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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Primeiro de Maio...




Data duplamente histórica para mim. Desde sempre, o dia Internacional do Trabalhador.... E mais pessoalmente para mim, em mil novecentos e setenta e quatro nesta mesma data teve inicio a minha participação no PREC (processo revolucionário em curso)....
Resumindo a coisa foi assim: Na altura estava eu na tropa em Lagos, quando, em dezasseis de Março, se dá a intentona das Caldas... Os meus antigos camaradas d'armas resolveram sair e avançar sobre Lisboa. Em plena auto estrada são emboscados pele GNR, e acabaram todos presos. O RI 5, ficou sem graduados. apenas ficaram o Comandante, o 2º Comandante, alguns oficiais superiores e um idiota de um Tenente e a chicalhada e os prontos.... Não havia pois quem desse instrução à maçaricada.... De todo o país pediram voluntários para refazer os quadros de pessoal das Caldas. Ora eu estava desterrado em Lagos e não hesitei, sempre ficava mais perto de casa. fui para Caldas mas logo me arrependi. O quartel estava vazio... Os prontos que me conheciam agarravam-se a mim a chorar a prisão dos nossos camaradas. e todos os dias chegavam alferes e furrieis de todo o lado... Ninguém se conhecia. e foi assim que o vinte cinco de Abril, nos encontrou. Nesse dia olhávamos uns para os outros, desconfiados, até que um alferes rompeu o silêncio e disse. Eu sou do MFA, e quem quiser que me siga, vamos prender o Comando. E fomos prendemos o Comandante e quem se pôs ao lado dele e tomamos conta do quartel. mas recebemos ordens do comando das FAs, para ficarmos quietos, uma espécie de força de reserva.... Lá para o dia vinte e sete ou vinte e oito foram libertados os nossos camaradas, e foi uma alegra enorme, os que tinham entretanto chegado, foram devolvidos às suas unidades, menos eu, a quem me convidaram a ficar. E no dia primeiro de Maio fomos destacados para guarnecer o forte de Peniche, e lá vou eu... Como era dos mais velhos e da confiança do Capitão, fiquei com cinco soldados açorianos a ocupar a sede da PIDE. Com ordens para não deixar entrar ninguém. O que não cumpri.... Andei pelos cafés e pela então vila à procura de quem fosse comprovadamente da CDE, para darmos uma volta aos arquivos da PIDE, a ver o que descobriamos... Encontrei um professor, que toda a gente conhecida afirmou ser ele da CDE, e numa noite demos a volta aquilo tudo. Acabamos por descobrir uns informadores, e ele tomou as suas notas. Não sei que desenvolvimentos se desenrolaram a partir daí. Um belo dia fui ao forte buscar víveres e o Capitão engatou-me para ir com um Médico a uma camarata dos pides, porque um deles tinha tido um ataque cardíaco. Armei-me até aos dentes, não demais, não fossem eles tentar e conseguir dominar-me e de posse das armas, tentar uma fuga. Entrei com o Dr. e fiquei à porta com a G3 engatilhada e bala na câmara, Que não Sr. Furriel esteja à vontade, nós não somos agentes, somos motoristas e escritorários.... Pois tá bem .... Todos ao fundo e calados.... E devia ter um ar determinado porque eles me obedeceram.... Manhosos!!! E foi assim que me iniciei nestas coisas do PREC...Deixei a tropa num belo dia de Agosto.... E continuei a luta pelos direitos civis e a organização popular.... Só me pararam com ameaças de despedimento do trabalho, e o  que mais desse para me acontecer. Voltara o medo e as ameaças.... Até hoje....

                                               António Capucha

                               Vila Franca de Xira, 1 de Maio de 2013

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