriam retomar a praça. E nós voltamos à nossas lides de organizar o passeio da tarde.

                                           António Capucha

                      Vila Franca de Xira, 27 de Novembro de 2012  

                      

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